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Padre Vieira - Obra do maior prosador barroco

Vilani Maria de Pádua, Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação

Atualizado em 22/07/2013, às 15h59

A prosa barroca luso-brasileira é representada, especialmente, pelos sermões do Padre Antônio Vieira. Mesmo sendo português de nascimento, Vieira chegou à colônia com os pais, ainda menino, e poderia mesmo ter sido apenas mais um estudante do Colégio dos Jesuítas de Salvador. Todavia, sua genialidade no manejo das palavras, transformou-o no maior prosador em língua portuguesa e orador do século 17. Também um excelente latinista, ensinou retórica no Seminário de Olinda.

Seu interesse maior era a catequese dos índios. Para isso aprendeu suas línguas e percorreu por cinco anos as aldeias indígenas da Bahia, pregando para os nativos. Tal interesse o fez defender os índios do cativeiro, provocando a raiva dos colonos, que queriam escravizá-los no trabalho da lavoura e das minas.

Em 1653, no Maranhão, o "Paiaçu" (Padre Grande) - como o chamavam os índios - fez o "Sermão da Primeira Dominga da Quaresma" defendendo os nativos da escravidão, comparando-os aos hebreus escravizados no Egito.

Esta é a técnica da analogia, uma das muitas que caracterizam o texto barroco.

Junte-se ainda, recursos estilísticos e figuras de linguagem, como metáforas, alegorias, símiles, enumerações, apóstrofes e conceitos, com os quais tentava o convencimento dos que o escutavam e irritava aqueles contra quem lutava.

Ambiguidade quanto aos negros

Sua relação com a escravidão dos negros era ambígua. Um ano antes da sua ordenação fez o "Sermão 14 do Rosário", numa Irmandade dos Pretos, do interior da Bahia, condenando a escravidão dos africanos, comparado-a ao calvário de Cristo. Há mais três sermões com o mesmo tema (16, 20 e 27), porém, não mais com os fortes argumentos e poder de persuasão, especialmente o último.

Vieira já não condena os senhores pecadores que massacravam seus iguais, visto que filhos do mesmo Deus. Aceitava o princípio do "cativeiro justo" ou "sacrifício compensador", na expressão do professor Alfredo Bosi, com o qual se justificava a mão-de-obra escrava negra, como parte do plano divino, para redimi-los de pecados ancestrais, e mais, se não fosse o tráfico negreiro, morreriam na África, pagãos ou islamitas, dizia o jesuíta.

Sermão da sexagésima

O seu mais famoso sermão é o da "Sexagésima", grande representante do barroco e da sua capacidade de pregador. Feito no Maranhão, em 1655, nele, Vieira não apenas defende os índios, mas também e, principalmente, ataca seus algozes, os dominicanos, por meio de construções imagéticas sedutoras. Mesmo atacando a linguagem afetada, típica do barroco, usou-a não só neste, mas também em seus outros sermões.

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