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Diversidade energética

Lucila Cano

21/06/2013 06h00

O encontro dos presidentes da China e dos Estados Unidos no início de junho foi bastante aplaudido. Até pouco tempo atrás, os dois países resistiam a qualquer medida em defesa do clima, a despeito de ocuparem o topo da lista dos maiores poluidores do mundo.

Uma primeira reunião não os tirou dessa nada honrosa colocação, mas significou um passo a frente nas difíceis negociações entre preservação ambiental e desenvolvimento econômico.

Xi Jinping e Barack Obama comprometeram-se a reduzir o uso do gás HFC (hidrofluorcarboneto) em seus países, o qual é considerado mais nocivo que o CO2 e o gás metano para o aquecimento do planeta.

O gás HFC é utilizado na composição de solventes e aerossóis e na indústria da refrigeração (geladeiras e aparelhos de ar condicionado), cujos produtos incorporaram-se à vida moderna.

Escolhas certas

O grande desafio da atualidade está em fazermos as escolhas certas. Quais são elas no embate entre meio ambiente e desenvolvimento econômico? As respostas são o que todos perseguem a cada nova cúpula do meio ambiente, debates, estudos, pesquisas e intercâmbios.

Deposito minhas fichas nos avanços técnicos e científicos, em especial no Brasil, que dá mostras de alternativas energéticas que podem substituir os agentes poluidores com sucesso e até mais economia. Há de haver vontade política para isso.

A Embrapa, o IPT e muitas de nossas universidades testam materiais por vezes inusitados para chegar a soluções energéticas limpas. Que tal queimar capim-elefante para atender à indústria ceramista ou a outras indústrias que necessitem de calor em seus processos produtivos?

O capim-elefante concentra 80% de água e é alimento para os animais. Ao passar por um processo de secagem, torna-se alimento para os fornos de tijolos e telhas. Seu cultivo não prejudica o solo e a sua queima equilibra a emissão de gases na atmosfera.

A Embrapa trabalha com o capim-elefante há anos. Mais recentemente, o IPT criou um projeto para o capim suprir a demanda de energia de uma cooperativa de ceramistas no interior de São Paulo.

E o etanol? Além da cana-de-açúcar, ele pode ser extraído de diferentes fontes, como a mandioca, o pinhão-manso e a mamona. O Estado do Tocantins já produz biocombustível com essas matérias-primas, em contraponto aos combustíveis fósseis.

Lixo, vento e sol

Não dá mais para chamar o lixo orgânico de lixo. Resíduo reciclável é uma denominação mais apropriada para a matéria orgânica que se decompõe nos aterros e da qual se produz o biogás, um gás com inúmeras possibilidades de consumo após várias etapas de purificação.

O Brasil produz biogás em mais de 20 aterros. O número é inexpressivo para o tamanho do país. Mas, o modelo deve prosperar com a efetivação da lei dos resíduos sólidos. Sem dúvida, esta é uma boa destinação para o lixo, ao mesmo tempo em que gera uma fonte alternativa de energia.

O ex-lixão de Gramacho, agora Usina de Biogás do Aterro Metropolitano de Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, deve produzir em torno de 70 milhões de m³ de gás ao ano. O fornecimento será exclusivo para a Refinaria Duque de Caxias, da Petrobras.

Na cidade de São Paulo, por exemplo, o biogás extraído de dois aterros é transformado em energia elétrica para o consumo de cerca de 35 mil residências.

Ventos e sol também são alternativas para equilibrar o fornecimento de energia no Brasil. O país é dependente das usinas hidrelétricas e, como vimos neste ano, sujeito ao uso emergencial de usinas termoelétricas, que geram energia mais cara e são poluentes.

No litoral do Nordeste, pródigo em bons ventos, alguns projetos de energia eólica estão parados, principalmente por causa da falta de linhas de transmissão.

O sucesso da energia solar, então, está sujeito a uma baixa nos custos dos painéis. Neste caso, o governo bem que poderia redirecionar seus estímulos de isenção de impostos. Todos teriam a ganhar, inclusive o meio ambiente.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.