Escola de Chicago - empirismo - Abordagem biográfica e criminalidade
A sociologia urbana elaborada no âmbito da Escola de Chicago foi responsável pela introdução de métodos de pesquisas originais para a obtenção de dados, todos baseados no empirismo, o que conduziu à catalogação de variadas formas de patologias sociais.
Destacam-se, nesse aspecto, os métodos descritivos, que deram base para os estudos biográficos feitos a partir de histórias ou relatos de vida - individuais ou de grupos similares.
Assim, ao invés de trabalharem com dados e informações secundários, ou seja, que já foram agrupados e sistematizados, os cientistas sociais e os estudantes foram estimulados a produzir e trabalhar com dados e informações primários.
A abordagem biográfica interpreta narrativas que são sustentadas pelos testemunhos e depoimentos dos sujeitos que são objetos de pesquisa. O emprego do método biográfico foi enriquecedor para a sociologia da época, pois valorizou a voz do sujeito que está sendo pesquisado, dando importância às representações e interpretações elaboradas por ele diante de sua condição social e de sua forma de viver.
Em segundo lugar, por meio dos estudos biográficos foi possível conhecer, em detalhes, as origens sociais dos sujeitos investigados, chegando ao cotidiano e às interações sociais que ocorrem no interior de grupos fechados, tais como gangues de rua, guetos, grupos de marginais e criminosos.
O conhecimento da trajetória de vida de um indivíduo delinquente ou criminoso forneceu, assim, bases empíricas para se estudar o comportamento desviante.
Criminalidade e imigração
O estudo da grande metrópole norte-americana, por parte dos pesquisadores da Escola de Chicago, privilegiou algumas temáticas. As variadas formas de criminalidade e o fenômeno da imigração foram os temas mais bem estudados.
Sem dúvida alguma, essa tendência se deve ao fato de que os problemas sociais que mais dramaticamente afetavam a cidade estavam relacionados com a criminalidade, a marginalidade e a chegada de grandes contingentes de imigrantes.
Sobre a criminalidade em suas variadas formas, os estudos mais importantes chegaram à conclusão de que as zonas ou regiões urbanas que se encontravam em estado de deterioração, desorganizadas e carentes de serviços públicos básicos (os chamados cinturões de pobreza) eram os habitats propícios para o surgimento e ação das gangues de rua e bandos de delinquentes juvenis. Consequentemente, eram as regiões que apresentavam as maiores taxas de criminalidade.
Desse modo, os pesquisadores demonstraram que a cidade tinha áreas sociais que geravam o crime: o espaço urbano degradado condicionava a quebra das regras e instituições sociais (escola, família) e, de certa forma, determinava os comportamentos desviantes.
Sobre a imigração, os pesquisadores procuraram compreender as interações que ocorrem quando da chegada do imigrante na grande metrópole. Basicamente, identificaram quatro tipos básicos de interação social: competição, conflito, acomodação e assimilação.
Legado
A orientação dos estudos sociológicos elaborados no âmbito da Escola de Chicago dominou a sociologia norte-americana até por volta da metade da década de 1930, mas sua influência se estendeu nas décadas seguintes.
A Escola de Chicago desempenhou papel relevante na institucionalização da sociologia como ciência acadêmica nos Estados Unidos.
Ao centrar seus estudos nos problemas sociais, porém, ela foi criticada por negligenciar a elaboração de teorias sociológicas a partir da reflexão intelectual dissociada da sociologia aplicada. Até certo ponto, essa afirmação é verdadeira, mas as contribuições que a Escola de Chicago forneceu à sociologia são inegáveis.
O confronto com o real, a partir da imersão do cientista social no meio urbano e na vida das comunidades, tendo a pesquisa de campo como método privilegiado de proceder à observação e à coleta de dados, foi um instrumento pedagógico inovador, tornando-se a marca distintiva da sociologia produzida no âmbito da Escola de Chicago. "Sujem suas mãos e suas calças" era a metáfora empregada por Park para incentivar os estudantes do programa de sociologia a irem a campo.
Outras contribuições importantes da Escola de Chicago foram, certamente, os estudos de criminologia (sociologia criminal) e os métodos biográficos, que, depois de muitas décadas em desuso, voltaram a ser valorizados e empregados de forma recorrente pelas ciências sociais em geral.
Além disso, a principal publicação da Escola Sociológica de Chicago é, até os dias de hoje, uma fonte de pesquisa inestimável: o American Journal of Sociology.
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