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64 milhões em ação

Lucila Cano

14/01/2013 12h37

A terceira idade está em pauta. No cinema, um dos bons filmes em cartaz no final do ano foi a produção francesa “E se vivêssemos todos juntos?”. Na televisão, a Globo apresentou o especial “Doce de mãe” e, segundo li nos jornais desta semana, já prepara uma série sobre o tema do envelhecimento para este ano. O programa “Fantástico” também anuncia um novo quadro dedicado aos aposentados.

Na vida prática, as academias de ginástica constatam o ingresso crescente de pessoas com mais de 60 anos e desenvolvem treinamentos específicos para elas. Por sinal, é no setor de serviços que devem surgir cada vez mais negócios direcionados aos idosos.

Falo em serviços de maneira generalizada. As clínicas e os convênios de saúde, por exemplo, estão atentos ao envelhecimento da população. Mensalmente recebo informativos do meu convênio com convites para palestras gratuitas sobre os males que mais afetam os idosos; cursos de ginástica, dança e artes orientais, como o Tai Chi Chuan; dicas de passeios, leituras e viagens.

Fonte de oportunidades

De uma clínica de oftalmologia recebi informações muito interessantes sobre os cuidados que os idosos devem ter ao dirigir à noite. Na rede hoteleira, além das unidades criadas exclusivamente para moradia temporária de idosos, algumas empresas começam a equipar parte dos seus apartamentos com barras e iluminação adequada, entre outros itens.

Não por acaso, a fonte de oportunidades voltadas para a terceira idade parece inesgotável. O mundo envelhece rapidamente e a previsão do UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas) é de que a população com mais de 60 anos atinja a marca de 1 bilhão dentro dos próximos dez anos. Para 2050, a previsão do órgão da ONU é que esse número chegue a 2 bilhões. Nessa perspectiva, os idosos serão 20% da população mundial e superarão o número de jovens com até 15 anos de idade.

Diz o UNFPA que cerca de 66% da população com idade superior a 60 anos vive em países em desenvolvimento. Para o Brasil, a previsão é de 64 milhões de pessoas com mais de 60 anos até 2050.

Esse número representará 30% da população total do país. A exemplo do que ocorre atualmente, trata-se de significativo contingente de pessoas capazes de produzir, gerar rendar, consumir, pagar impostos e movimentar a economia nacional.

A Pnad 2011 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada em setembro de 2012, registrou cerca de 50 milhões de pessoas com mais de 18 anos fora do mercado de trabalho no país. Sem dúvida, grande número de idosos contribui financeiramente para a manutenção de famílias com desempregados mais jovens, quer seja por meio da aposentadoria, quer seja pelo retorno ao mercado.

Palavra-chave

Contra o desequilíbrio que bem ilustra a situação dos países em desenvolvimento em diversos quesitos, como a condição econômica, a falta de acesso ao saneamento básico, à saúde e a moradias dignas, educação também é a palavra-chave para o trato com o envelhecimento populacional.

Sem educação crianças e jovens não despontam para o pleno desenvolvimento físico e intelectual, não acompanham a evolução do mundo globalizado e veem cada vez mais estreitados os caminhos que levam à competição por empregos de qualidade.

Sem educação, aqueles que atingiram o amadurecimento dos 60 ou mais não serão capazes de aceitar as mudanças do envelhecimento, nem de explorar a experiência adquirida ao longo dos anos para viver mais e melhor.

Sem educação em ambas as pontas da vida, o preconceito tomará o lugar do desenvolvimento compartilhado entre gerações e ficaremos sujeitos a sérios riscos de oportunidades perdidas. Com a perspectiva de 64 milhões de idosos em ação, espero não chegarmos à necessidade de cotas para a terceira idade.


* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.