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Érica Turci*, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Ascenção do Imperialismo e lutas pela independência

Com o desenvolvimento industrial dos séculos XIX e XX, as potências mundiais iniciaram uma disputa acirrada por maiores mercados consumidores e fornecedores de matérias primas e, acima de tudo, buscaram regiões onde pudessem investir o capital excedente gerado pela crescente produção industrial. A esse processo dá-se o nome de Imperialismo.

Nesse contexto, os países europeus (principalmente Grã-Bretanha, França, Holanda, Bélgica e Alemanha) se digladiavam a fim de conquistar colônias pelo mundo a fora, principalmente na Ásia e na África. Como a Grã-Bretanha possuía a maior marinha e tinha sido o primeiro Estado a se industrializar, acabou saindo na frente, e se tornando a mais poderosa potência imperialista da época.

Em contrapartida, nesse novo contexto, Portugal, que já tinha possuído um grande império colonial, lutava para não perder suas antigas colônias.

A partilha da África

Desde o século XV, os principais interesses dos europeus na África eram o acesso a mão de obra escrava e a compra de alguns produtos, como o ouro e o marfim. Dessa forma, até o século XIX poucas regiões africanas tinham sido efetivamente colonizadas pelos europeus (principalmente portugueses e holandeses), que preferiram construir fortificações e feitorias no litoral, de onde negociavam com a população local.

Pouco se conhecia sobre a África. Mas, a partir do século XIX, o crescente interesse de exploradores e missionários por aquele continente, trouxe à tona as maravilhas do interior africano - terras infinitas, jazidas de minérios, pedras e metais preciosos -, despertando a cobiça dos industriais e dos governantes europeus. O rei Leopoldo II da Bélgica, por exemplo, financiou expedições à África e fundou, em 1876, a Associação Internacional Africana, ponto inicial para o processo de colonização belga.

Em 1885, o chanceler alemão, Bismarck, reuniu a Conferência de Berlim, a fim de dividir o território africano de forma amigável entre as potências industriais européias. Logicamente essa partilha foi feita pelos europeus e para os europeus, os povos africanos sequer foram notificados. A partir de então se intensificou a invasão, a conquista, a utilização da força armada, a exploração do território e do homem africano em favor dos interesses industriais.

Colonização

Independentemente de qual tenha sido a metrópole, a forma de colonizar empreendida pelos europeus foi praticamente igual em todas as colônias. Primeiramente buscavam alianças com as elites locais, oferecendo prestígio, riquezas, corrompendo o grupo dominante. Somente no caso de resistência é que partiam efetivamente a invasão armada. De qualquer forma, ou por “bem” ou por “mal”, os europeus passaram a determinar qual o regime político local poderia ser adotado e quais as atividades econômicas deveriam ser praticadas.

Um fator importante no processo de colonização foi a chegada de colonos europeus, que passaram a compor o aparato administrativo, o quadro de grandes comerciantes e senhores latifundiários. Dessa forma, o imperialismo também serviu ao propósito de diminuir a população residente na Europa (que havia crescido muito no século XIX).

A sociedade colonial foi se organizando a partir de traços culturais e étnicos: os brancos passaram a deter todo privilégio e os nativos foram submetidos: não podiam mais usar sua língua, não podiam mais realizar seus cultos religiosos, não podiam produzir segundo sua cultura agrícola milenar.

Em pleno século do desenvolvimento cientifico e tecnológico, os europeus legitimavam sua posição de classe dominante através das mais inventivas teorias racistas, amplamente divulgadas na época. Uma delas defendia que a chegada do europeu no território africano era uma benção para os povos locais, que assim sairiam de seu primitivismo e alcançariam o progresso, e por isso deveriam seguir cegamente os ditames dos dominadores.

“Deve-se lembrar ainda que as potências européias, intencionalmente ou não, semearam o ódio entre grupos étnicos que estavam sob seu domínio. Assim, em algumas colônias deram tratamento privilegiado a uma etnia em detrimento a outra (…) no contexto da estratégia que visava dividir para governar.” (Nelson Basic Olic)

Mas o próprio desenvolvimento das colônias trouxe consigo o questionamento desse modelo:

“A desarticulação da agricultura tradicional, a apropriação da terra (desconhecida na maioria das regiões), o aparecimento do trabalho assalariado e, sobretudo, a urbanização criaram condições para uma nova estratificação social: pequeno grupo de comerciantes e intermediários, agentes políticos e econômicos do poder colonial, plantadores ricos, elites letradas de tipo moderno, funcionários subalternos e proletariado agrícola ou industrial.” (Letícia Bicalho Canêdo)

Ou seja, dentro da própria estrutura colonial, uma camada social composta por africanos privilegiados, formada dentro dos padrões europeus (muitos cursando universidades na metrópole), foi se apercebendo da situação de colonizado e, por que desejavam ocupar os cargos públicos aos quais só os europeus tinham acesso, passaram a se organizar e lutar pela independência.

Decadência européia

A primeira metade do século XX marcou a decadência dos países europeus enquanto potências mundiais: a Primeira Guerra, a Crise de 29 e a Segunda Guerra levaram os europeus a crise econômica que acabou se alastrando por várias regiões e, principalmente a partir de 1945, as metrópoles não tinham mais condições financeiras para manter o custoso aparato militar em suas colônias.

Em 1945, também, foi lançada a Carta da Organização das Nações Unidas, que defendia, dentre outros pontos, o direito a liberdade e de autoderminação dos povos, marcando nitidamente o interesse dos Estados Unidos em liquidar de vez com o sistema colonial europeu.

E não podemos nos esquecer da Revolução Russa (1917) que, como primeira revolução socialista da história, disseminou pelo mundo os ideais marxistas e leninistas, ideais esses que chegaram aos ouvidos de muitos africanos como a única solução política, depois de anos de exploração colonial capitalista.

A descolonização

O processo de descolonização foi longo e dolorido em várias das antigas colônias. Se por um lado, como dito acima, as elites privilegiadas africanas se organizavam para obter a independência, por outro, essa mesma elite não atendia os interesses da grande maioria da sociedade, pois mal conhecia as comunidades agrícolas e as tradições populares. Dentro dessas comunidades africanas mais pobres surgiram milícias inspiradas no marxismo, que também desejavam a independência e a tomada do poder.

Dessa forma, dentro do próprio processo de independência, grupos africanos passaram a se enfrentar, numa guerra que, além de ser pela independência, também era uma guerra civil, entre a elite local e as milícias. Muitas vezes essas guerras eram incentivadas e patrocinadas pelos Estados Unidos e pela União Soviética, que estavam em pleno processo de Guerra Fria.

Além disso, a própria pluralidade étnica africana levou ao enfrentamento diferentes grupos étnicos durante e após as guerras de independência.

As lutas pela independência se iniciaram em 1956 (ano em que a Tunísia se tornou independente) e terminou em 1974, quando as colônias portuguesas receberam sua autonomia (depois da Revolução dos Cravos em Portugal).

Os problemas sociais, políticos e econômicos desses novos países africanos ainda hoje são graves: governos autoritários (tanto de direita quanto de esquerda), atuam de forma truculenta e mantém a exploração social; as antigas fronteiras territoriais impostas pelos europeus na Conferência de Berlim (1885) se mantêm quase inalteradas, gerando rivalidades entre os Estados, as tribos e as diversas etnias; o interesse econômico internacional pelas riquezas africanas acaba por incentivar as guerras civis e entre os países africanos; a intolerância mundial para com a cultura africana (ainda taxada como primitiva) faz que com poucos compreendem efetivamente a riqueza e a importância das tradições africanas; as ideologias racistas, que se impuseram pelos interesses europeus, ainda perduram na mentalidade ocidental, justificando a falta de atitude das organizações internacionais para socorrer esses novos Estados ainda em profunda crise.  

Bibliografia

CANEDO, Letícia B.. A descolonização da Ásia e da África. São Paulo: Unicamp, 1985.

CROUZET, Maurice. A época contemporânea. In: História Geral das Civilizações. São Paulo: Difusão, 1958

DUMAS, Veronique. África emancipada. In Revista História Viva. São Paulo: Duetto. Nº 83

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos. O breve século XX. São Paulo: Cia. das Letras, 1994.

MESGRAVIS, Laima. A colonização da África e da Ásia. A expansão do imperialismo europeu no século XIX. São Paulo: Atual. 1994.

OLIC, Nelson Basic e CANEPA, Beatriz. Conflitos do mundo. Um panorama das guerras atuais. São Paulo: Moderna, 2009.

Dossiê especial da Revista História Viva: Norte da África em chamas. São Paulo: Duetto. Nº 91

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