Platão (2) - O mito da caverna e a visão além das aparências
Quando pensou em demonstrar a cegueira dos homens diante de um mundo de aparências, o filósofo grego Platão contou uma história. Ou melhor, fez com Sócrates - o personagem central da obra "A República" - contasse uma história a seu companheiro Glauco.
Os homens estão presos por argolas no fundo de uma caverna escura. Sempre viveram ali, sem poder ao menos virar o pescoço. Por trás deles, um fogo arde, a certa distância, irradiando uma luz que se projeta no interior da caverna. Nas paredes, formas humanas, formas que se movem.
Os homens que estão no interior da caverna pensam que o vêem é a realidade. Mas não é, eles vêem apenas suas próprias sombras. Pensam assim porque não conhecem outro mundo.
Com essa alegoria, Platão compara a caverna ao mundo sensível onde vivemos, que é o mundo das aparências. Reflexos da luz verdadeira (as idéias) projetam as sombras (coisas sensíveis que tomamos por verdadeiras). Estamos agrilhoados. No entanto, é possível quebrar esses grilhões, e quem é capaz de fazer isso é o filósofo.
O filósofo é capaz de escalar o muro para a contemplação da luz plena. Essa luz é o Ser, o Bem; é essa a luz que ilumina o mundo inteligível (que se pode conhecer).
"Pois, segundo entendo, no limite do cognoscível é que se avista, a custo, a idéia do Bem; e, uma vez avistada, compreende-se que ela é para todos a causa de quanto há de justo e belo; que , no mundo visível, foi ela que criou a luz, da qual é senhor; e que, no mundo inteligível, é ela a senhora da verdade e da inteligência, e que é preciso vê-la para se ser sensato na vida particular e pública." ("A República". 3ª ed. Fundação Calouste Gulbenkian, trad. Maria Helena da Rocha Pereira)
A imagem apresentada por Platão é uma das mais belas e mais conhecidas de toda a história da filosofia. O mito da caverna faz parte do Livro 7 da obra "A República". Esse livro foi escrito entre os anos 385-380 a.C. Obra de maturidade de Platão, é um diálogo entre Sócrates e seus amigos, que apresenta o método dialético de investigação filosófica. Através de aproximações sucessivas, o mestre discute a organização da sociedade, a natureza da política, o papel da educação e a essência da justiça.
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