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Crise dos alimentos - Problema afeta populações mais pobres

Ronaldo Decicino

A expansão das fronteiras agrícolas e o desenvolvimento tecnológico garantiram um longo período de queda nos preços mundiais dos alimentos: entre 1975 e 2004 esses preços chegaram a cair 75%. No entanto, os atuais índices de preço - todos em alta - mostram que essa fase acabou.

Segundo alguns estudiosos, esse novo período de aumento do preço poderá se estender por longo tempo, fazendo com que cerca de 100 milhões de pessoas voltem a ocupar um lugar abaixo da linha que separa a pobreza da miséria absoluta.

As causas da crise - que afeta, principalmente, os países pobres - são várias: aumentos sucessivos no preço do petróleo, especulação financeira, queda acentuada do dólar, aumento da produção do milho destinado a produção de biocombustíveis e condições climáticas desfavoráveis.

A gravidade da situação tem atraído a atenção de organismos internacionais como a ONU (Organização das Nações Unidas), o Bird (Banco Mundial), o FMI (Fundo Monetário Internacional) e a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).

Além do receio de que ocorra falta de comida, há ainda o temor de que a crise cause revoltas populares, como já aconteceu em diversos países (Haiti, Indonésia, México e Egito, por exemplo).

Para se entender a gravidade do problema, basta pensar que o aumento de 130% no preço do trigo representa, para uma família pobre, o comprometimento de um quarto de sua renda apenas com a compra de pão. Sem esquecer que, nas famílias mais pobres, os gastos com alimentação têm peso maior no orçamento.

Possíveis causas da crise

1. Desenvolvimento global: os países estão comendo mais, principalmente as economias que têm registrado maior expansão e prosperidade, como a da China. Com mais dinheiro no bolso, a população compra maior quantidade de alimentos.

2. Alta do petróleo: nos dias de hoje, a agricultura é totalmente mecanizada e depende, em boa parte, do petróleo, que também é usado como matéria-prima na produção de defensivos agrícolas e outros produtos químicos (utilizados na preparação do solo para o plantio).

3. Bloqueio das exportações: a ameaça de desabastecimento tem levado grandes países produtores de alimentos a impedir a exportação, agravando o problema nos países importadores.

4. Aumento da população: segundo a ONU, a população mundial atingirá o número de 8,3 bilhões de pessoas em 2030 - e 9 bilhões em 2050.

5. Fatores meteorológicos: condições climáticas desfavoráveis vêm reduzindo a quantidade de alimentos produzida no mundo. Alguns países têm passado por períodos adversos à agricultura, como a Austrália, segundo maior exportador de trigo do mundo, que enfrenta uma forte seca.

6. Aumento da produção destinada aos biocombustíveis: o principal problema tem relação com o etanol produzido nos Estados Unidos, feito a partir do milho. Com a redução da oferta de milho para o setor de alimentos, o preço de seus derivados - como as rações para animais (e, conseqüentemente, a carne) - subiu.

7. Especulação financeira: com a queda do dólar, investidores que ganhavam dinheiro investindo na moeda norte-americana migraram para outros investimentos, como os produtos agrícolas. A maior procura contribuiu para valorizar o preço.