Trânsito - Problemas atingem grandes cidades
Ronaldo Decicino
A circulação de veículos em metrópoles - como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, ou qualquer uma das grandes cidades brasileiras - é um problema muito difícil de ser resolvido a curto prazo.
As notícias diárias sobre os imensos congestionamentos que ocorrem na cidade de São Paulo mostram o tamanho que o problema atingiu, no que se refere às possibilidades de deslocamento de pessoas e mercadorias.
De acordo com levantamentos realizados por empresas governamentais ligadas ao setor, a capital paulista tem batido recordes diários de congestionamento. A cada dia, oitocentos novos veículos ingressam na frota da cidade - o que representa, todos os anos, aproximadamente 280 mil veículos a mais.
Circulação imediata
Sob determinadas condições - greve de transporte coletivo, dias de chuva, véspera de feriado, datas festivas, etc. -, essa frota de mais de cinco milhões de veículos, com previsão de chegar à marca dos seis milhões, pode entrar em circulação imediata, gerando um verdadeiro caos no trânsito.
Os congestionamentos só não param de vez a cidade por conta de ações operacionais e da implantação de tecnologias de controle do trânsito realizadas pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), sem descartar o rodízio municipal, medida que restringe a circulação de veículos nos horários de pico, ainda que não produza o mesmo alívio de quando foi implantado, há mais de dez anos.
Em São Paulo, cada veículo particular transporta, em média, uma pessoa e meia, o que significa que os automóveis transportam, diariamente, um contingente de mais de 7 milhões de habitantes.
Nos últimos anos, a adoção do rodízio de veículos, que retira diariamente 20% dos automóveis das ruas, tem levado uma grande parcela da população a utilizar ônibus, trens, metrô ou, em último caso, os táxis. Resta saber, no entanto, se essas formas de transporte coletivo estão capacitadas para atender a essa enorme demanda.
Transporte coletivo
Nas cidades brasileiras, as linhas de trens de subúrbio e de metrô continuam, praticamente, do mesmo tamanho que tinham na década de 1990, com exceção de São Paulo e Rio de Janeiro, onde investimentos constantes fizeram a rede crescer de modo um pouco mais tangível.
Contudo, os sistemas dessas duas cidades estão trabalhando sem folga operacional, uma vez que a extensão das linhas é reconhecidamente pequena, não podendo ser a opção dominante para quem necessita se deslocar para vários locais.
Os trens suburbanos de São Paulo estão em péssimo estado e também apresentam trajetos bastante restritos. Os quinze mil ônibus e os mais de trinta e dois mil táxis da cidade são as alternativas que sobram.
O caso dos ônibus
Calcula-se que, em média, cerca de 70% dos usuários de transporte público utilizam o ônibus, variando esse índice de acordo com a qualidade do transporte oferecido pela cidade e, também, em função da renda média da população.
O predomínio do ônibus em quase todas as grandes cidades brasileiras traz várias consequências, entre elas os freqüentes congestionamentos nas ruas, avenidas e até mesmo nos corredores exclusivos implantados em alguns centros urbanos, como São Paulo, por exemplo.
Além disso, a população de baixa renda é a que mais sofre com os constantes congestionamentos da cidade. Em São Paulo, um trabalhador gasta, em média, 1h 30 para ir de casa ao trabalho de ônibus e mais 1h 30 para retornar para casa no final do dia. Essas 3 horas "perdidas" no trânsito (40% do tempo que ele trabalhou em seu emprego) estão sendo tiradas de seu descanso, de seu lazer e do convívio com a família.
Portanto, é evidente que a melhoria do transporte público é uma questão-chave para se resolver, ao mesmo tempo, três questões: a redução do tempo gasto pelas pessoas em sua locomoção diária; a conseqüente melhoria da qualidade de vida de toda a população, em especial dos mais desfavorecidos; e a constante ampliação do uso do transporte privado individual.
Diversas pesquisas já demonstraram que a falta de acessibilidade no transporte público (baixa oferta na periferia, más condições dos veículos, tarifas altas, etc.) é uma das causas da opção pelos automóveis na classe média e nos setores de melhor renda per capita da chamada classe D. O tempo médio gasto em uma viagem de ônibus (49,7 minutos) é 2,3 vezes maior do que a realizada com automóvel (21,2 minutos).
O atraso no tempo de viagem dos ônibus obriga as empresas a colocar mais veículos nas ruas, inclusive para diminuir o tempo de espera dos passageiros. Com isso, aumentam os congestionamentos, diminui a velocidade média dos ônibus e as empresas passam a ter menos passageiros por quilômetro rodado por veículo, o que resulta na elevação dos custos e na diminuição dos lucros. No fim, todos esses fatores produzem a baixa qualidade do transporte coletivo.
Não faltam no país projetos e iniciativas que buscam sanar os problemas causados pelo trânsito e melhorar a qualidade do transporte público nas grandes cidades. Espera-se apenas que todos esses projetos sejam implantados rapidamente.