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Furacões - A sociedade humana pode também ser responsável por eles

Cláudio Mendonça

A tragédia de Nova Orleans, arrasada, em 2005, pela força destruidora do furacão Katrina, que rompeu diques e deixou a cidade sob a água, é a imagem mais próxima da realidade do efeito que as mudanças climáticas poderá provocar em várias regiões do mundo. Para os ambientalistas, o aquecimento global pode ser o responsável pelo aumento do número das tempestades tropicais que têm se transformado em furacões de grande magnitude.

Para outros, furacões sempre existiram e os acontecimentos de 2005 fazem parte de um ciclo de flutuação da temperatura das águas que costuma ocorrer a num intervalo de 50 a 60 anos. Portanto trata-se de um processo natural, impossível de ser detido pelo ser humano.

O fato é que não existe consenso. Outros especialistas ficam no meio do caminho. Alegam que é bem provável que o aquecimento global seja responsável pela intensificação deste fenômeno, mas é impossível uma afirmação decisiva, neste momento. Seriam necessárias mais algumas décadas de observação e de estudo, cerca de 30 anos, para se chegar a uma confirmação científica sobre o tema. Não será tarde demais?

Como se forma o furacão?

O furacão se forma inicialmente pela evaporação de grandes proporções de água que sobem para a atmosfera. Por isso, ele só tem origem no mar e em condições geográficas específicas em que a água atinge temperaturas superiores a 27º C. Essas temperaturas elevadas no oceano ocorrem entre o período de julho a novembro, que constitui a temporada de furacões do hemisfério norte.

Essa seria uma boa razão para que o litoral brasileiro fosse atingido regularmente por furacões. No entanto, esse fenômeno só corre em latitudes acima de 15ºN ou 15ºS, livrando boa parte do nosso território dessa manifestação de fúria da natureza.

No processo de formação de um furacão o vapor de água do oceano aquecido perde densidade e sobe para as camadas mais altas e frias da atmosfera. Nessas elevadas altitudes, o vapor se condensa e se precipita, em forma de fortes tempestades tropicais. No entanto, essa passagem do estado gasoso para o estado líquido, libera grande quantidade de energia que aquece o ar e cria uma zona de baixa pressão.

Essa zona de baixa pressão, criada nessas camadas superiores da atmosfera, atrai outras correntes ascendentes de ar. Por sua vez, o ar existente ao redor também tende a ser atraído para o local onde está sendo gerado o furacão, para ocupar o espaço daquele que subiu, engrossando o fenômeno. Observe que este é um processo que se retroalimenta e ganha proporções.

O movimento de rotação da Terra induz à rotação da massa de tempestade que está sendo construída na atmosfera, que se enrola sobre si mesma e gira no sentido anti-horário no Hemisfério Norte e no sentido horário no Hemisfério Sul, formando uma gigantesco espiral de água e de ar. Quanto mais distante do equador, mais intenso será esse movimento giratório e maior será, portanto, a velocidade do seu deslocamento. Veja infográfico.

O centro de todo esse movimento da atmosfera é o que se chama olho do furacão. Ao contrário do que se pensa, o olho normalmente é relativamente tranqüilo e livre de nuvens.

Furacões, tufões e intensidade

Não existe diferença entre furacão e tufão. Trata-se do mesmo fenômeno. No Atlântico Norte e no Caribe é chamado de furacão e no Pacífico Norte e Mar da China é conhecido como tufão. Furacões e tufões possuem ventos sempre superiores a 119 km/h podendo ultrapassar 300 km/h. Portanto, a capacidade de destruição de um furacão ou tufão, pode variar.

Da mesma forma que existem as escalas Richter e Mercalli para medir a intensidade dos terremotos, existe a escala Saffir-Simpson para medir a dos furacões. Ela é dividida em 5 categorias, sendo que a categoria 1 correspondem aos furacões mais fracos e a 5 aos de maior intensidade.

A escala tem esse nome, pois foi criada no início da década de 1970 por um engenheiro chamado Herbert Saffir e por Bob Simpson, na época diretor do Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos.

CategoriaDescriçãoVelocidade dos ventosEfeitos
1Danos mínimos119-153 km/hDanos à vegetação, plantações, casas de madeira ou mal construídas e inundação em zonas costeiras.
2Danos moderados154-177 km/hQueda de árvores, destruição de portas e janelas e inundações ao longo da costa litorânea.
3Danos extensos178 a 209 km/hCausa danos na estrutura de pequenos edifícios e graves inundações na zona costeira. Os ventos arrancam os telhados, placas com letreiros e anúncios.
4Danos extremos210-249 km/hÁrvores e arbustos são arrancados do solo. Telhados, portas, janelas são destruídos. Muitas edificações têm sua estrutura totalmente comprometida ou podem ser totalmente destruídas. As inundações avançam até dezenas de quilômetros da zona costeira. Furacões desta categoria requerem a evacuação da população.
5Danos catastróficosMais de 249 km/hÁrvores e arbustos são totalmente arrancados pelo vento. Tetos, placas com anúncios e letreiros podem ser levados a distâncias consideráveis. Várias casas e edifícios sofrem total destruição. Furacões desta categoria podem arrasar quase tudo o que encontra pelo caminho. É necessária a evacuação total das pessoas que vivem perto das zonas costeiras.

 

Aquecimento global e catástrofes naturais

Sabe-se que desde 1995 tem ocorrido um aumento na freqüência e intensidade dos furacões no Atlântico Norte. Desde então, a média tem sido de 14 furacões por ano. Em 2004, os furacões Charley, Francis, Ivan e Jeanne mataram centenas de pessoas e provocaram grandes danos materiais. Em 2005, Katrina, Rita e Ophélia roubaram a cena e apresentaram ao mundo um espetáculo natural de proporções comparáveis à tragédia do tsunami asiático.

À medida que a atmosfera aquece, secas tornam-se mais prolongadas em diversos locais da Terra, as chuvas mais intensas em outros e ondas de calor têm sido mais freqüentes e prolongadas. Em 2003 mais de 14 mil pessoas morreram na França com o calor que atingiu a Europa. Em 2005 chuvas torrenciais provocaram enchentes e deslizamentos de terra na Suíça, Alemanha e Áustria, ao mesmo tempo em que, incêndios devastaram florestas em Portugal e na Espanha. Do outro lado do Atlântico, ainda durante a temporada de furacões e sob o impacto da destruição de Nova Orleans, um incêndio de grandes proporções queimou a mata situada ao redor da cidade de Los Angeles, na Califórnia. Além disso, no verão de 2005, mais de 200 cidades situadas nos Estados Unidos atingiram recordes de temperatura.

Caso o aquecimento das águas oceânicas seja um fato consumado, a tendência é que os furacões tornem-se cada vez mais fortes, pois a água quente aumenta a quantidade de energia para o funcionamento do sistema de tempestade.

Apesar das controvérsias, tudo indica que o aquecimento global é resultante das ações humanas sobre a natureza, causada principalmente pelo uso de combustíveis fósseis, principais responsáveis pela acumulação de gases na atmosfera, tais como o dióxido de carbono, o metano, e outros.

Os Estados Unidos são responsáveis pela quarta parte da emissão mundial de dióxido de carbono. Apesar disso o país não ratificou o Protocolo de Kyoto em vigor desde fevereiro de 2005, que estabeleceu metas para a redução das emissões de gases estufas. As possíveis relações entre as mudanças climáticas e os desastres naturais que penalizaram, neste ano, especialmente os Estados Unidos, podem ser um importante fator de pressão da sociedade norte-americana sobre o governo, para que tome atitudes mais responsáveis em relação ao ambiente.

O ser humano pode já está pagando por ter tratado a atmosfera como uma lata de lixo. Caso não haja uma redução significativa da emissão de gases a humanidade poderá estar sujeita a catástrofes naturais, cada vez mais constantes e violentas.