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Aprender, ensinar e reaplicar

Lucila Cano

16/11/2012 06h00

O prazo para inscrições no Concurso Aprender e Ensinar foi prorrogado até 26 de novembro. Destinado a professores, o concurso é uma iniciativa da Fundação Banco do Brasil em parceria com a revista Fórum (www.aprenderensinarts.com.br) para difundir o conceito de tecnologias sociais.

Nesta terceira edição, o certame premiará seis professores de nível fundamental e médio – um de cada região do país – e um do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. Outros 64 finalistas serão convidados para o seminário Tecnologia Social na Educação, a ser realizado em fevereiro do próximo ano, além de receberem prêmios e terem seus trabalhos divulgados.

Em entrevista para a jornalista Andréia Peres (Desafios da Sustentabilidade: Tecnologia Social no foco dos jornais brasileiros, Editora Cortez, 2006), Marcio Schiavo, especialista em Marketing Social e idealizador do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, atribui a criação do conceito de tecnologia social a Mahatma Ghandi, na segunda década do século passado.

Nesse relato para o 10º. volume da série Mídia e Mobilização Social, da Andi, com apoio da Fundação Banco do Brasil e Petrobras, Schiavo faz ampla e consistente análise a respeito da tecnologia social, sua evolução e aplicação no Brasil.

Palavra-chave

O conceito de tecnologia social conquistou visibilidade no país a partir de 2001, quando a Fundação Banco do Brasil lançou o seu prêmio. O exemplo influenciou outras instituições e até órgãos do governo.

Transformação é a palavra-chave para definir a tecnologia social e a maneira como ela se desenvolve. Os indicadores que a norteiam são soluções simples, que sejam de baixo custo, tenham a participação da comunidade e possam ser reaplicadas em outras comunidades.

Essas soluções devem atingir problemas originados por necessidades como alimentação, educação, habitação, saúde, recursos hídricos e energia, entre tantas outras. Elas têm o poder de transformar uma comunidade para melhor e um dos seus grandes trunfos está nas mãos dos professores.

Tecnologia premiada na edição de 2010 do Concurso Aprender e Ensinar evidencia isso. A professora Marilúcia Galvão propôs aos alunos do Polo de Educação pelo Trabalho Fernando Azevedo (bairro Santa Cruz, RJ) a coleta de materiais recicláveis em troca de “moedas verdes”. Assim surgiu o projeto “Banco Verde e Bazar Verde”.

O “banco” criado dentro da escola abriu contas para a movimentação dos alunos. O valor em “moedas” acumulado por cada um deles passou a ser utilizado para compras de artigos escolares e de papelaria no “bazar” igualmente instalado na escola.

Além de fazer com que os estudantes atentassem para a importância da coleta de recicláveis e preservação do meio ambiente, o projeto valorizou a participação comunitária, recompensou o trabalho e incentivou o uso responsável do dinheiro.

Políticas públicas

As tecnologias sociais mais conhecidas acabaram se transformando em políticas públicas. Algumas, inclusive, foram adotadas como políticas governamentais. É o caso do Método Mãe Canguru, criado no Instituto Materno Infantil de Bogotá, Colômbia, em 1978, no qual a mãe substitui a incubadora para o bebê prematuro.

Assim como a mãe canguru, que carrega o filhote junto ao corpo em uma bolsa, a mãe acolhe o seu bebê, vestido com uma fralda apenas, em contato direto com o seu corpo, transmitindo-lhe calor em períodos de 20 minutos a quatro horas por dia.

O método conquistou projeção internacional e é praticado em vários países. No Brasil, começou a ser adotado em 1997 e foi oficializado como política pública pelo Ministério da Saúde anos depois.

Outros exemplos de tecnologias sociais são as cisternas que coletam água da chuva para abastecer as populações nordestinas nos períodos de seca, a farinha multimistura, distribuída pela Pastoral da Criança no combate à desnutrição infantil, e o soro caseiro contra a desidratação, também universalizado pela Pastoral.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.