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Professores sem salário do DF organizam bazar para complementar renda

Professores estão com o salário de dezembro, décimo terceiro e férias atrasados - Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Professores estão com o salário de dezembro, décimo terceiro e férias atrasados Imagem: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Luciano Nascimento

Da Agência Brasil, em Brasília

11/01/2015 11h41

Um bazar com roupas, alimentos, produtos de beleza, cadernos, revistas em quadrinhos e ouros produtos foi a forma que os professores da rede pública de ensino do Distrito Federal encontraram para chamar a atenção para a grave situação da categoria. Com os salários de dezembro, décimo terceiro e férias atrasados, eles decidiram realizar a feira e tentar arrecadar dinheiro para ajudar a pagar as contas.

Convocado pelo Facebook, o evento ocorreu neste sábado (10), no Parque da Cidade, e foi batizado de Feira dos Professores – sem salário, 13º e férias – do Distrito Federal. A feira atraiu diversos profissionais insatisfeitos com a forma como a categoria está sendo tratada, além de frequentadores do parque.

A professora de matemática Ana Cristina Moreira contou com a ajuda dos parentes: a irmã preparou doces para serem vendidos durante a feira. “Nós [os profissionais de educação] nos preparamos para nos doar para a sociedade e é isso que recebemos”, disse a professora, que classificou o atraso no pagamento dos salários de constrangedor. "Já passamos um ano estressante e no período em que deveríamos estar descansando, acontece isso. Eu estou contando com o auxílio da minha família para pagar as contas, mas e quem não tem quem ajude?”, questionou.

A professora de língua espanhola Flávia Werneck, criadora do evento, disse que a iniciativa é realizada de forma independente sem “bandeiras sindicais ou partidárias” e visa a expressar a indignação com o descaso em relação ao professor. "Este é um ato simbólico, nós não temos a pretensão de arrecadar dinheiro para pagar todas as nossas contas. É muito triste na verdade este cenário e é um alerta para a sociedade, em geral, para que eles tenham noção daquilo que estamos passando. É um absurdo completo que a gente tenha chegado a este ponto”, criticou ela. “O professor precisa lançar mão disso aqui [venda de produtos] para complementar a sua renda, portanto isso aqui já é uma realidade para ele”, complementou a professora.

A iniciativa chamou a atenção das pessoas que passavam pelo parque neste sábado. O servidor público João Carlos Correa foi um deles. Ele disse que ficou sabendo do evento pela rede social e resolveu prestigiar a categoria. Correa comprou um caderno para a filha das mãos da professora de artes Vânia Cavalcante, que trabalha em uma escola do Gama. “A gente veio aqui para isso [apoiar os professores]. Nossos filhos estão nas mãos deles e eu acredito que o mínimo que o estado deveria fazer é não atrasar os salários. Não estou falando nem de aumento que também deveria ocorrer, só do básico mesmo que é o pagamento em dia”, disse Correa à reportagem.

Vânia, que tem dois filhos, conta que a confecção de cadernos foi a forma que encontrou para conseguir uma renda extra. “Hoje vence o meu aluguel e eu não tenho dinheiro para pagar, realmente é uma situação difícil”, desabafou.

Na sexta-feira, os professores e profissionais da saúde realizaram um protesto em frente ao Palácio do Buriti, sede do Executivo distrital. Com os salários de dezembro atrasados, eles fecharam o Eixo Monumental e a quadra 102 Sul, área central em Brasília. Inconformados com os atrasos, os professores decidiram acampar em frente ao Palácio do Buriti até receberem os valores devidos. Já os profissionais da área de saúde decidiram, em assembleia, entrar em greve até nova avaliação, na quarta-feira (14).

No mesmo dia o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, disse que o pagamento dos servidores da educação deverá ser feito apenas na semana que vem.

Na opinião da professora Flávia, a forma como o governo vem tratando a situação é um "convite para o abandono do magistério". "Daqui de onde a gente está já dá para ver um futuro desprovido de advogados, engenheiros, médicos porque o que o governo está fazendo um convite oficial e expresso para que nós abandonemos o magistério. E não tarda muito para nós fazermos isso, porque está inviável sobreviver dessa atividade", lamentou.