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Aplicações sustentáveis

Lucila Cano

09/12/2012 16h14

Em 29 de novembro de 2012, a BM&F Bovespa anunciou a composição de sua oitava carteira do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) criado em dezembro de 2005.

A nova carteira vigorará de 7 de janeiro de 2013 a 3 de janeiro de 2014 com 51 ações de 37 companhias, as quais representam 16 setores e somam R$ 1,07 trilhão em valor de mercado. Isso corresponde a 44,81% do total do valor das companhias com ações negociadas na Bolsa.

Essas companhias reúnem características imprescindíveis para atender aos requisitos do ISE, como, por exemplo: ter compromisso com o desenvolvimento sustentável formalmente inserido em suas estratégias; publicar esse compromisso na área de livre acesso dos seus websites e ter publicado Relatório de Sustentabilidade no último ano.

Se isso parece pouco para quem duvida do quanto a sustentabilidade contribui para elevar o valor de empresas e suas respectivas ações no mercado, um breve retrospecto pode ser útil.

Bancos foram pioneiros

Em meados de 2001, o Unibanco – então um dos cinco principais bancos do país – contratou um analista para estudo do comportamento social e ambiental das companhias do mercado. A informação foi dada em entrevista por um diretor da instituição financeira, ao referir-se a consultas de investidores interessados em aplicações socialmente responsáveis.

Na época, mal se falava em sustentabilidade, mas responsabilidade social e responsabilidade ambiental já andavam juntas. No entanto, o ceticismo de alguns “experts” financeiros indicava que o investidor brasileiro não tinha cultura para analisar o valor dessas informações.

Por sinal, justiça seja feita, HSBC, Unibanco (hoje incorporado pelo Itaú) e ABN-Amro Real (depois incorporado pelo Santander) foram dos primeiros a visualizar o potencial da sustentabilidade no mercado financeiro.

Ainda em 2001, o mercado se referia aos fundos de sustentabilidade como fundos éticos e a imprensa especializada em economia e finanças dedicava mais espaço ao assunto, a despeito de os exemplos ainda serem do exterior. Quadro publicado no jornal Valor Econômico (4/4/2001), em matéria traduzida do Financial Times, listava os fundos éticos por país na Europa: Reino Unido (54), Suécia (42), Suíça (22), França (14), Bélgica (14), Alemanha (11), Itália (5), Noruega (2), Finlândia (1).

Fundos de sustentabilidade

Os fundos de sustentabilidade se diferenciam dos demais por investir em ações de empresas engajadas com a responsabilidade social, ambiental e a governança corporativa. Por isso mesmo, quando surgiram nos EUA, nos anos 1980, passaram a ser identificados pela sigla SRI (Socially Responsible Investments).

Quando um investidor procura uma instituição financeira para investir em fundos de sustentabilidade sabe que ações de empresas de tabaco, álcool, jogos de azar e armamentos, mais as que compactuam com o trabalho escravo ou qualquer forma de discriminação, ficam fora da lista. É uma questão de princípios e de conscientização de valores impulsionando um novo jeito de investir.

O advento do ISE pela Bolsa de Valores de São Paulo, com metodologia a cargo do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas, tem o mérito de incentivar a adoção de boas práticas no meio empresarial. Não se trata apenas de um referencial para os investidores que acreditam e apostam na força da sustentabilidade. É um modelo para as empresas que se espelham nas campeãs de admiração quanto a solidez e imagem.

Assim, seguindo o caminho da evolução, no início de 2007, o capital aplicado em fundos de sustentabilidade no Brasil era da ordem de R$ 500 milhões.

Em março de 2008, a Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais) estimava que os fundos de sustentabilidade na Bovespa deveriam somar um montante de R$ 2 bilhões até o final daquele ano.

O que nos reserva 2013? Vamos aguardar para ver como a sustentabilidade irá revolucionar o mundo e, inclusive, as previsões dos analistas financeiros.


*Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.