Maré vermelha - Causas e conseqüências da maré vermelha
Alice Dantas Brites
A maré vermelha é um fenômeno natural que provoca manchas de coloração escura na água do mar. As manchas são causadas pelo crescimento excessivo de algas microscópicas presentes no plâncton marinho, num processo chamado de floração.
Dependendo da espécie de alga, a mancha pode adquirir coloração vermelha, marrom, laranja, roxa ou amarela. Uma vez que a água nem sempre fica vermelha, o termo "maré vermelha" vem sendo substituído por "floração de algas nocivas" ou simplesmente "FAN".
Causas da maré vermelha
Na maioria das vezes, a maré vermelha é causada pela floração de pequenas algas chamadas de dinoflagelados. Em alguns casos, outros organismos microscópicos, como as diatomáceas e as cianobactérias, podem estar presentes.
Os dinoflagelados são organismos unicelulares agrupados numa divisão das algas chamada de Pyrrhophyta. Em grego, Pyrrhophyta significa planta cor de fogo. O nome está relacionado à presença de pigmentos de coloração avermelhada no interior das células dessas microalgas.
Os dinoflagelados são, em sua maioria, fotossintetizantes, embora existam algumas poucas espécies heterótrofas, que se alimentam de matéria orgânica em decomposição ou são parasitas de outros organismos.
A reprodução geralmente é assexuada por simples divisão celular ou, em alguns casos, sexuada, ocorrendo através da formação de gametas. A célula destes organismos possui dois pequenos flagelos, vindo daí o nome dinoflagelado.
Explosão populacional das algas
O aumento nos níveis de nutrientes dissolvidos na água do mar, aliado a condições ideais de temperatura, salinidade e luminosidade, permite que os dinoflagelados elevem sua velocidade de reprodução, levando a uma explosão populacional dessas algas.
Durante a floração, cada dinoflagelado é capaz de se reproduzir cerca de um milhão de vezes no período de uma ou duas semanas, chegando a atingir concentrações de até 10 milhões por litro de água! Estas condições, juntamente com a ação de correntes e ventos, promovem a formação de grandes aglomerados de microalgas, gerando as manchas coloridas que podem ser observadas no mar durante o fenômeno da maré vermelha.
Conseqüências da maré vermelha
A floração de microalgas durante a maré vermelha pode representar uma série de ameaças ao ambiente marinho e ao homem. Em 1962, na África do Sul, por exemplo, uma floração de dinoflagelados provocou a morte de mais de 100 toneladas de peixes devido ao entupimento de suas brânquias.
Algumas espécies de algas que podem se multiplicar durante a maré vermelha são parasitas de peixes, alimentando-se de seus tecidos e provocando sérias lesões em seus corpos.
Menos oxigênio na água
A maré vermelha pode causar a queda na qualidade da água do mar, pela diminuição da concentração de oxigênio nela dissolvido. Esta diminuição pode ocorrer por duas razões diferentes. Uma delas é a redução na taxa de fotossíntese de algas marinhas devido ao sombreamento provocado pelas manchas formadas pelas gigantescas populações de algas, impedindo que os raios luminosos penetrem na coluna d'água.
Outro motivo para a redução do oxigênio na água do mar ocorre devido ao grande número de bactérias decompositoras que se alimentam dos dinoflagelados mortos e consomem o oxigênio. Existem registros de casos em que lagostas se arrastam para fora da água, numa busca desesperada por oxigênio, e acabam morrendo nas praias ou costões rochosos.
Toxinas
Os dinoflagelados podem produzir algumas toxinas que estão entre os mais poderosos venenos conhecidos. O envenenamento pode ocorrer de forma direta, matando peixes e outros organismos marinhos, ou indireta.
Certos moluscos, como os mexilhões e as ostras, não são afetados diretamente pelas toxinas. No entanto, por serem organismos que filtram a água do mar, retirando dela seu alimento, podem acumular algas nocivas e, conseqüentemente, intoxicar indiretamente animais que deles se alimentem, como pássaros, mamíferos marinhos e até o ser humano.
O consumo de moluscos provenientes de regiões afetadas pelo fenômeno da maré vermelha deve ser evitado. Alguns dos tipos de envenenamento indireto, provocado pela ingestão de moluscos contaminados, que podem atingir o homem são a paralisia por envenenamento, o envenenamento amnésico e o envenenamento diarréico.
Tipos de envenenamento pelas algas da maré vermelha
A paralisia por envenenamento foi descoberta em 1700 e é responsável pela morte de centenas de pessoas nos últimos 300 anos. As toxinas que provocam paralisia atuam no sistema nervoso da vítima e, portanto, são chamadas de neurotóxicas. Dependendo da concentração da toxina, a ingestão de um único molusco contaminado pode ser fatal para o homem.
O primeiro sintoma desse tipo de envenenamento é a sensação de ardência ou formigamento nos lábios, na língua e nas pontas dos dedos. Em seguida, ocorre a dormência dos braços, do pescoço e das pernas, tonturas, descontrole muscular e dificuldade para respirar. Após um período que varia de duas horas a um dia, pode ocorrer a morte por insuficiência respiratória.
O envenenamento diarréico provoca intensa diarréia, enjôos, vômitos, dores de estômago, tremores e calafrios. Estes sintomas costumam desaparecer em cerca de três a quatro dias e, geralmente, não levam à morte.
O envenenamento amnésico foi observado pela primeira vez em 1987, no Canadá, após três mortes e diversos casos de intoxicação grave devido à ingestão de moluscos contaminados. Os principais sintomas desta intoxicação são: dores abdominais, vômito, confusão mental e perda de memória.
Fenômeno em aumento
As toxinas produzidas pelas algas também podem ser levadas para o ar através dos respingos das ondas e do vento, causando ardor e secura nos olhos, tosse, irritações na pele e dificuldade de respirar. Estes sintomas desaparecem em poucos dias e não são perigosos.
A freqüência e a intensidade das ocorrências do fenômeno da maré vermelha vêm aumentando em todo o mundo. É possível que este aumento seja conseqüência da atividade humana.
O despejo de esgotos não tratados no mar provoca o aumento da matéria orgânica na água, aumentando a quantidade de nutrientes disponíveis, num processo conhecido como eutrofização. A elevação nos níveis de nutrientes, juntamente com o aquecimento global, proporciona condições ideais para a floração das microalgas envolvidas na maré vermelha.
Maré vermelha no Brasil
No Brasil, a última grande maré vermelha ocorreu na Baía de Todos os Santos, Bahia, em 2007, e provocou a morte de cerca de 50 toneladas de mariscos e peixes, representando uma ameaça às atividades econômicas da população local.
Atualmente, os cientistas vêm aperfeiçoando técnicas de monitoramento capazes de prever quando e onde ocorrerão novos episódios. Este acompanhamento permite que se conheça melhor o funcionamento do fenômeno para que, algum dia, possamos abrandar ou até evitar os problemas causados pela maré vermelha.