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Dinossauros e aves - Evolução fez répteis adquirirem penas

Mariana Aprile

A relação de parentesco da classe Aves com a Reptilia (répteis) cria polêmica na comunidade científica desde os anos 1860. O biólogo inglês Thomas Henry Huxley foi um defensor ferrenho das teorias evolucionistas de Darwin - tanto que ficou conhecido como "o Buldogue de Darwin". Foi Huxley o primeiro a afirmar que as aves nada mais são do que "répteis glorificados".

O pesquisador ficou tão impressionado com a quantidade de semelhanças entre aves e répteis, que chegou a criar uma classificação única para esses animais: o grupo dos Sauropsida. Mas, nessa hora, ele errou a mão: e essa confusão atrapalhou a forma como foram vistas as relações evolutivas durante quase todo o século 20.

Huxley não tinha como saber, mas o fóssil que tomou como base, o Archaeopterix (lê-se arqueoptérix), não era uma ave primitiva e sim um réptil que tinha penas. Isso mesmo: dinossauro com penas!

Outro problema nessa discussão sempre foi a falta de fósseis de transição. Não se encontrou ainda um fóssil de animal meio ave meio réptil. Entretanto, a natureza forneceu muitas evidências que mostram a relação de parentesco entre essas classes tão distintas.

Répteis com penas

Alguns dinossauros buscaram adaptações evolutivas a fim de armazenar calor. Uma delas foi desenvolver penas em seus corpos. Mas essa adaptação só é possível para animais que têm metabolismo alto, isto é, cujo organismo produz e gasta bastante energia para funcionar.

Assim, as penas apareceram em dinossauros carnívoros e cursores, isto é, terrestres que andavam e corriam muito. Ao longo dos milhões de anos de evolução, o metabolismo desses dinossauros trouxe duas adaptações evolutivas importantes e que estão presentes na classe das aves: penas e a capacidade de manter o calor do corpo - a endotermia.

A estrutura das penas das aves modernas é relativamente simples. São formadas por uma proteína chamada queratina-beta - a mesma que forma as escamas do lepidossauro. Uma alta taxa metabólica é inútil a não ser que o animal possua algum isolante térmico para reter no organismo o calor produzido. Sem esse isolamento, o calor é rapidamente perdido para o ambiente.

Características comuns entre aves e dinossauros

Hoje em dia as aves são consideradas pelos cientistas como dinossauros terópodes derivados - uma ramificação muito especializada desses dinossauros. Isso porque ambos os grupos possuem características em comum:

  • Pescoço alongado e móvel em forma de "S".

 

  • Pé com três dedos - e apenas dois deles se apóiam no chão para andar.

 

  • Ossos ocos: fundamentais para voar, pois tornam o esqueleto mais leve. Atualmente, apenas as aves possuem essa característica.


Dados atuais mostram que o dromeossauro, incluindo Velociraptor, tornado famoso pelo filme "Parque dos Dinossauros", enquanto evoluía estava adquirindo características semelhantes às das aves. A estrutura óssea do pulso permitia a esses animais girarem as mãos ao capturar suas presas - essa habilidade é usada pelas aves modernas quando realizam o vôo batido (vôo batendo as asas).

Outro dromeossauro, o Unenlagia, possuía uma articulação no ombro que lhe permitia mover os braços para cima e para baixo - outro componente fundamental para o vôo potente. O Unenlagia foi um predador terrestre de dois metros de comprimento e seu fóssil foi descoberto na Patagônia.

Confirmando Huxley

Mas o século 20 não terminaria sem confirmar a tese de Huxley. Em 1998, paleontólogos que trabalhavam na Província de Liaoning, no Nordeste da China, fizeram duas descobertas incríveis - e derrubaram por terra as dúvidas sobre o parentesco entre as aves e os dinossauros.

As evidências vieram de dois fósseis extraordinariamente bem preservados: o do Caudipterix e o do Protoarchaeopterix. Ambos possuíam penas, mas não eram capazes de voar - lembre-se que aves como o avestruz também não voam. Esses fósseis possuíam dois tipos de penas: plúmulas e penas com vexilos, que são as penas de contorno.

Os ornitólogos (estudiosos de aves) distinguem cinco tipos de penas: de contorno (que recobrem o corpo e também são penas de vôo), semiplumas, plúmulas de vários tipos (relacionadas ao isolamento térmico), cerdas e filoplumas(com função sensorial).

Aves e dinossauros em uma só linhagem

A comparação entre os fósseis de Liaoning e as aves modernas revela que os dromeossauros possuíam algum controle sobre o calor do corpo e que estavam desenvolvendo penas para o vôo. Os dromeossauros e as aves modernas são muito semelhantes em vários aspectos anatômicos, razão pela qual a maior parte dos estudiosos no assunto concorda que as aves evoluíram de dinossauros terópodos.

Não há mais dúvidas: a classe Aves é uma linhagem especializada dos dromeossauros, os quais eram predadores bípedes e cursores. Então, evolutivamente, as aves se desenvolveram a partir de predadores terrestres - os dromeossauros -, passaram para dinossauros basicamente terrestres de vôo batido (o Caudipterix), e chegaram ao Archaeopterix.

Esse, por sua vez sofreu mutações que originaram o Iberomesornis, o dinossauro arborícola. Da mesma maneira, o Ibero originou o Enantiornithes, já uma ave, mas com baixa capacidade de vôo. A "passagem" evolutiva seguinte foi o Ichthyornithiformes, capaz de realizar vôo pleno. Finalmente, chegou-se às aves modernas, os Neornithes. Todas essas passagens evolutivas de um animal para outro, ocorrem através de mutações genéticas.

Entre os animais vertebrados, a classe das aves é a mais numerosa, depois dos peixes. Existem aves em todos os ambientes do planeta. Assim, pode-se dizer que os dinossauros ainda dominam a Terra!

 

 

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