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Plano Cohen - Uma fraude para manter Vargas no governo

Vitor Amorim de Angelo

Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação

No dia 30 de setembro de 1937, o chefe do Estado-Maior do Exército brasileiro, general Góes Monteiro, anunciou, no programa radiofônico Hora do Brasil, a descoberta de um plano cujo objetivo era a derrubada do presidente Getúlio Vargas. Segundo o general, o Plano Cohen, como passou a ser chamado, tinha sido arquitetado, em conjunto, pelo Partido Comunista Brasileiro e por organizações comunistas internacionais.

Na época, os conspiradores foram acusados de planejarem uma nova insurreição armada, semelhante à Intentona de 1935, rapidamente sufocada pelo governo Vargas. A incursão comunista previa a eliminação de chefes militares, a agitação de operários e estudantes, a liberdade de presos políticos, o incêndio de casas e prédios, além de saques e depredações.

O documento apresentado como prova do plano comunista fornecia ainda orientações detalhadas sobre as ações de sequestro planejadas pelos revolucionários. Os alvos principais seriam "os Ministros de Estado, presidente do Supremo Tribunal, e os presidentes da Câmara e do Senado". O sequestro de dirigentes políticos e militares, que deveriam ser executados no mesmo dia, conforme o documento, serviria para "colocar em xeque as autoridades" em caso de "fracasso parcial" do levante comunista.

Estado Novo

No dia seguinte ao pronunciamento do general Góes Monteiro, diante da "ameaça vermelha", o governo Vargas solicitou ao Congresso Nacional a decretação do Estado de Guerra, concedido naquele mesmo 1º de outubro. Com os poderes constitucionais outorgados pelo Congresso, Getúlio deu início a uma intensa perseguição aos comunistas e também a opositores políticos, como o governador gaúcho Flores da Cunha, que rompera com Vargas em meados da década de 1930.

Algumas semanas depois, apoiado por várias lideranças nacionais, com as quais havia se articulado desde a revelação do Plano Cohen, Getúlio autorizou o Exército a cercar o Congresso Nacional, no Rio de Janeiro. À noite, em pronunciamento ao país, o presidente anunciou a outorga da nova Constituição. Começava, assim, o período final da Era Vargas, conhecido como Estado Novo, que terminaria apenas em 1945, com o afastamento de Vargas da presidência.

Em linhas gerais, a Carta decretada em 1937 fortalecia o poder do presidente da República, eliminava os partidos políticos, e instituía a pena de morte e o estado de emergência, por meio do qual o presidente poderia suspender a imunidade de parlamentares, autorizar a invasão de domicílios, a prisão e o exílio de opositores.

A revelação da farsa

Em 1945, em meio à crise do Estado Novo, o general Góes Monteiro revelou que o Plano Cohen, na verdade, não passara de uma fraude para justificar a permanência de Vargas no poder e reprimir qualquer tipo de ameaça comunista. Para garantir mais veracidade ao plano, a cúpula militar responsável pela "descoberta" do documento deu-lhe o nome de Cohen, numa referência ao líder comunista Bela Cohen, que governara a Hungria entre março e julho de 1919.

O documento, porém, tinha sido escrito pelo capitão Olímpio Mourão Filho, na época, chefe do Serviço Secreto da Ação Integralista Brasileira (AIB), partido de apoio ao governo Vargas. A pedido de Plínio Salgado, dirigente da AIB, Mourão Filho redigiu um texto simulando - para efeito de estudo - uma possível revolução comunista. Entretanto, uma cópia do documento chegou ao conhecimento da cúpula das Forças Armadas, que, através do general Góes Monteiro, anunciou o Plano Cohen como uma ameaça iminente.

A revelação da farsa acabou colocando frente a frente as diferentes versões para o episódio. Ao denunciar a fraude, em 1945, Góes Monteiro isentou-se de qualquer culpa, afirmando que o documento lhe havia sido entregue por Mourão Filho. Este, por sua vez, confirmou que elaborara o texto, mas tão-somente para ser utilizado, entre os integrantes da AIB, como uma simulação de um novo levante armado.

Mourão Filho, no entanto, acusou o então chefe do Estado-Maior do Exército de ter se apropriado indevidamente do documento. Segundo ele, a hierarquia militar - a função de capitão está abaixo da de general - não permitia que ele denunciasse o caso publicamente. Do outro lado, Plínio Salgado confessou que, embora tivesse conhecimento da fraude, não revelou a farsa militar para não desmoralizar o Exército, que, para ele, era a única instituição, na época, capaz de conter o "perigo vermelho".

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