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Comunismo: utopia, ciência e realidade (2) - O socialismo real

Antonio Carlos Olivieri, Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

Em novembro de 1917, na Rússia, em meio à Primeira Guerra Mundial e a uma imensa crise econômico-política, Lênin tomou o comando da Revolução popular que havia deposto o governo monárquico em março daquele mesmo ano. Lênin concentrou o poder nas mãos do Partido Comunista e combateu violentamente a oposição, considerando que "não se deve discutir com opositores, mas pô-los diante de um pelotão de fuzilamento".

Cinco anos mais tarde, o novo regime russo se estabilizava e a Rússia passava a comandar uma confederação de países seguidora de uma orientação marxista-leninista: a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Com a morte de Lênin, em 1924, ocorreu uma disputa pelo poder entre seus dois principais lugares-tenentes, Leon Trotsky e Josef Stálin, vencida por este último, que governou a União Soviética - com mão de ferro - de 1929 até 1953.

Após a Segunda Guerra Mundial, sendo libertados da ocupação nazista pelas tropas de Stálin, vários países da Europa centro-oriental se viram forçados a fazer parte do bloco soviético integrando a chamada "Cortina de Ferro". Em 1949, a China também aderiu ao comunismo, assim como, décadas mais tarde, Cuba e alguns países africanos. Tudo levava a crer que novas revoluções viriam a ocorrer, insufladas pelos países onde o comunismo triunfara. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos se encarregavam de enfrentá-las, promovendo contra-revoluções também violentas.

A queda do Muro
Entretanto, em vez de continuar se expandindo como se acreditava que podia acontecer nas décadas de 1960 e 1970, os regimes comunistas começaram a implodir no final dos anos 1980. Em 1989, a queda do Muro de Berlim marcou o fim do regime na Alemanha Oriental, que se unificou à Ociental (capitalista). Em agosto de 1991, depois de um período de abertura, a União Soviética entrava em colapso e se dissolvia.

A derrocada do comunismo - que hoje vigora apenas em Cuba, na Coréia do Norte e, parcialmente, na China - talvez encontre uma explicação na própria forma pela qual as idéias marxistas se tornaram realidade. Em todos os países onde a revolução comunista aconteceu, a ditadura do proletariado se transformou na ditadura do partido único, o Partido Comunista, cujos dirigentes e burocratas se transformaram numa casta de privilegiados, totalmente distanciada do resto da população.

O Partido tornou-se uma entidade suprema, cuja ideologia deveria ser adotada por todos, sem direito a qualquer tipo de contestação. Isso gerou um Estado policialesco, sempre à caça de dissidentes, que eram perseguidos, presos ou eliminados. Além disso, apelando à História para garantir a sua legitimidade, a propaganda comunista freqüentemente reescrevia a História, adaptando os fatos às necessidades de seus governantes. Por exemplo, a participação de Trótski na Revolução russa foi simplesmente apagada dos livros de história da União Soviética, após Stálin, seu adversário, ter chegado ao poder.

Também no âmbito econômico, o comunismo só produziu fiascos. Em todos os países em que foi implantado, a economia dirigida pelo Estado, não produziu prosperidade, mas sim estagnação. Além disso, no contexto da guerra fria, os países socialistas - em especial a União Soviética - privilegiaram a indústria bélica, que sugava recursos (econômicos, tecnológicos, etc.) de outros setores, tornando suas sociedades atrasadas em termos de bens de consumo, quando não gerando o racionamento ou desabastecimento de gêneros básicos.

Guerra nas estrelas
Evidentemente, os Estados Unidos também colaboraram para levar o regime comunista da União Soviética ao colapso. Na década de 1980, o presidente norte-americano Ronald Reagan, em especial, investiu em programas sofisticados e caros na área militar e espacial, forçando o governo russo a tentar acompanhá-lo. Sem dispor dos mesmos recursos da rica economia norte-americana, a União Soviética passou a sofrer os efeitos de uma violenta crise, que, afinal, fez desmoronar o regime.

Em 1989, estudantes universitários também promoveram manifestações e protestos na China, exigindo maiores liberdades, sendo violentamente reprimidos pelo governo chinês. Entretanto, para se perpetuar no poder, o Partido Comunista Chinês usou de um expediente paradoxal: tratou de colocar a sua economia nos rumos do capitalismo. O país hoje tornou-se emergente e liberal no plano econômico, embora no campo político continue vivendo a ditadura de um partido único.

Os descaminhos dos regimes socialistas e seu colapso não representaram absolutamente o descrédito ou o fim das idéias marxistas. Ainda hoje, é grande o número de adeptos da filosofia de Marx. Segundo eles, o colapso do comunismo foi, na verdade, o colapso do "socialismo real" ou "stalinismo", ou seja, de uma versão deturpada e autoritária do marxismo.

Atualmente, os pensadores de orientação marxista tentam repensar o que aconteceu no mundo nas duas últimas décadas, para adaptar o marxismo à nova realidade e descobrir os novos caminhos para uma luta - revolucionária ou democrática - para uma sociedade sem classes.