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Formado na Rússia, médico vai gastar R$ 10 mil para validar diploma

O brasileiro Diego Marques Fontes Muritiba na formatura do curso de Medicina na Rússia - Acervo Pessoal
O brasileiro Diego Marques Fontes Muritiba na formatura do curso de Medicina na Rússia Imagem: Acervo Pessoal

Cláudia Emi Izumi

Do UOL, em São Paulo

13/03/2013 06h00

Dez mil reais é a quantia que Diego Marques Fontes Muritiba, 27, terá de pagar pela tradução juramentada de documentos e cópias que comprovam a graduação em medicina na Rússia.

O brasileiro tem um dossiê de 53 páginas que detalha, de maneira minuciosa, o conteúdo curricular do curso de seis anos na Academia Médica de Moscou Sechenov, em que se formou no primeiro semestre de 2012. É com esse dossiê que pretende garantir seu direito à revalidação do diploma no país.

Há duas formas de revalidar no Brasil o diploma de medicina obtido em instituição de ensino superior estrangeira. Uma delas é pelo Revalida, exame que pede inicialmente uma cópia do diploma emitido pela universidade estrangeira e mais a aprovação em provas teóricas e práticas que são realizadas em duas fases.

A checagem da documentação ocorre só depois e a tradução, dispensada para diplomas emitidos em países de língua espanhola, é exigida para outros idiomas. No caso de Muritiba, é em russo, o que torna a tradução mais cara do que as demais.

O segundo processo para revalidar o diploma médico é por meio de 38 universidades federais. A revalidação ocorre também em duas etapas, além do envio de tradução juramentada de documentos, entre outros requerimentos que variam de acordo com a instituição escolhida.

Gastos elevados

Muritiba tentará o Revalida neste ano, mas não vai depositar todas as suas esperanças no exame. Paralelamente, pedirá o reconhecimento do diploma de médico nas universidades federais.

Casado com uma russa, que migrou com ele para o Brasil, Muritiba não tem o registro profissional que o permite trabalhar como médico no Brasil porque seu diploma precisa ser reconhecido primeiro. Esse é o mesmo cenário em que muitos outros brasileiros vivem por terem se formado em medicina em universidade estrangeira.

Desde que voltou ao país, logo após a formatura em 2012, Muritiba passa os dias estudando. Diariamente, dedica de oito a dez horas para os livros e frequenta um cursinho de residência como meio de se preparar para o Revalida.

As taxas de inscrição do exame custam R$ 100 (1° fase) e R$ 300 (2° fase). Já nas universidades federais, o valor é bem superior. Desembolsa-se aproximadamente R$ 1.000 para um único processo de revalidação de diploma (R$ 400 na 1° fase e, se passar, mais R$ 600 na 2° fase). Muritiba se inscreverá em pelo menos três instituições de ensino.

Os gastos não se limitam às inscrições. Morador em São Paulo e com provas em outros Estados, terá ainda de arcar com transporte e pernoite nas cidades onde as provas são marcadas.

Bolsa de estudos

Em 2005, Muritiba morava na cidade de Salvador. Naquele ano, tentou o vestibular para medicina na UFBA (Universidade Federal da Bahia) e não passou.

Já considerava prestar em instituição paga, mas, para sua surpresa, foi selecionado para a bolsa de estudos na Rússia, país onde o termômetro pode chegar a -30°C. A bolsa cobriria os cerca de US$ 3 mil anuais do curso, mais US$ 1.500 mensais para moradia.

Antes de iniciar a graduação, ele passou por um período de preparação. Teve aulas de biologia e química e estudou russo durante um ano. “Hoje há universidades com a opção de se estudar em inglês, mas na minha época não tinha isso.”

Para ele, as provas do Revalida levam muito em conta o SUS (Sistema Unificado de Saúde). “O meu problema atual é traduzir o aprendizado na Rússia para as diretrizes brasileiras. Mas tenho total confiança na ‘bagagem’ que trouxe da Rússia. Acredito que vou passar”, diz.