Topo

Vaticano - conheça curiosidades sobre os papas que passaram por lá

Papa Bento 16 (2005-2013) fala a cardeais no Salão Clementino do Vaticano no último dia de seu pontificado - Osservatore Romano/EFE
Papa Bento 16 (2005-2013) fala a cardeais no Salão Clementino do Vaticano no último dia de seu pontificado Imagem: Osservatore Romano/EFE

Lucas Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

Figuras principais na instituição da Igreja Católica, a história dos papas é repleta de lutas pelo poder, assassinatos, renúncias e destituições. O prestígio do cargo chegou ao seu ápice no período da Idade Média.

Após a doação de vastos terrenos para a Igreja Católica feita por Pepino, o Breve, e seu filho Carlos Magno, no século 8, o cargo de papa passou a ser disputado pelas famílias italianas não para ser chefe da instituição, mas para comandar os estados pontifícios, explica Ivan Aparecido Manoel, coordenador do grupo de trabalho de história das religiões e das religiosidades da Unesp (Universidade Estadual Paulista). 


"Assim, os papas passaram a ser pessoas que intervinham na política interna de cada país e dos estados pontifícios. Por conta dessa briga pelo poder, muitos papas foram assassinos, depostos, como se fossem simples governantes de outros países", afirma Manoel.

Se houvesse algum tipo de litígio entre dois reinos, o papa fazia a função de juiz. Segundo o historiador, muitas vezes o pontífice intervinha até na eleição do imperador do Sacro Império Romano-Germânico (962 - 1806).

Em 1870, na unificação italiana, desapareceram os Estados pontifícios. No entanto, ainda de acordo com o professor da Unesp, em 1929, em uma concordata com o governo italiano, foi reconstruído o Estado do Vaticano, e os papas, desde então, voltaram a ser chefes de Estado.

Conclaves

Durante a existência do Sacro Império Romano-Germânico, os conclaves não possuíam a respeitabilidade que possuem na história contemporânea. “Se o conclave elegia o cardeal que era do interesse do imperador, respeitava-se. Caso contrário, intervinha-se, depunha-o e colocava-se outro no lugar”, afirma Manoel.

Dessa maneira, muitos papas renunciaram, como Bento 16, ou "foram renunciados", como foi o caso de:

- Ponciano, em 235 (julgava-se velho demais e sem condições para exercer o cargo); Eusébio, em 309 (sem causa conhecida); João 1º, em 526; Silvério, em 537 (acusado de ser traidor do imperador e deposto); João 3º, em 574; Martino 1º, em 655 (renunciou para não gerar guerra interna);  Constantino 2º, em 776; João 8º, em 882; Estêvão 7º, em 897; Bento 5º, em 965 (fugiu para a Alemanha); Bonifácio 7º, em 984; Gregório 6º, em 1046 (deposto e exilado); Celestino 5º, 1294; e Gregório 12, em 1414.

Mudança de nome

Nos primórdios da Igreja Católica era usual que o pontífice usasse seu nome de batismo. O último papa que seguiu essa tradição foi Marcelo 2º, eleito em 1501.

Segundo o historiador, há controvérsias de quando a mudança de nome passou a ser regra. Em uma versão, quem começou a mudança foi João 1º, em 523. Por achar que seu nome, Minerva, era de uma deusa pagã, o pontífice resolveu alterá-lo.

Em outras publicações, conta-se que na verdade foi João 2º (533-535), que se chamava Mércurio, valendo-se do mesmo argumento. Há ainda a possibilidade de ter sido o papa Gregório 5º, em 996, que tinha Bruno como nome de batismo.

Marózia

Segundo relatos, Marózia teria sido uma princesa toscana que teve forte influência na morte e eleição de vários pontífices no século 10, como Leão 6º e Estêvão 8º.

“Ela teria envenenado João 10º, em 928, e depois Estêvão 7º, em 931”, afirma Manoel, da Unesp.

João 10º teria sido encarcerado em Castel Sant’Angelo a pedido da princesa. Já Estêvão 7º teria sido eleito por influência de Marózia para assegurar o trono de Pedro para seu filho, que viria a ser o papa João 11.

"Como ela tinha acesso a um papa para envenená-lo? Era uma pessoa muito influente e não devia ganhar pouco com essas mortes", analisa o historiador.

Bento 9º: papa três vezes

Bento 9º é um caso raro na história. Exerceu o poder de papa por três vezes, no século 11. Embora não haja dados concretos de sua data de nascimento, que varia entre 1012 e 1020, Bento 9º foi um dos papas mais jovens, podendo ter assumido o trono de Pedro com apenas 12 anos.

Segundo o historiador da Unesp, seu primeiro pontificado, que se iniciou em 1032, foi comprado por seu pai que era conde de Túsculo, antiga cidade localizada na região do Lácio, na Itália. Foi obrigado a sair pela oposição, em 1045, e é sucedido pelo papa Silvestre 3º.

Bento 9º, então, não aceita a sua deposição e, apoiado por seu exército, expulsa o sucessor. Contudo, o pontífice fica menos de um mês no cargo e designa ao seu posto Gregório 6º.

Reassume o poder após a morte de Clemente 2º, em 1047, mas é afugentado por tropas germânicas em julho de 1048 e excomungado no ano seguinte.

Pio 12 e o nazismo

Houve uma série de escritos produzidos a partir de 1950 acusando os papas Pio 11 e Pio 12 de serem afeitos ao nazismo. Para Manoel, isso não corresponde à verdade.

“Fez-se uma concordata entre Roma e o Terceiro Reich para preservar a vida dos católicos e do clero", conta Manoel. A ditadura nazista não teria cumprido a concordata e, por isso, o papa Pio 12 escreveu um documento público denunciando Hitler e teria usado prédios do Vaticano para abrigar e esconder judeus.

"Não há possibilidade do catolicismo ter apoiado o nazismo.  Ele se fundamenta em alguns conceitos que não cabem no cristianismo, como a superioridade de raça", analisa o historiador.