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Mais de 700 mil estudantes de públicas têm menos de quatro horas de aula por dia

Rafael Targino

Em São Paulo

27/04/2011 07h00Atualizada em 27/04/2011 12h03

Mais de 700 mil estudantes da rede pública ainda têm menos de quatro horas de aula por dia no país, sem nenhuma atividade complementar posterior. O dado está no Censo Escolar 2010, que também mostra que cerca da metade deles têm aula após as 17h –ou seja, no período noturno.

A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) diz que o aluno brasileiro deve ter, pelo menos, 800 horas de aula distribuídas por 200 dias letivos, o que dá uma média de 4 horas/dia. Há mais um grupo de 19 mil alunos, além dos 700 mil, que tem menos de quatro horas e faz algum tipo de atividade complementar, como reforço ou esportes.

Esse contingente representa aproximadamente 2% dos quase 44 milhões de alunos de escolas públicas. A grande maioria deles (25,9 milhões) passa entre quatro e sete horas estudando.

O total de alunos com menos de quatro horas diárias de aula com ou sem complementação posterior é de 724.701. Desses, 323 mil estudam a partir ou após as 17h e 37 mil começam em um horário intermediário, entre 10h e 13h.

Segundo a secretária de Educação Básica do MEC (Ministério da Educação), Maria do Pilar Lacerda, o total de estudantes que passam menos de quatro horas em sala deve ser zerado somente em 2013 ou 2014. Ela afirma que o número, apesar de "pequeno", é "preocupante".

Maria do Pilar diz que o governo está investindo em transporte escolar e na construção de escolas para evitar o "turno da fome" (que acontece no horário do almoço) –o que a secretária  classifica como "a pior coisa que pode acontecer".

"As construções de prédios públicos, principalmente nas grandes cidades, são muito complicadas. É preciso um processo consistente. Qualquer solução muito rápida, a gente tem que desconfiar", diz.

"Incapacidade"

Para o professor da Faculdade de Educação da UnB (Universidade de Brasília) Remi Castioni, o fato de esses alunos passarem menos tempo na escola mostra certa “incapacidade” do sistema. "São pessoas que vão ter sérias dificuldades no seu itinerário: terão dificuldade de permanecer no fluxo escolar normal, ou vão levar dois anos para completar um, ou vão ficar retidos. Provavelmente, vão ter grandes chances de abandonar a escola", diz.

Castioni sugere a criação de um "plano tático" para resolver o problema. "Não vejo outra solução. [Precisamos] Criar planos táticos: envolver gestor, professor e conselho escolar, colocar na mesa para enfrentar isso, descobrir quem vai pagar a conta."