Biodiesel - Pesquisa sobre agrocombustíveis cresce no Brasil
Ronaldo Decicino
A demanda anual de biodiesel no Brasil é estimada em 1,2 bilhões de litros. O país se prepara para ocupar posição de pioneirismo na produção e no comércio mundial desse combustível, apesar das dúvidas existentes no mercado externo quanto à possibilidade de o biodiesel servir, realmente, como alternativa ao petróleo.
O Brasil apresenta uma grande variedade de matérias-primas disponíveis para o avanço da tecnologia que produz o biodiesel, a chamada "revolução verde".
O pioneirismo brasileiro só se confirmará, no entanto, se forem vencidas duas barreiras: 1) convencer os mercados de que o biodiesel brasileiro é solução e não nova fonte de problemas (o que acontecerá somente se houver efetivo combate à devastação ambiental, à concentração fundiária e ao desrespeito à legislação trabalhista); 2) realizar a integração efetiva dos pequenos produtores, por meio do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), lançado no final de 2004.
O avanço dos agrocombustíveis no Brasil pode ser explicado por uma série de projetos das áreas pública e privada. Além de eleger o setor como uma de suas prioridades, o governo tem procurado estimular as usinas a comprarem matéria-prima de agricultores familiares, em troca da redução de alguns impostos.
Principais culturas voltadas ao biodiesel
Soja: importante produto brasileiro, a soja tem posição de destaque também no segmento de biodiesel. Estima-se que pelo menos 80% do biodiesel fabricado no país provenha da soja. A fatia restante do mercado é suprida, basicamente, por sebo bovino; e menos de 1% é produzido a partir de outros óleos vegetais.
A predominância do uso da soja na obtenção de biodiesel tem uma série de explicações, mas a principal é a abundância: foram produzidos 60 milhões de toneladas na safra 2007/08.
Com 61 usinas autorizadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Bicombustíveis (ANP) a produzir esse combustível, a expansão da área de soja no Brasil deve garantir o atendimento da demanda de óleo para a fabricação de biodiesel. Além disso, há previsão de instalação de outras 50 usinas, o que poderá resultar num salto dos atuais 2,5 bilhões de litros por ano para mais de quatro bilhões.
Mamona: depois da soja, a mamona é, provavelmente, a cultura que mais atraiu investimentos por parte das usinas de biodiesel, principalmente pelo fato de existirem incentivos fiscais às indústrias que compram a produção da agricultura familiar.
A mamona já foi uma cultura importante para o Brasil, e o país chegou a ser o maior produtor do mundo dessa oleaginosa - e principal exportador do seu óleo. No entanto, após ter alcançado o topo do ranking, o Brasil, por falta de investimentos, foi superado pela Índia e pela China na década de 1990.
Dendê: o dendê é uma das oleaginosas mais produtivas entre as culturas comerciais. Em âmbito mundial, seu óleo é o segundo mais consumido, ficando atrás apenas do proveniente da soja.
Como matéria-prima para biodiesel, entretanto, o dendê ainda não tem importância comercial. Atualmente, apenas duas indústrias - Agropalma, no Pará, e Biobrax, na Bahia - produzem combustível de dendê. A produção se destina a suprir a demanda das frotas internas dessas empresas, e apenas o excedente é comercializado.
Algodão: assim como a soja, o algodão é uma cultura dominada pelo agronegócio, que tem no óleo um produto secundário. Em vista da crescente demanda por agroenergia, porém, as fábricas de biodiesel também vêm mostrando interesse em utilizá-lo. Atualmente, há pelo menos 24 usinas (prontas ou em construção) capazes de transformar o óleo de algodão em biodiesel.
Pinhão-manso: alguns países da Ásia e da África apostam no pinhão-manso como matéria-prima para a produção de agrocombustíveis. No Brasil, essa idéia também conquistou adeptos, embora muitos especialistas recomendem cautela, uma vez que o cultivo da planta exige mais pesquisas. Mesmo assim, cerca de trinta usinas estudam a possibilidade de utilizar o pinhão-manso na produção de biodiesel.
De maneira geral, acredita-se que - oferecendo uma alternativa ao petróleo e colaborando para a geração de emprego e renda no campo - os agrocombustiveis poderão ajudar a atenuar os efeitos das crises climáticas e financeiras mundiais.