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Momento criança

Lucila Cano

05/10/2012 10h52Atualizada em 05/10/2012 10h52

 

Estela, três anos, se expressa como gente grande. Conversa com desenvoltura, pronuncia a maioria das palavras corretamente e tem bom vocabulário para a sua idade. Já desenha letras e sabe relacioná-las com os nomes das pessoas à sua volta. Adora dedilhar o piano de brinquedo e tem certa noção de ritmo com outros brinquedos musicais: a gaita, a flauta e os tambores. Filha de pai músico, Estela pode ser herdeira de algum dote artístico. 

Olavo, três anos e dois meses a mais que Estela, quase não fala. Vive grudado na mãe, é genioso e agitado. Gosta de fazer bagunça, quebrar coisas e jogar brinquedos para o alto. O pediatra diz que está tudo em ordem com ele e que meninos são mais preguiçosos que as meninas. Por isso, Olavo tarda a falar.

Estela e Olavo são de famílias distintas e sequer estão na mesma escola. Em comum, têm quase a mesma idade e vivem na cidade grande. Seus pais têm formação universitária, são de classe média, trabalham e têm outros filhos, mais velhos.

Bom aproveitamento

Embora ambos sejam crianças carinhosas e tenham individualidades que devam ser respeitadas, o que faz com que Estela tenha mais progresso intelectual que Olavo não me parece ser só a herança musical do pai dela, nem a preguiça atribuída ao gênero masculino. 

Não sou psicóloga, apenas observadora. De longe, acredito que Olavo teria uma infância muito mais rica do que essa que experimenta se recebesse os mesmos estímulos que a família de Estela dedica a ela. Não falo de mais brinquedos, nem do tempo que a criança passa com a família. Falo do bom aproveitamento do tempo que se passa junto. 

Não basta ficar por perto, só por ficar, mas fazendo qualquer outra coisa. É preciso dar atenção, conversar, explicar significados e propor descobertas à criança. Para isso, vale ouvir música e cantarolar canções junto. Vale dançar e brincar. Vale, e muito, ler para a criança, interpretar histórias com ela, criar histórias de improviso, para que a imaginação siga em frente, além do livro. 

Às vezes, uma bolinha de pano se torna mais valiosa do que qualquer brinquedo para uma criança, porque o adulto ao lado dela sabe participar de um momento único.

Curiosamente, com outras histórias e múltiplas formas de contar e participar, essa atenção tão necessária para as crianças é a mesma pela qual carecem os idosos. Também é aquela que aproxima adultos e reforça laços de estima e de confiança.

Sete milhões de livros

Desde 2010, o programa Itaú Criança já distribuiu mais de 22 milhões de livros infantis. A meta de 2012, a partir deste início de outubro e até o final de novembro, é distribuir 7 milhões de livros por meio de uma campanha nacional de incentivo à leitura para crianças.

Os livros foram especialmente selecionados por especialistas em literatura infantil e são destinados a crianças de até cinco anos.

Pais, educadores, voluntários de instituições sociais e outros interessados em participar dessa ação pró-leitura para crianças podem se cadastrar no site www.itau.com.br/itaucrianca. Os livros serão enviados gratuitamente pelos Correios em até 20 dias.

Colaboradores do Itaú em todo o país foram convidados a atuar como voluntários em escolas públicas, ONGs, bibliotecas comunitárias e creches próximas de suas localidades. Para as organizações que aderirem à mobilização, o programa oferecerá seis mil Bibliotecas Itaú Criança. Cada biblioteca é composta por 100 títulos destinados aos públicos infanto-juvenil e adulto.

A campanha de incentivo à leitura para as crianças foi precedida de uma pesquisa da Fundação Itaú Social com o Datafolha junto a 2.074 pessoas em 133 municípios do país. Para 96% dos entrevistados, incentivar crianças de até cinco anos a gostar de ler é importante (20%) ou muito importante (76%).

No entanto, apenas 37% dos entrevistados disseram que costumam ler para as crianças no seu dia a dia. Perguntados sobre a sua própria infância, cerca de quatro a cada dez participantes disseram que os pais foram seus principais leitores.

 

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.