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Venenosos e peçonhentos - Rãs, serpentes e peixes

Cristina Faganelli Braun Seixas

Normalmente, quando se fala em animais perigosos, as pessoas logo pensam em animais ferozes, de grande porte - como tigres e leões. O porte, no entanto, não representa necessariamente um alto grau de periculosidade, como se vê pelos elefantes.

Além disso, muitas vezes, o perigo pode estar escondido em animais muito pequenos e aparentemente inofensivos, mas que podem matar rapidamente aqueles que atacam.

É o caso do sapo-veneno-de-flecha, pertencente ao gênero Dendrobates. Um único espécime desses pode conter até 1.900 microgramas de uma certa toxina, da qual apenas 200 microgramas podem ser fatais, inclusive para a espécie humana.

Este sapo era utilizado amplamente por algumas tribos de índios sul-americanos, que dele extraíam veneno para mergulhar a ponta das setas de suas zarabatanas, utilizadas na caça.

Existem ainda a perereca venenosa vermelha e azul (Dendrobates pumilio), a perereca venenosa verde e preta (Dendrobates auratus) e a perereca venenosa de faixa amarela (Dendrobates leucomelas). Esta última integra a grande variedade de batráquios existentes no Brasil.

Venenosos e peçonhentos

Naturalmente, ao se pensar em animais venenosos, muito antes dos sapos, vêm à mente as cobras, que não têm a aparência inofensiva dos batráquios.

Antes de falar das cobras, porém, vale a pena fazer uma distinção entre venenoso - isto é, o animal que produz a toxina, mas não tem estruturas inoculadoras, como as rãs acima citadas - e peçonhento - o animal que além de produzir a toxina possui estruturas para sua inoculação, as serpentes, por exemplo, possum presas para inocular o veneno em suas vítimas.

Entre as serpentes peçonhentas, a mais conhecida no Brasil talvez seja a cascavel, do gênero Crotalus, com seu célebre guizo emitindo um sinal de ataque iminente. No entanto, são as jararacas, do gênero Bothrops, as responsáveis por cerca de 90% dos acidentes com cobras registradas no Brasil.

A cobra surucucu, do gênero Lachesis, é o maior dos ofídios peçonhentos do país, podendo atingir até 3,5m de comprimento. A Lachesis muta muta, um dos espécimes do gênero, pode ser encontrada tanto na Amazônia quanto na Mata Atlântica - o que significa que ela está presente no Brasil em toda a sua extensão longitudinal.

Cobras corais verdadeiras e falsas

A cobra coral verdadeira, pertencente ao gênero Micruru, também é encontrada em todo o Brasil. No entanto, trata-se de uma serpente de pequeno e médio porte (até um metro de comprimento) e respondem por somente 0,5% dos acidentes com ofídios no país.

O nome coral verdadeira significa, sim, que existe uma falsa coral. Ou melhor, várias: a Phalotris mertensi, a Oxyrhopus guibei, a Oxyrhopus rhombifer e a Apostolepis dimidiata. Sua semelhança com a coral verdadeira é de grande utilidade, pois mantém eventuais predadores afastados.

Convém lembrar que há cobras perigosas que, no entanto, não são peçonhentas: é o caso da jibóia (Boa constrictor) e da sucuri ou anaconda, do gênero Eunectes, do qual há três espécies (murinus, notaeus e deschauenseei. Possuem grande dimensões e são cobras constritoras, que se enrolam nas vítimas, esmagando seus ossos ou asfixiando-as.

Um dragão de verdade

No âmbito dos répteis peçonhentos, um caso muito particular é o dragão de Komodo (Varanus komodoensis). Este é um dos animais mais antigos da Terra, bem anterior ao homem. Ele é muito temido, pois mesmo uma pequena mordida sua pode ser fatal: em sua boca existem centenas de bactérias que são inoculadas na corrente sanguínea de sua vítima.

Desse modo, sua presa, depois de contaminada, agoniza por alguns dias, até morrer. Somente quando o animal morto estiver em estado de putrefação é que o dragão de Komodo vai realizar o seu farto banquete... Felizmente, este animal só é encontrado na ilha de Komodo, na Indonésia. Por suas grandes dimensões e agressividade, ele não teme o ser humano e o ataca.

Perigosos até debaixo da água

Todavia, animais peçonhentos não se encontram somente em terra firme ou terrenos alagadiços. Há vários peixes peçonhentos, como o peixe-leão, o Pterios volitans. O que o faz famoso é a peçonha que carrega em sacos na base de cada nadadeira dorsal e lateral. Trata-se de uma neurotoxina com efeito variável dependendo do organismo em que é inoculada.

É necessário muito cuidado ao manusear esses peixes, pois um simples raspão em suas nadadeiras pode liberar a peçonha, que provoca dor intensa no local da ferida, inchaço, bolhas e manchas na região afetada.

Entre os peixes, ainda podem ser citadas outras espécies: os mandis-amarelos (Pimelodus maculatus), o mandi-chorão (Pimelodella sp), os surubins pintados e as cacharas (Pseudoplatystoma sp). Os mandis têm ferrões peçonhentos, que podem causar dor intensa por algumas horas, além de provocar infecções.

Os surubins e cacharas têm ferrões serrilhados perigosos, mas sem a presença de peçonha. Já as arraias de água doce (família Potamotrygonidae) possuem peçonhas fortes que provocam dores intensas por até 24 horas e feridas no ponto de entrada do ferrão.

 

 

Para pesquisar

Instituto Butantan

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