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Bálcãs - Região é marcada por divisões históricas

Érica Turci

Podemos considerar os Bálcãs uma das regiões mais complicadas da Europa, e isso há muitos séculos. Uma série de conflitos marca a história da região, sendo que o último episódio, a independência de Kosovo (que se separou da Sérvia), em fevereiro de 2008, fez com que, mais uma vez, o mundo voltasse sua atenção para os Bálcãs.

A localização geográfica da Península Balcânica nos ajuda a entender muito do processo histórico dessa região: situada no sudeste europeu, essa península é um dos principais caminhos entre a Ásia e a Europa. Ali, as culturas ocidental e oriental - e seus respectivos interesses políticos e econômicos - chocaram-se diversas vezes.

Vários países compõem hoje a região: Albânia, Grécia, parte da Turquia na Europa, Romênia, Bulgária, além das repúblicas que compunham a ex-Iugoslávia: Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro, Macedônia, Sérvia e, desde fevereiro de 2008, Kosovo.

Vamos nos concentrar na história desses últimos sete países, a ex-Iugoslávia.

Povos eslavos nos Bálcãs

Durante a Alta Idade Média, tribos eslavas, vindas da Europa Central, passaram a ocupar os Bálcãs. Essas tribos eram, principalmente, sérvios, croatas e eslovenos; e, a partir do século 7, já ocupavam territórios mais ou menos definidos e organizavam seus próprios governos.

Mas é importante lembrar que, desde o século 4, a região tinha sido determinada como marco divisor entre as duas partes do Império Romano. Por isso, no século 9, os sérvios que se localizavam ao leste da região foram convertidos ao cristianismo ortodoxo, sob influência de Constantinopla (Império Bizantino), enquanto os eslovenos e os croatas se converteram à religião católica romana.

Assim, apesar de serem povos de mesma origem étnica, os eslavos dos Bálcãs foram se diferenciando. Por exemplo: a Sérvia e a Croácia, apesar de falarem a mesma língua, o servo-croata, adotaram alfabetos diferentes: os sérvios, o alfabeto cirílico; os croatas, o alfabeto latino.

Entre os impérios Austro-Húngaro e Turco-Otomano

Entre os séculos 7 e 14 os eslavos dos Bálcãs lutaram para estabelecer suas fronteiras, cabendo aos sérvios a preponderância nesse processo.

No século 12, a Eslovênia e a Croácia foram dominadas pela dinastia Habsburgo, do Sacro Império Romano-Germânico (parte do qual viria e se chamar Império Austro-Húngaro séculos depois), enquanto a Sérvia, que fazia parte do Império Bizantino, enfrentou problemas com a expansão turco-otomana na Ásia e Europa, no século 14.

Em 1389 os sérvios foram vencidos na Batalha de Kosovo-Polie e dominados pelos turco-otomanos (seguidores da religião islâmica). A região de Kosovo tinha forte significado para os sérvios, pois era sede de seus patriarcas (líderes religiosos da religião ortodoxa). A população sérvia de Kosovo, fugindo do domínio islâmico, se refugiou nas outras regiões eslavas: Croácia e Eslovênia, principalmente, mas também em Voivodina, na Hungria (todas essas regiões faziam parte do Império Habsburgo).

A partir de então o domínio islâmico se ampliou nos Bálcãs. Os turcos, sem condições de controlar todos os territórios que dominavam na Ásia e na Europa, estimularam a conversão à fé islâmica, permitindo aos convertidos o direito de fazer parte da administração de seu império. Os sérvios que se converteram passaram a se autodenominar bósnios. Os albaneses convertidos foram estimulados a ocupar Kosovo. Já os sérvios de Montenegro, região protegida por montanhas, conseguiram manter sua autonomia.

Essa situação de migração, tanto de refugiados sérvios quanto de albaneses e sérvios islamizados, vai se tornar o principal ponto da luta nacionalista dos séculos 19, 20 e 21.

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