Topo

Hora de virar a página

Lucila Cano

28/12/2012 06h00

As notícias de final de ano nos dão conta de que na Rússia o inverno rigoroso já matou mais de uma centena de pessoas. A temperatura chegou a espantosos 50º.C negativos. O frio que mata e paralisa o cotidiano das pessoas se estende por outros países do hemisfério norte. Na Inglaterra, por exemplo, a natureza se rebela na forma de uma chuva persistente que inunda regiões.

Do lado de baixo do Equador, o suor foi liberado assim como na canção que Chico Buarque compôs décadas atrás. Nesta época, não pela negação dos pecados, mas pela reincidência deles, até Estados considerados os mais frios do Brasil enfrentam calor infernal. Rio Grande do Sul e Santa Catarina sofrem com temperaturas na faixa dos 40º.C positivos.

A seca do Nordeste alimenta o noticiário há meses. A história se repete e se agrava, ano após ano. Além da explicação dos fenômenos pelos institutos de meteorologia e da fé de um povo que pede a Deus que mande água para o sertão, não há mais nada a fazer?

Bons votos

Reafirmamos a esperança por um tempo melhor a cada ano que se encerra, mesmo que a página do calendário não vire na mesma data para todo mundo. O que importa para todos é a concretização de desejos que eliminem, ou ao menos reduzam, as mazelas que sofremos.

Em paralelo às retrospectivas do ano que passou, os bons votos vêm se transformando em anseios de boas notícias: para que povos cessem as guerras; governos combatam a miséria e as epidemias; cientistas descubram a cura para as doenças fatais; os direitos humanos sejam respeitados e assim por diante. 

Desde que os desastres ambientais se fizeram mais frequentes, a sustentabilidade ganhou importância no rol dos desejos de fim de ano. Lá se vão oito anos do tsunami que atingiu diversos países da Ásia, matou 100 mil pessoas, ou mais, e deixou milhões de desabrigados no 29 de dezembro de 2004. Esse não foi o primeiro, nem o último tsunami a abalar o mundo. Mas, depois dele, a palavra se tornou corriqueira, inclusive no cenário político. 

Muitas outras catástrofes ambientais ocorreram no período, inclusive no Brasil. Sinal de alerta para que, além de rezar e fazer bons votos para um próximo ano, todos façam alguma coisa efetiva pela preservação da natureza. 

Exemplos da Rio+20

Em 2012, o Brasil foi o anfitrião da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável que recebeu delegações de 193 países e reuniu de 30 mil a 50 mil pessoas.

Por não produzir um documento oficial decisivo para a saúde do planeta, a conferência recebeu muitas críticas. Serviu de palco, no entanto, para ideias e sugestões prontas para serem postas em prática. A maioria delas veio dos “Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável”, uma série de encontros com representantes da sociedade civil, comunidade acadêmica e científica e setor privado.

No fórum sobre cidades sustentáveis, Jaime Lerner, ex-governador do Paraná, lembrou que as cidades respondem por 75% das emissões de carbono e que a metade desse percentual vem dos carros. Segundo ele, “não é difícil ser sustentável se você usa pouco o carro, separa o lixo e mora perto do trabalho”.

O debate sobre oceanos revelou que 80% do lixo do mundo vão para o mar e que os oceanos absorvem um terço das emissões de gás carbônico. Assim ocorre a acidificação dos mares, cuja consequência é a revolta dos oceanos. Como tudo na natureza, a explicação é clara: ação gera reação.

O acesso à energia é um direito de todos. Para tanto, a conjugação de eficiência energética com energia renovável poderia ser solução mais simples e sustentável em substituição a obras onerosas e prejudiciais ao meio ambiente como usinas nucleares, termoelétricas e hidrelétricas.

Como o mundo não acabou em 2012, temos um ano inteiro pela frente. Que tal nos darmos a oportunidade de fazer alguma coisa que funcione para a natureza? Afinal, somos parte indissolúvel dela.

Feliz ano novo a todos.

 

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.