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Enem 2014: redação pediu postura 'menos' radical, dizem professores

Andréia Martins

Do UOL, em São Paulo

09/11/2014 18h11

O tema da redação deste ano do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), "publicidade infantil em questão no Brasil", pegou candidatos e avaliadores de surpresa, mas na opinião de professores ouvidos pelo UOL, trata-se de um tema pertinente e que exigia uma argumentação “menos radical” dos candidatos.

“O tema não é difícil. O que pode ter confundido os alunos é o tom da redação. Pela proposta, o ideal era não fazer um discurso muito radical ou amplo contra o consumismo, naquela linha de que ‘o consumo faz a criança querer ter e não ser’, mas trazer a discussão para a sociedade, porque o foco é a publicidade com relação às crianças, um público mais vulnerável”, avalia o diretor pedagógico da Oficina do Estudante, Célio Tasinafo.

Para a professora Cida Custódio, do laboratório de redação do Curso e Colégio Objetivo, o Enem esperava que os alunos escrevessem sobre como os países adotam suas legislações sobre o tema, qual a diferença entre um país com regras mais soltas e outro que proíbe qualquer tipo de publicidade infantil e, principalmente, oferecer sugestões de qual deveria ser o papel do Congresso Nacional e de outros agentes sociais, como a escola.

A proposta de redação trouxe um texto jornalístico que discute se a publicidade infantil deve ser proibida no Brasil, um infográfico sobre a publicidade para crianças no mundo e um texto sobre a criança como o consumidor do futuro.

Atualidade

Cida Custódio destacou a relação do tema com a cidadania, o que ela considera uma característica dos temas cobrados pelo Enem na redação. Para Tasinafo, o tema é atual e de relevância, e o candidato que aproveitou bem as discussões sobre temas como capitalismo, consumo e cidadania, muito falados nas aulas de sociologia e filosofia, “conseguiu reunir bons argumentos e se sair bem na redação”.

“Mais uma vez o Enem aposta em um tema que evoca a cidadania. De 1999 para cá, esses temas são cada vez mais estão presentes nas provas, assuntos que envolvem a atuação do cidadão, individualmente ou coletivamente, visando melhorar a qualidade de vida da sociedade”, diz a professora.

Segundo ela, o Enem buscou o tema na Resolução 163, aprovada em abril deste ano e que considera ilegal “a prática do direcionamento de publicidade e comunicação mercadológica à criança com a intenção de persuadi-la para o consumo de qualquer produto ou serviço”. Pela medida, a publicidade pode continuar existindo, mas deve ser direcionada aos adultos.

“Essa medida foi muito mais discutida pelo mercado publicitário do que pela sociedade, daí a surpresa da escolha”, avalia Cida.

“O tema deu margem para argumentos originais, com os candidatos trazendo as suas próprias experiências para o texto. Foi possível para se posicionar e apresentar as propostas de intervenção que o Enem sempre espera dos candidatos. Não uma conclusão geral, oferecer caminhos”.