Governo Prudente de Morais (1894-1898) - Presidente enfrenta Canudos
Renato Cancian
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
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Atualizado em 30/12/2013, às 15h26
O paulista Prudente de Morais foi o primeiro presidente civil da Primeira República. Sua eleição encerra o período dos governos provisórios dos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto e marca o início do predomínio da oligarquia cafeicultora no poder.
Prudente de Morais, porém, assumiu o governo federal num momento em que o país atravessava uma grave crise econômica e um conflito político envolvendo divergências de interesse entre as duas principais facções republicanas: os radicais florianistas e a oligarquia cafeeira. Prudente de Morais pacificou o estado do Rio Grande do Sul e venceu a Guerra de Canudos, essas vitórias fortaleceram seu o governo e seu mandato.
Crise econômica
No final do século 19, a economia brasileira continuava sendo predominante agrária. O Brasil era basicamente um país exportador de matérias primas e produtos agrícolas (café, algodão, borracha, etc.). O café era o principal produto de exportação, responsável pela geração de grande fonte de renda e divisas.
Porém, anualmente os preços do café vinham despencando devido à concorrência internacional, enquanto a produção interna aumentava. Mas os cafeicultores não eram prejudicados, porque eram protegidos e amparados economicamente pelo governo federal.
A industrialização ainda era muito incipiente. O governo se esforçava para estimular a expansão industrial através da concessão de financiamentos para a importação de maquinário, e criação de taxas alfandegárias que dificultavam a entrada de produtos manufaturados estrangeiros que pudessem concorrer com os produtos similares produzidos no país.
Ricos e pobres
As oligarquias agrárias de modo geral, mas principalmente os cafeicultores, não concordavam com a política governamental de incentivo à industrialização, pois queriam que os recursos empregados fossem canalizados exclusivamente para o setor rural e para produção agrícola voltada para exportação.
A grave crise econômica prejudicava as camadas populares urbanas e rurais. A inflação crescia e o dinheiro se desvalorizada rapidamente. O reajuste dos salários nunca acompanhava o aumento do custo de vida, e isso fazia com que o poder aquisitivo e, consequentemente, a condição de vida da classe trabalhadora piorasse.
Crise política
Os militares e a oligarquia cafeicultora foram os principais promotores da Proclamação da República. Porém, os dois grupos não compartilhavam dos mesmos ideais políticos, pois os militares desejavam a instalação de um regime republicano centralizado, enquanto os cafeicultores defendiam um regime republicano federativo, onde os Estados fossem econômica e administrativamente autônomos para serem controlados de acordo com seus interesses locais.
O conflito político entre os militares e a oligarquia cafeicultora ameaçou seriamente o governo de Prudente de Morais. O presidente porém, foi hábil e cauteloso na resolução das divergências, ao implementar uma política de pacificação e unificação das diversas correntes republicanas.
E, na tentativa de apaziguar os militares, aceitou a indicação de homens de confiança do marechal Floriano Peixoto para cargos importantes em seu governo. No final do seu mandato, Prudente de Morais conseguiu reverter a situação de crise política, neutralizar a oposição e consolidar os interesses da oligarquia cafeicultora.
Reação da oligarquia cafeicultora
Em meio a crise política e econômica, Prudente de Morais pôs fim à Revolução Federalista que ocorria no estado do Rio Grande do Sul. Apesar de os rebelados terem sido fortemente reprimidos no governo de Floriano Peixoto, eles continuavam a lutar. Com o fim da revolta, Prudente de Morais se fortaleceu politicamente.
Não obstante, veio a adoecer e precisou ser afastado da presidência. Assumiu o vice-presidente, Manuel Vitorino, que era um representante da ala radical florianista. A crise econômica se agravara, e as medidas adotadas pela gestão de Vitorino para solucioná-la aprofundaram o conflito entre a oligarquia cafeicultora e os florianistas.
Guerra de Canudos
Pouco antes de Vitorino assumir a presidência, a Guerra de Canudos havia começado, mas as três primeiras campanhas militares enviadas fracassaram. O governo federal sofreu um desgaste político em razão dos insucessos militares em Canudos. Prudente de Morais se restabeleceu, e reassumiu a presidência justamente neste momento, e organizou a grande campanha militar venceu a guerra com a destruição do contestado de Canudos.
Prudente de Morais sofreu um atentado quando estava passando em revista as tropas vitoriosas em Canudos. O soldado Marcellino B. de Miranda tentou ferir o presidente armado de uma faca. Ao perceber a ameaça o ministro da Guerra, marechal Machado Bittencourt, colocou-se entre o soldado e Prudente. Bittencourt recebeu três facadas, uma no peito, na virilha e outra em uma das mãos. Não resistiu aos ferimentos e acabou falecendo.
O atentado contra Morais fracassou, porém, deu condições para que o presidente decretasse o "estado de sítio", permitindo que suspendesse os direitos constitucionais e governasse com amplos poderes.
Com esse dispositivo, Prudente de Morais neutralizou a oposição política e assegurou o predomínio dos interesses da oligarquia cafeicultora no plano da política nacional. Prudente de Morais conseguiu ainda que seu sucessor fosse eleito, o paulista Campos Salles.
Elitismo republicano
A atitude do governo de Prudente de Morais diante das duas revoltas sociais que ocorreram no período, deixariam evidente a face elitista da República oligárquica. Com a elite rebelde gaúcha, o governo negociou o fim da Revolução Federalista e anistiou os envolvidos. Na Guerra de Canudos, ao contrário, cometeu um dos maiores massacres da história, republicana ao reprimir com violência a população pobre.
Neste conflito armado, as tropas militares governamentais não fizeram prisioneiros, pois os soldados eliminaram milhares de sertanejos. Os governantes da Primeira República que sucederam Prudentes de Morais adotariam o mesmo padrão de conduta diante dos movimentos sociais de caráter popular.
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