Falta preparo nas escolas para lidar com o bullying, dizem especialistas
As escolas ainda não têm o preparo necessário para lidar com os frequentes casos de intimidação de alunos, o chamado bullying. Segundo especialistas ouvidos pelo UOL Educação, não se trata apenas de uma questão pedagógica, mas deve envolver também todos os lados afetados: tanto o dos alunos, pais e professores, quanto o da sociedade.
"Não diria que todas as escolas não estão preparadas, mas o que tenho observados nos contatos que tive é que os docentes não estão preparados para lidar com o bullying assim como não estão preparados para lidar com a indisciplina", diz Nelson Pedro-Silva, professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e especialista em bullying.
Ele explica, fazendo analogia ao filósofo Kant - que dizia que o professor tinha de estar dois passos à frente do aluno, mas estava um passo atrás - que o professor de hoje está três passos atrás dos atuais estudantes. "Eles não conseguem acompanhar até por conta das mudanças da sociedade, das longas jornadas de trabalho, da formação deficiente e da desvalorização do educador que ocorre em nossa sociedade. Não temos que satanizar o professor, mas temos que compreender que todos nós somos responsáveis por essa situação."
Para o professor William Sanches, estudioso do assunto, a maioria dos estabelecimentos ainda não "incorporou" a discussão do bullying em sala de aula. "A violência sempre existiu e há uma tendência de as escolas não admitirem sua ocorrência entre seus alunos" diz ele, por ser um tema "desconfortável" e desconectado aos valores "construtivos e pacificadores" do universo escolar.
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O docente defende uma maior integração entre a família e a escola para a mediação do problema, com o professor como mediador. "A escola e a família hoje estão muito distantes. Eles cobram um do outro e a criança, nesses casos, fica num jogo de pingue-pongue", diz.
Soluções
De acordo com o professor Silva, não só professores, mas todos os funcionários das escolas deveriam ter preparação de ordem psicológica para aprender a lidar com as diferenças em sala de aula. "Às vezes, o próprio professor não consegue lidar com a criança considerada 'diferente'. Há muitos professores e coordenadores que ainda estão ligados naquela moral dos anos 60. Esses profissionais precisam se conhecer melhor para lidar com os problemas dos alunos", diz.
Na escola, o docente aponta a discussão entre estudantes e professores como a melhor arma para o combate do bullying. Isso pode ocorrer por meio de palestras, reuniões entre alunos e pessoas que foram vítimas de violência e a elaboração de cartazes sobre o tema. Outra medida importante é identificar os alunos que praticam bullying, com o intuito de compreender por que elas praticam tais atos. No entanto, ele lembra que a solução não está só no âmbito educacional: "temos que lembrar que isso extrapola a escola, é um problema, antes de tudo, social", diz.
O professor William salienta a importância de a escola falar com os pais dos estudantes, para que eles, em casa, também possam detectar se o filho está sofrendo bullying. "É preciso haver um trabalho conjunto; a escola já recebe uma carga muito grande da sociedade, mas é uma vítima também. Ela tem que ser uma extensão da vida em sociedade", explica.
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