Mito e arte - Representações de Deméter e Perséfone
Valéria Peixoto de Alencar*, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Um mito é uma história de tradição oral, ou seja, passada de geração em geração, que, geralmente, narra a encarnação de forças da natureza em formas humanas. Os mitos remontam a tempos imemoriais, procurando, quase sempre, contar a criação do mundo ou explicar fenômenos da natureza.
O mito de Deméter e Perséfone
Deméter, na mitologia grega, era o nome da deusa que cuidava da terra fértil, do plantio e da colheita, juntamente com sua filha, Perséfone.
Diz o mito que, um dia, Hades, o deus do mundo inferior, se apaixonou por Perséfone e a raptou. Deméter, desesperada, saiu do Olimpo em busca de sua filha e, durante nove dias e nove noites, vagou em vão. Hélio, o deus sol, vendo a angústia de Deméter, contou-lhe que Perséfone havia sido levada por Hades.
Durante o tempo em que Perséfone estava no mundo inferior, Hades lhe deu uma romã para que ela comesse. Quando Deméter chegou para resgatar a filha, soube que não conseguiria, pois uma vez que ela havia se alimentado no reino de Hades, não poderia deixá-lo.
Muito entristecida pela falta de Perséfone, Deméter não voltou ao Olimpo e a população começou a sofrer com a escassez de alimentos, pois a deusa não estava mais exercendo sua função de promover a fertilidade da terra. Zeus, sabendo o que ocorria, chamou Hermes, o deus mensageiro, para que ele fosse até Hades e o convencesse a devolver Perséfone.
Sob a ameaça de Zeus, Hades consentiu que a filha de Deméter voltasse para a mãe, desde que passasse um terço do ano com ele, no mundo inferior. Este período do ano corresponde ao inverno, pois Perséfone está com Hades, e Deméter, sentindo sua falta, não consegue ajudar no plantio e na colheita, como nos outros períodos do ano.
Esta é uma versão do mito, assim como a explicação para o surgimento das estações do ano é uma forma de interpretá-lo.
A arte interpreta o mito
A mitologia grega foi tema recorrente em alguns períodos da história da arte, como no Renascimento, no Barroco e no Neoclassicismo, por exemplo.
Deméter, séc. IV a.C. |
As representações das duas deusas, nas mitologias grega e romana (Deméter e Perséfone são, em Roma, chamadas de Ceres e Prosérpina, respectivamente), assim como de outros deuses, não eram manifestações artísticas da forma como entendemos a arte nos dias de hoje. Aquelas representações (veja, por exemplo, acima, uma escultura representando Deméter) tinham a função de servir como oferenda aos deuses.
Assim, o principal elemento que vemos nas representações das deusas da terra cultivada é um ramo de trigo e, no caso de Deméter, uma tocha também, usada para procurar sua filha durante a noite ou no mundo inferior de Hades.
Nas várias representações do mito podemos observar a imagem das deusas em diferentes cenas: o momento em que Perséfone come a romã, o retorno de Perséfone e, também, o seu rapto por Hades. Esta última, por sinal, é uma das cenas mais recorrentes, sempre seguindo as características dos estilos de cada época, como podemos ver nos dois exemplos de arte barroca, a seguir:
Luca Giordano, O rapto de Perséfone, 1684-1686, afresco do Palácio Medici-Riccardi, Florença |
Bernini, Rapto de Proserpina, 1621-1622, mármore |