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Renascimento nas artes - Desenvolvimento cultural na Idade Moderna

Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

Sob a influência das ideias humanistas, o Renascimento floresceu na Europa ocidental. O desenvolvimento renascentista não foi homogêneo em todas as regiões. Variou de um lugar para o outro, mas seu maior esplendor aconteceu na Itália, em especial na cidade de Florença, mas também na região de Flandres e na Alemanha. De modo geral, eram localidades em que o comércio fez surgir uma burguesia rica, que se dispôs a financiar a produção artística e intelectual da época.

Famílias de mercadores-banqueiros, os próprios reis, ou então a Igreja, contratavam os melhores artistas para fazerem em suas cidades suntuosos edifícios, palácios, igrejas, estátuas, pinturas ou até mesmo para produzirem obras de arte em suas residências. Conhecidos como mecenas (referência a um patrocinador das artes na Roma antiga), essas pessoas tornaram-se protetoras da produção cultural renascentista, garantindo o sustento desses artistas.

Em Florença, por exemplo, os Médici eram a família mais rica da cidade. A fortuna deles iniciara-se graças à atividade do banqueiro Cosimo di Médici (1389-1464). Ele fundou uma academia dedicada aos estudos da filosofia de Platão e foi responsável pelo sustento de escultores, pintores e arquitetos que transformaram Florença em uma verdadeira obra de arte a céu aberto.




 

De modo geral, pode-se dizer que o Renascimento ocasionou uma imensa renovação nos mais variados campos do conhecimento e produziu artistas, pensadores, cientistas cujos trabalhos influenciaram toda a produção intelectual dos séculos seguintes.

 

Fé e razão

Durante a Alta idade Média (do século 5 ao 10), vigoraram na arte os estilos romanesco e gótico, de caráter essencialmente religioso. A arte - sobretudo pintura, escultura e arquitetura -, patrocinada pela Igreja visava transmitir ao homem as ideias de fé teocêntricas (concepção que tem Deus - do grego, Théos - como centro de todas as coisas), marcadas por um caráter místico que procurava afastar o ser humano de seus interesses terrenos.

Na pintura, a transformação teve início com Giotto (1267-1337), que apresentava trabalhos com motivos naturais e figuras humanizadas. Por volta desse mesmo período, durante a primeira fase do Renascimento, Dante Alighieri (1265-1321), contemporâneo de Giotto, escreveu a "Comédia" (depois chamada de "Divina"), consagrando o idioma florentino, ou a língua italiana, praticamente como é conhecida hoje. Estava chegando ao fim a hegemonia do latim, língua do clero, como veículo de transmissão de conhecimento. E a valorização dos idiomas regionais ou nacionais (vernáculo) será de grande influência para o surgimento posterior de Estados nacionais, libertos do domínio feudal.
 

Além de Dante, Francesco Petrarca (1304-1374) também escreveu poesia, valorizando uma temática comprometida com a existência humana, o amor de um homem por uma mulher, e apresentando os valores essencialmente humanos da antiga civilização greco-romana. Dessas obras, como de muitas outras, originou-se o antropocentrismo, que situa o homem (do grego ánthropos) como centro das preocupações e valoriza a razão em detrimento da fé.

Destacou-se, também, no século 14, Giovanni Boccaccio (1313-1375), mestre de irreverência que se expressou no vernáculo italiano em sua obra máxima, o "Decameron", uma coletânea de contos, na qual retrata os costumes populares e o panorama social da sua época.



Segunda fase do Renascimento

O século 15, os anos Quatrocentos, compreende a segunda fase do Renascimento. Trata-se de um período marcado por um maior desenvolvimento das artes em geral e do comércio. Nesse século, por exemplo, aconteceram as grandes navegações, devido às necessidades de se encontrarem rotas marítimas fora do Mediterrâneo. Num ímpeto comercial extraordinário, portugueses e espanhóis conquistaram o Atlântico, abrindo caminho para a Índia e para o Novo Mundo.

A pintura, em Florença, deu-se ao luxo de apresentar correntes diversas, que tinham como representantes Tommaso Masaccio (1401-1428), de estilo naturalista, Fra Angélico (1390?-1455), que desenvolveu uma arte mais ou menos próxima do estilo gótico, e Sandro Botticelli (1445-1510), que sintetizou as correntes anteriores.

A arquitetura, a literatura e as artes plásticas se irradiaram da Itália para os outros países europeus. Ao norte, em Flandres, destacaram-se pintores que retrataram o cotidiano da alta burguesia. O exemplo mais famoso é o quadro que mostra o casal Arnolfini, de autoria de Jan Van Eyck (1395?-144l), um dos precursores da pintura a óleo, que substituiu muitas das técnicas anteriores e se tornou uma das formas de pintura mais sofisticadas, até nossos dias. Também na Alemanha surgiram nomes de destaque, como Albrecht Duhrer (1471-1528), que retratou em sua obra o declínio do feudalismo.



Expansão do movimento renascentista

O século 16, o dos anos Quinhentos, correspondeu à terceira fase do Renascimento. Ele foi marcado por uma maior expansão do movimento cultural em toda a Europa. Na Itália, destaca-se Leonardo da Vinci (1452-1519), que deu enorme contribuição à ciência e à arte. É importante lembrar ainda o nome do matemático, físico e astrônomo Galileu Galilei (1564-1642), um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento científico do período.

Ainda nas artes plásticas, é imprescindível considerar o nome de Michelangelo Buonarroti (1475-1564), autor dos afrescos da capela Sistina, e de esculturas como Davi, Moisés, e outras, que por suas dimensões gigantescas evidenciam a concepção de grandeza do ser humano que vigorou no Renascimento.

No período do Quinhentos se difundiu o termo "humanista" por toda a Europa. Se a Itália apresentou nomes como o de Nicolau Maquiavel (1469-1527), que se destacou na literatura, política e filosofia, na Inglaterra e na França surgiram figuras do porte de Thomas Morus (1478-1535), François Rabelais (1494-1553) e Michel de Montaigne (1533-1592).



Obras e ideias

Maquiavel, em sua obra "O Príncipe", descreveu o modelo do governante perfeito, lançando as bases da ciência política. Também foi autor do livro "História de Florença", no qual, juntando informações históricas com reflexões políticas, aborda alguns dos acontecimentos mais marcantes da cidade que se transformou em símbolo do Renascimento.

Thomas Morus escreveu "Utopia", obra na qual idealizou uma cidade perfeita em que vivem harmoniosamente governantes e governados. Com essa idealização, o autor inglês, na verdade, estava fazendo uma profunda crítica à sociedade de seu tempo, principalmente contra os detentores do poder.

Rabelais (1494-1533) foi um dos escritores mais populares do período. Com as divertidas histórias dos gigantes Gargântua e Pantagruel, o autor satirizou com muita ironia e argúcia a igreja, a superstição e a represd são que dela se originavam. Outro romancista que se consagrou nesse período foi o espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616). Em sua obra mais importante, "Dom Quixote dela Mancha", escrita entre 1605 e 1616, o autor não apenas satirizou os romances de cavalaria, que faziam grande sucesso na época, como também discutiu as agruras da alma humana.



Evolução filosófica

No campo da filosofia, Montaigne (1533-1592) propunha o ceticismo como método, afirmando que a dúvida é uma atitude necessária diante de tudo, pois impede o fanatismo e desenvolve a tolerância, mostrando que ninguém é dono da verdade. Em termos, formais, sua obra também traz inovações: o "ensaio", um gênero que rompe com o rigor lógico das dissertações filosóficas.

Também no plano filosófico, deve-se destacar o nome de Erasmo de Roterdã (1466-1536), humanista holandês que conciliou os novos valores com o cristianismo e criticou a postura retrógrada da igreja no livro "Elogio da Loucura". Suas formulações teóricas, no entanto, acabaram desagradando tanto aos católicos quanto aos adeptos da Reforma religiosa.



Camões e Shakespeare

Em Portugal o Renascimento daria provas de sua fertilidade. Com Gil Vicente (c. 1465-1537) seriam lançadas as bases da dramaturgia em língua portuguesa. O autor escreveu diversos autos, entre os quais se destacam "O Auto das Barcas" e "A Farsa de Inês Pereira". O poeta Sá de Miranda (1481-1558), voltando da Itália, introduziu em seu país o novo estilo que foi brilhantemente manejado por Luís de Camões (1527-1580), em especial em sua monumental epopeia "Os Lusíadas", que reflete o esplendor e a miséria da expansão portuguesa, ao mesmo tempo que narra toda a história do país, mesclando mito e realidade.

Na Inglaterra, William Shakespeare (1564-1616), adotando as medidas poéticas italianas e adaptando o soneto ao seu idioma, também se imortalizou como dramaturgo genial, produzindo tragédias, refletindo a miséria e a grandeza da condição humana. Entre suas principais obras sobressaem "Hamlet" e "Macbeth", embora ele tenha ficado mais popular com a tragédia "Romeu e Julieta".



Declínio do período renascentista

Em fins do século 16, entretanto, as obras artísticas ou filosóficas já revelavam certas diferenças estilísticas em relação àquelas que se convencionou chamar de renascentistas, e refletiam mudanças em curso no plano sociopolítico. O Renascimento começava então a desaparecer.

Entre as principais causas desse desaparecimento está o fato de que parte da Igreja, acomodando-se ao modo de vida capitalista, rompeu com o retrógrado clero romano, promovendo diversas reformas religiosas que originaram novas igrejas cristãs. A partir daí, a Europa dividida entre católicos e protestantes tornou-se um continente em crise, onde predominam o obscurantismo, o fanatismo, as guerras religiosas e as fogueiras da Santa lnquisição. Nesse terreno árido, de medo e de incerteza, o Renascimento perdeu o equilíbrio e a harmonia que o fizeram florescer.