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Filosofia: para que serve? - O conhecimento sem finalidade utilitária

Carlos Zanchetta, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Enquanto esperavam o próximo discurso na ágora, a praça das feiras e das discussões, os gregos do século 6 a.C. devem ter se perguntado: "Essa filosofia que apareceu por aí. Serve para quê?"

É próprio da filosofia perguntar, questionar, buscar explicações. Por que haveria ela de escapar à indagação sobre sua própria existência? Ela, que tanto preza a interrogação, não poderia mesmo se furtar a seu próprio porquê.

Vinte e cinco séculos se passaram e a velha pergunta não cala: para que serve a filosofia? Na opinião da maior parte das pessoas, no mundo utilitarista em que vivemos, tudo tem de ter uma razão de ser e uma finalidade. Então, a resposta ainda é necessária. E ela seria: a filosofia não serve para nada!


 

Sem finalidade

Mas você já pensou que muitas outras coisas não têm finalidade específica e nem por isso são desimportantes? A arte, por exemplo, serve para quê? Qual a finalidade da natureza, do mundo físico? Não é por não serem utilitárias que a arte, a natureza e também a filosofia deixam de ter sua razão de ser.

Se você já estuda filosofia na escola, deve estar se perguntando: "Por que estou lendo sobre filosofia, se ela não serve para nada? Para que vai me servir isso?" Você acaba de se questionar. Talvez tenha arranjado uma resposta, mesmo que provisória, e outra pergunta surgiu. É assim que se começa a filosofar. Perguntando sobre o mundo, sobre si e o outro.



O que sou?

O que sou? Essa é uma das primeiras perguntas que surgem para quem quer filosofar. Quer continuar? Pois saiba que vai se iniciar uma história de perguntas sem fim. Veja como Marilena Chauí, filósofa brasileira, descreve o pensamento filosófico:

"Eu imagino que a filosofia busca uma atitude precisa: perguntar. E perguntar, não para encontrar imediatamente respostas. Perguntar para que respostas sejam dadas e voltar a fazer perguntas sobre as respostas que foram dadas. É nunca abrir mão da atitude crítica, sabendo que é uma atitude desgraçada, na medida em que não teremos nunca a vantagem de quem, em um navio, possui um mapa, uma bússola, todos os aparelhos eletrônicos, de tal modo que o piloto possa até mesmo dormir e o navio vá sozinho para o seu destino. A ideia de assumir até o fim um pensamento crítico é aceitar que navegamos sem mapa, sem bússola, no máximo talvez com uma estrela, e que essa estrela seja: continuar perguntando." (in, Lorieri e Rios, 2004, págs.29-30)



"Só sei que nada sei"

Isso lhe parece desesperador? Pense bem. Se quer continuar no caminho da filosofia, vai precisar se distanciar um pouco das certezas. A filosofia não lhe trará segurança a respeito de muita coisa. Sócrates, por exemplo, dizia: "Só sei que nada sei".

Ele punha por terra tudo o que julgava mais certo, para então construir o seu conhecimento. Se você for aceitar o desafio de filosofar, vai perceber que a filosofia é assim meio fugidia, atiça nossas incertezas. Ela é sedutora como as sereias que quase encantaram Ulisses na "Odisseia". Mas, ao contrário do que acontece nessa história, a filosofia não põe em risco a aventura de navegar, sem mapas nem bússolas.




Hora de filosofar


    1) Sabia que, a partir de 2008, apesar de sua "insignificância", a filosofia e a sociologia voltarão oficialmente a fazer parte do currículo de todas as escolas públicas brasileiras?

    2) "A natureza virou recurso - demos-lhe essa finalidade - e nunca antes ela esteve tão próxima do fim".

    Os termos fim e finalidade têm o mesmo significado? Explique.

    3) A questão ambiental é um dos assuntos mais urgentes, também para a filosofia. Imagine que você está no ano de 2057 e vê que o meio ambiente foi irreversivelmente devastado. Você irá viajar no tempo de volta para 2007 portando:

    a) um relatório com a descrição do que viu; e
    b) uma lista com dez iniciativas para que você e sua geração possam se antecipar ao problema da devastação ambiental.
    c) Envie um correio eletrônico com o relatório e a lista para três colegas. Convide-os a fazer essa atividade. Peça que depois enviem a você o relatório e a descrição que fizeram. Observe as coincidências nos trabalhos de cada um.