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Exílio - Intelectuais saíram do Brasil durante a ditadura

Na volta do exílio, Gilberto Gil com o filho Pedro Gil no colo Imagem: Acervo Gege Produções Artísticas/Divulgação

Vitor Amorim de Angelo

Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

(Atualização em 7/3/2014, às 20h59)

Durante a ditadura militar (1964-1985), muitos brasileiros deixaram o país e seguiram para o exterior. Era o início do exílio, que atingia uma parte da população brasileira, formada, sobretudo, pela classe média intelectualizada.

Ao lado das prisões e dos assassinatos com motivação política, o exílio teve a função de afastar os opositores do novo regime instalado em 1964. Nem todos, contudo, enquadraram-se nesse caso. Alguns exilados simplesmente resolveram deixar o país quando o presidente João Goulart (PTB) foi deposto. Foram para o exterior legalmente. 

A grande maioria, porém, saiu do Brasil em razão de suas posições políticas. Houve exilados que deixaram o país trocados por reféns ilustres. Em 1969 e 1970, organizações de esquerda sequestraram os embaixadores dos Estados Unidos, da Suíça e da Alemanha Ocidental. Em troca de sua libertação, exigiram que presos políticos fossem soltos pela ditadura. No total, os militares libertaram 125 pessoas - todas exiladas para o México, Chile e Argélia.

O exílio latino-americano

Na primeira fase do exílio, logo que os militares tomaram o poder em 1964, os lugares mais procurados foram o Uruguai e o Chile. Próximo à fronteira com o Brasil, o exílio uruguaio expressou o verdadeiro sentimento dos que haviam deixado o país: a expectativa de que a volta seria breve. Para os primeiros exilados, a ditadura acabaria logo, como prometera o general-presidente Humberto de Alencar Castello Branco (Arena), que governou o Brasil de 1964 a 1967, ou então seria derrubada pelas forças de oposição.

 

Leonel Brizola (PTB), por exemplo, foi um dos nomes de maior expressão entre os exilados no Uruguai. De lá, organizou o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), reunindo outros exilados e militares de baixa patente (sargentos, cabos e marinheiros) que ainda viviam no Brasil. Quando veio o golpe, muitos deles foram afastados de suas funções. Por isso, engajaram-se na resistência à ditadura. Inclusive pela força das armas.

No final de 1966, o MNR lançou a primeira ofensiva guerrilheira contra o novo regime. Com a ajuda de Cuba, que forneceu dinheiro, armas e treinamentos, 14 militantes da organização se instalaram na Serra do Caparaó, na divisa de Minas Gerais com o Espírito Santo. Queriam organizar uma guerrilha rural contra a ditadura. Mas a polícia acabou descobrindo o plano e prendeu todos os integrantes do MNR deslocados para a região.

Ditadura se consolida

Conforme a ditadura militar ia se consolidando, ficava claro que os militares iriam permanecer no poder. Para os exilados, a volta ao Brasil tornou-se uma ideia cada vez mais distante. Foi nesse momento que a luta armada contra a ditadura se intensificou. A repressão, por sua vez, também aumentou. Assim, muitos militantes de organizações de esquerda que pegaram em armas para lutar contra a ditadura começaram a ser presos.

Vários deles seguiram para o exílio. Porém, não mais em direção ao Uruguai, mas, sim, para o Chile. Esse país passou a ser o destino principal dos brasileiros. A experiência socialista do governo Salvador Allende atraiu muitos militantes de esquerda. Entretanto, a partir de 1973, com o golpe de Estado no Chile, tornou-se inviável a permanência dos brasileiros ali.

No Uruguai, onde os militares também tomaram o poder, os brasileiros se viram forçados a fugir novamente. Sobretudo porque as ditaduras latino-americanas tinham se unido para perseguir seus inimigos comuns - na chamada Operação Condor.

Rumo à Europa

Começou, assim, a busca por novos endereços. O principal destino dos exilados brasileiros foi a França. Paris tornou-se uma espécie de capital do exílio. Alguns brasileiros também se fixaram em outros países da Europa (como Suécia, Inglaterra e Portugal), do Bloco Socialista (União Soviética, em particular) e da América Latina (especialmente Cuba).

Do exterior, muitos ainda tentaram lutar contra a ditadura. Alguns poucos chegaram a voltar ao país, sendo que, desses, a maioria acabou morta ou presa pelo regime. Com o recrudescimento da repressão (que fez da tortura uma política de Estado), os brasileiros que estavam no exílio começaram a denunciar a violação dos direitos humanos cometida no Brasil, engrossando o movimento internacional contra a ditadura militar.

Essa fase do exílio brasileiro coincidiu, internamente, com a derrota que a ditadura impôs aos setores da esquerda que tinham optado pela luta armada. No exterior, os antigos guerrilheiros entraram em contato com outras experiências, renovando suas temáticas e também suas estratégias políticas. A esquerda brasileira mudava parcialmente sua concepção política, aproximando-se do novo cenário que se desenhava no Brasil.

Foi assim que a luta armada cedeu lugar à luta democrática. A revolução socialista poderia ser feita através da democracia, e não apenas pela força das armas, acreditavam os exilados. Assim, quando, em 1979, o governo brasileiro aprovou a Lei da Anistia, muitos dos que voltaram ao Brasil se integraram aos setores da sociedade que lutavam, desde meados dos anos 1970, pelo fim da ditadura e pelo restabelecimento da democracia.

 

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