Humanismo clássico (1) - Retorno é proposto num tempo de declínio das tradições
Celina Fernandes Gonçalves Bruniera, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Na passagem da tradição à modernidade torna-se comum o declínio do sentimento de pertencer à comunidade. A isso se acrescenta a sensação crescente de distanciamento entre os indivíduos e a sociedade.
A distância entre o indivíduo e a sociedade faz emergir alienação em relação ao mundo e a si mesmo . Esse estranhamento é caracterizado pela pouca condição que os homens têm de se integrar à sociedade a partir de um material cultural e social que não lhes pertence.
Nesse contexto é que entendemos a importância de nos voltarmos ao passado para compreender como se dão as mudanças sociais e como elas delineiam o caráter das relações sociais e novas formas de socialização.
O que distancia as gerações
Para autores como Walter Benjamin e Hannah Arendt, a diminuição do compartilhamento de referências simbólicas na cultura contemporânea seria um elemento que distancia gerações. A transmissão da tradição, do legado dos mais velhos aos mais novos possibilitada nas sociedades tradicionais, é praticamente inexistente.
Hannah Arendt traz a discussão para o campo da educação. No mundo contemporâneo, quem educa - qualquer adulto que seja responsável por apresentar o mundo aos mais jovens - vê a transmissão da herança dos antepassados como sem sentido. Já não se encontra um contexto que sirva de moldura a essa formação, nem existem interessados em recebê-la. Arendt propõe uma volta ao humanismo clássico a fim de compreender a questão.
Legado a ser transmitido
A educação, no seu sentido clássico, pode ser entendida como a transmissão do legado dos antigos às gerações mais novas. O educador seria quem se responsabiliza por compartilhar com os mais jovens a tradição herdada do passado, o "mediador entre o velho e o novo".
Compartilhar seria um diálogo entre gerações diferentes. Haveria entre elas o compromisso de considerar o passado como modelo e de permitir aos mais novos atribuir sentido à tradição transmitida, dar forma ao conteúdo recebido e construir novos conteúdos.
Para o ideário humanista, a educação assumiria o caráter de formação, caracterizada por acesso à cultura humana e interpretação dessa cultura por outras gerações. Tal processo seria possível se o ensino acolhesse a re-significação do legado e não se resumisse a seguir um receituário.
Dos humanistas aos dias atuais
O resgate do sentido clássico da educação foi feito, primeiramente, pelos humanistas de Florença, no século 16. Surgiu como um esforço de aproximar a formação renascentista da formação clássica romana. Buscava-se um ideal que pudesse orientar a educação das gerações futuras.
Esse movimento ganhou relevância, nos dias atuais, pelo caráter de aproximação apresentado pela tradição clássica. Uma proposta de retorno ao passado para alimentar a reflexão crítica sobre o presente e configurar um projeto para a formação das gerações mais novas, diminuindo a sensação de não pertencer ao próprio mundo.