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Indústria do amianto - Mais problemas do que soluções

Ronaldo Decicino

O amianto, conhecido também como asbesto (nome de origem grega que significa "imortal" ou "indestrutível"), é uma fibra mineral, natural e sedosa, utilizada na indústria.

Dentre suas características, destacam-se: alta resistência mecânica, alta resistência às altas temperaturas, incombustibilidade, boa qualidade isolante, durabilidade, flexibilidade, indestrutibilidade, resistência ao ataque de ácidos, álcalis e bactérias, facilidade de ser tecida, abundância na natureza e, principalmente, baixo custo de extração.

O amianto está presente em abundância na natureza sob duas formas: serpentinas (amianto branco) e anfibólios (amiantos marrom, azul e outros).

O amianto já foi considerado a "seda natural" ou o "mineral mágico", uma vez que vem sendo utilizado desde os primórdios da civilização, inicialmente para reforçar utensílios cerâmicos, conferindo-lhes propriedades refratárias. Atualmente, é utilizado principalmente na construção civil, sendo aplicado na fabricação de produtos como caixas d'água, telhas onduladas e tubulações, além de discos de embreagem, mangueiras, papéis e papelões.

Danos à saúde

O amianto, contudo, é um produto comprovadamente cancerígeno. A exposição às suas fibras causa uma série de problemas à saúde, como câncer de pulmão e de laringe, além de doenças da pleura - membrana que envolve os pulmões - e a asbestose: doença do sistema respiratório que provoca uma reação fibrosa crônica dos pulmões e, conseqüentemente, a perda da expansibilidade, dificultando, de maneira progressiva, a respiração.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que "todos os tipos de amianto causam asbestose, mesotelioma (tipo de câncer que costuma matar em cerca de dez meses) e câncer de pulmão", além de sustentar que não há limite seguro de exposição ao amianto. A Organização Mundial do Comércio (OMC) considera que "o uso controlado ou seguro do amianto não é factível nem nos países desenvolvidos, muito menos naqueles em desenvolvimento".

Em junho de 2006, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) calculou que 100 mil mortes ao ano são causadas pelo asbesto em todo o mundo. Outro fato importante se refere às esposas e mães de funcionários das empresas que se valiam do amianto em seus produtos. Por terem passado anos expostas ao pó do amianto encontrado nas roupas dos trabalhadores, muitas apresentam sintomas das doenças causadas pelo asbesto.

De acordo com estudo feito pelo Mount Sinai Medical Center, dos EUA, um centro especializado em doenças pulmonares, 70% dos bombeiros e voluntários que trabalharam nos escombros do World Trade Center sofrem de problemas respiratórios causados pelo pó do amianto.

O amianto é considerado, em termos mundiais, a maior catástrofe sanitária do século 20, uma vez que, embora os riscos fossem conhecidos desde o início do século 20, eles não eram controlados.

O amianto no Brasil

O Brasil produz, anualmente, cerca de 200 mil toneladas de amianto e exporta mais de 60% de sua produção para países como Índia, Tailândia, Indonésia, México, Colômbia e Emirados Árabes.

Em Minaçu, cidade do Estado de Goiás, encontra-se a terceira maior mina do planeta - a Canabrava. Com capacidade de extração para mais meio século, ali são geradas 280 mil toneladas de fibras de amianto por ano, que movimentam aproximadamente R$ 2 bilhões. Cerca de 200 mil pessoas trabalham em sua extração, industrialização e venda.

Até a década de 1980 não havia leis reguladoras no Brasil, e os trabalhadores conviviam com um alto índice de exposição às fibras do amianto. Atualmente, existem leis federais que autorizam o uso do amianto, desde que observada uma série de controles. Entre eles, o de que somente o tipo crisotila, uma variedade menos nociva, pode ser utilizado, desde que, em todas as etapas da produção, haja monitoramento da quantidade de fibras em suspensão no ar.

O amianto, contudo, tem sido usado, muitas vezes, sem nenhum tipo de controle, uma vez que ainda é a melhor alternativa para cobrir as residências das famílias carentes.

No Brasil existem, aproximadamente, mais de dois mil casos de mesotelioma, registrados entre 1980 e 2003. Como as doenças provocadas pelo amianto levam, em média, de 25 a 50 anos para se manifestar, o número de pessoas contaminadas no Brasil ainda não é conhecido. Estima-se em 1 milhão a quantidade de trabalhadores expostos - e é comprovada a existência de mais de 3,5 mil vítimas apenas nas fábricas de duas empresas do setor de fibrocimento. Os especialistas prevêem que, até o ano de 2030, o Brasil atingirá o pico da mortalidade das doenças causadas pelo minério.

O problema apresentado pelo uso do amianto é tamanho que a indústria vem apostando na substituição do produto por materiais alternativos, como as fibras de polipropileno ou o uso do fibrocimento, que utiliza fibras vegetais (fibras de banana, malva, coco, sisal e eucalipto). No entanto, ainda não foi possível atingir um bom grau de durabilidade dessas novas fibras, fora o fato de que são materiais mais caros.

Estatísticas mostram constante declínio no uso do amianto em todo o planeta. Reduziu-se pela metade o consumo brasileiro desde 2000. As próprias empresas usuárias do minério oferecem agora os mesmos produtos, mas sem amianto. Atualmente, mensagens anunciando "telhas sem amianto" tornaram-se comuns até em estádios de futebol.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) reforça o banimento do amianto, atendendo ao previsto na Convenção nº 162 da Organização Internacional dos Trabalhadores, de 1986, da qual o Brasil é signatário.