América Independente - Simón Bolívar foi personagem principal
Túlio Vilela
"Libertadores da América"! Quando ouve essa expressão, a maioria dos brasileiros logo pensa na taça disputada todos os anos por times de futebol do Brasil e de outros países da América do Sul. O que, talvez, muitos não saibam é que o nome da taça é uma homenagem aos líderes dos movimentos de independência nos países da América.
Dentre esses líderes, o que mais merece o título de "Libertador" talvez seja Simón Bolívar, que lutou para vários territórios do continente americano deixarem de ser colônias da Espanha e se tornarem independentes. Esses territórios deram origem à Venezuela, à Colômbia, ao Equador, ao Peru e à Bolívia.
Não bastasse tudo isso, Bolívar reunia qualidades que o tornavam mais admirável que as figuras-chave dos processos de independência de outros países do continente americano. Por exemplo, enquanto George Washington, um dos líderes da independência norte-americana, era um rico fazendeiro dono de escravos, Bolívar, por sua vez, defendia a abolição da escravidão e chegou a libertar escravos na Venezuela.
Ideais Republicanos e democratas
Se compararmos Bolívar com dom Pedro 1º, que, como todo estudante brasileiro deve ou deveria saber, foi quem proclamou a Independência do Brasil no dia 7 de setembro de 1822, as diferenças são ainda maiores: enquanto dom Pedro era um monarca com claras tendências absolutistas, Bolívar defendia ideais republicanos e democráticos.
Apesar de Bolívar pertencer à elite criolla (criollos é como eram chamados os descendentes de espanhóis nascidos na América), da qual faziam parte fazendeiros, donos de minas e comerciantes, ele divergia da opinião da maioria dos membros dessa elite em pontos importantes: era favorável ao fim da escravidão (muitos criollos eram donos de escravos e defendiam a continuidade da escravidão após o fim do domínio espanhol) e considerava a América espanhola uma "nação mestiça", não uma extensão da Europa (como preferiam acreditar muitos criollos).
E Bolívar não ganhou admiradores apenas nos países que ajudou a tornar independentes, mas também em outras nações do continente, dentre as quais, o próprio Brasil. Só por isso já valeria a pena conhecer mais a respeito dessa figura histórica fascinante.
Infância e juventude de Bolívar
Simón Bolívar nasceu em Caracas, atual capital da Venezuela, em 1783, coincidentemente, o mesmo ano em que a Inglaterra reconheceu a independência dos Estados Unidos. Sua família era rica. A fortuna da família vinha do ouro encontrado no rio Aroa e das minas de prata da Venezuela.
Ficou órfão de pai antes de completar três anos de idade. Aos nove, ficou órfão de mãe. Após a morte da mãe, foi entregue aos cuidados de um tio, Carlos Palácios. No entanto, quem realmente cuidou do menino foi uma negra chamada Hipólita, que se tornou uma espécie de "segunda mãe" para Bolívar.
Outras figuras importantes foram dois de seus professores particulares, Simón Rodrigues e Andrés Bello, que incentivaram seu gosto pelo conhecimento e pelas ideias de liberdade. Aos 14 anos, Bolívar ingressou numa escola militar. Dois anos depois, viajou para a Europa com o objetivo de completar seus estudos. Lá, Bolívar entrou em contato com as obras dos autores iluministas que influenciaram tanto a Revolução Francesa quanto a Independência Norte-Americana.
Napoleão Bonaparte
Na capital espanhola, Madri, Bolívar conheceu Maria Teresa, com quem se casou. Menos de um ano depois voltou à Venezuela, então uma colônia espanhola, cujo nome oficial era Capitania-Geral da Venezuela. Ali, a jovem esposa morreu vitimada pela febre amarela. Viúvo, Bolívar retornou à Europa, onde assistiu à coroação de Napoleão Bonaparte.
Simón Bolívar não teve filhos, apenas um sobrinho, Guillermo, que morreu lutando ao lado do tio numa batalha em 1817, e uma sobrinha, Benigna, ambos filhos de sua irmã, Juana. Portanto, Simón Bolívar não deixou descendentes diretos (filhos, netos...), apenas indiretos (sobrinhos, sobrinhos-netos...).
Quando Napoleão Bonaparte ordenou que o exército francês ocupasse a Espanha, acabou criando condições favoráveis para o surgimento dos movimentos de independência: o rei espanhol, Fernando 7º, foi destituído, surgiram na América juntas governativas que inicialmente se declararam fiéis ao rei destituído, mas logo as elites criollas perceberam que o domínio espanhol estava fragilizado e viram na situação uma oportunidade para romperem com a Espanha.
Guerras de independência
Depois de passar pela Europa, Bolívar viajou para os Estados Unidos, experiência que o marcou bastante. Ao visitar os Estados Unidos, uma república federalista e independente, surgida a partir de ex-colônias da Inglaterra, Bolívar fortaleceu seus ideais republicanos e sua vontade de lutar pela independência das colônias espanholas.
Ao voltar para a Venezuela, organizou um exército e iniciou sua luta contra a Espanha. A fortuna da família foi usada para financiar as guerras de independência que travaria. Sua determinação, estratégia militar e liderança permitiram que obtivesse uma série de vitórias militares.
Assim, Bolívar se tornou o líder da libertação da Grã-Colômbia, que reunia as antigas colônias espanholas do Vice-Reino da Nova Granada e da Capitania-Geral da Venezuela. Durante a guerra, Bolívar pediu a ajuda do presidente haitiano Alejandro Pétion. Pétion forneceu soldados a Bolívar com a condição de que a escravidão fosse abolida na Venezuela.
Apesar das objeções da elite criolla venezuelana, da qual faziam parte vários donos de escravos, Bolívar cumpriu sua parte no acordo. A independência da Grã-Colômbia foi proclamada em 1819, após uma longa campanha que reuniu cerca de 2.500 homens em marcha pela cordilheira dos Andes. Bolívar foi aclamado presidente da recém-proclamada república.