Topo

Receita ancestral de vinho de laranja é resgatada por estudantes do interior de MG

Estudantes de São Tiago (MG) pesquisam vinho de laranja - Leandro Moraes/UOL
Estudantes de São Tiago (MG) pesquisam vinho de laranja Imagem: Leandro Moraes/UOL

Camila Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

14/03/2012 12h30

Uma receita de vinho de laranja da pequena São Tiago (MG, a 200 km de Belo Horizonte) foi tema de um dos projetos científicos apresentados na Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia), que começou nesta terça-feira (13), em São Paulo.

Oriundas de uma escola estadual da cidade de 10,5 mil habitantes, Isabella Vivas Sampaio, 17, Mariana de Assis Souza, 16, e Marisa Sacramento Sampaio Rosário, 16, decidiram conhecer as técnicas artesanais de produção de uma bebida fermentada feita à base de água, açúcar mascavo e laranja. As estudantes do contam que a receita “foi passada da dona Inacita para a dona Mindica, que é mãe de seu Zé, que é pai de Ronaldo Antônio de Castro”, o co-orientador do projeto.

Elas visitaram a casa de José Resende de Castro, o seu Zé, e de sua esposa Maria da Conceição Sousa de Castro, a Dona Ná, para aprender a receita original. Repetiram depois procedimentos como espremer a laranja com as mãos (e não com um aparelho elétrico), coar o suco com panos limpos e vedar as garrafas usadas para fermentação com cera de abelha. 

Seu Zé sintetiza o processo químico: “Não tem nenhuma gota de álcool no vinho, é no fermentá (sic) que dá o álcool, ele vira lá dentro” –a frase estampa o banner do estande do grupo.

A ideia foi analisar cientificamente um processo que foi desenvolvido empiricamente. Para isso, usaram conhecimentos de física, química e biologia.

“Em algumas fases do processo, como a vedação para fermentar a mistura de laranja e açúcar, era feita para não oxidar o vinho nem explodir o garrafão, mas eles não sabiam explicar isso cientificamente”, conta Mariana.

A bebida tem aproximadamente 15% de teor alcoólico e não estava sendo exposta no evento. “A ideia foi recuperar a memória de um produto da nossa cidade e fazer, ao mesmo tempo, um trabalho interdisciplinar -não estimular o consumo de álcool”.

A classificação para a Febrace veio porque o projeto foi o primeiro classificado da categoria didática da I Mostra de Ciência de UFMG, no ano passado.

A feira

Não são apenas robôs e experimentos químicos que ocupam os corredores da feira. Propaganda nazista, Caetés (primeiro romance de Graciliano Ramos) e cartas de alforria foram temas de alguns trabalhos científicos apresentados na feira. “No Brasil, as pessoas pensam que ciências são apenas ciências naturais. A ideia é que o estudante aprenda a fazer um trabalho cientifico, e há muitas áreas a serem exploradas”, avalia Roseli de Deus Lopes, coordenadora geral da Febrace.

Além das ciências humanas, os projetos estão divididos em outras seis categorias: ciências exatas e da terra, ciências biológicas, ciências da saúde, ciências agrárias, ciências sociais e aplicadas e engenharia.

Há dois métodos de seleção: o primeiro é por meio de submissão direta dos autores; o segundo é por meio de 54 feiras de ciências afiliadas à Febrace. Há projetos científicos de todos os Estados brasileiros.

Dentre os 750 estudantes que estão participando, 70 vão receber uma bolsa de iniciação cientifica do CNPq, que pode ser para continuar o mesmo projeto ou para iniciar outra investigação, conta Lopes. Além do orientador de sua escola, o estudante deverá procurar a orientação de um professor de uma universidade ou de um centro de pesquisa.

Edição do ano que vem

Quem quiser participar da edição do ano que vem, as inscrições para novos projetos vai até 29 de outubro pelo site da Febrace. A divulgação dos finalistas vai ser no dia 18 de dezembro de 2012.

A feira de 2013 acontecerá  nos dias 12, 13 e 14 de março, e as cerimônias de premiação serão nos dias 15 e 16 de março.

Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia)
QUANDO: de 13 a 15 de março
ONDE: Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP)
MAIS: www.febrace.org.br