Vestir azul
A primeira semana de abril cedeu amplo espaço para iniciativas de conscientização sobre o autismo. Com data mundial instituída pela ONU para o dia 2 de abril e a lei 12.764, chancelada no Brasil em 27 de dezembro de 2012, o autismo angariou notícias. Foi merecedor de artigos, reportagens, discussões, mobilização pelas redes sociais, pessoas e monumentos vestidos de azul. Importante, mas não o suficiente.
Alguns temas, em especial os que tratam da inclusão social, precisam ser incorporados com frequência ao noticiário e mais: precisam ser debatidos e defendidos pela sociedade. O registro de datas mundiais cumpre o papel de alerta, mas, depois de algum tempo, cai no esquecimento (a não ser daqueles que de fato vivenciam os problemas). Novos registros substituem os anteriores e assim se passa mais um ano de muitos registros e poucas práticas.
Avanços existem, sem dúvida, mas vagarosos. Para que a inclusão social, por exemplo, passe do estado de discurso para o estado de ação efetiva ainda falta muito chão.
Em nome da mãe
A lei 12.764/2012 proposta pelo senador Paulo Paim, embora tenha sofrido dois vetos da presidente da República, significou um avanço para os quase dois milhões de portadores de Autismo no país. A partir dela, os autistas passaram a ter os mesmos benefícios legais das pessoas com deficiência.
Assim, fica assegurado o acesso a serviços de saúde, diagnóstico precoce, atendimento multiprofissional, nutrição adequada, terapia nutricional, medicamentos, informações e orientações para diagnóstico e tratamento. Também fica garantido o acesso à educação e ao ensino profissionalizante, à moradia, ao mercado de trabalho, à previdência e à assistência social.
A lei ficou conhecida como lei Berenice Piana, em homenagem a uma mãe que lutou incansavelmente pelos direitos de seu filho autista e essa menção é significativa.
Lado a lado, não se distingue quem é o portador de Autismo entre duas crianças na mesma faixa etária e com as mesmas características físicas. O Autismo não escolhe raça, nem classe social. Incide mais entre meninos do que entre meninas e, aparentemente, não se expõe.
Na maioria das vezes, o Autismo é silencioso, e é o silêncio dos pais o maior entrave para um diagnóstico precoce e controle da doença. Eles se negam a reconhecer que alguma coisa é diferente no comportamento de seus filhos e procuram desculpas para retardar uma atitude.
No entanto, é na família que o autista encontra o amparo necessário para se descobrir como indivíduo capaz de aprender, de empreender e de participar ativamente de uma vida sem exclusões.
Detectar, amar e cuidar
O Autismo é um distúrbio neurológico que se apresenta em diferentes níveis. Alguns autistas podem ser muito inteligentes, outros podem apresentar retardo mental. O mais importante é não ter vergonha de ter um filho autista. Ele pode trazer para uma família muito mais alegrias do que um filho considerado normal.
Geralmente, o Autismo se manifesta nos dois ou três primeiros anos de vida, quando os pais devem estar muito próximos e, portanto, atentos ao comportamento de seus filhos.
Como o distúrbio atrapalha a comunicação e dificulta a verbalização da criança, ela fica muito quieta. Isso faz com que muitos, erroneamente, digam que o “autista vive em outro mundo”.
Alguns sinais desse distanciamento são a falta de atenção; a indiferença às pessoas; o não atendimento quando chamado pelo nome, como se tivesse surdez; pouco contato de olhar; crises de birra; fixação em alguns objetos; não falar por volta dos dois anos de idade.
Se você tem um filho, ou conhece alguma criança com uma ou mais dessas características, procure um médico especialista. O Autismo não é de fácil identificação e, muitas vezes, o diagnóstico preciso demanda a consulta a vários especialistas, como fonoaudiólogos e psicólogos.
No mais, substitua o isolamento dessa criança por muito amor, atenção e inclusão. E vista azul, sempre que puder. A cor ilumina e muda a sorte de muita gente.
* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.
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