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Mais alunos abandonam curso do que se formam na UnB

Rayane Gamazo, 25, trocou o curso de pedagogia para psicologia na UnB - Arquivo Pessoal
Rayane Gamazo, 25, trocou o curso de pedagogia para psicologia na UnB Imagem: Arquivo Pessoal

Jéssica Nascimento

Colaboração para o UOL, em Brasília

22/09/2015 13h03Atualizada em 23/09/2015 14h17

Já ouviu a seguinte frase dita por muitos estudantes: “Fácil é entrar na universidade, difícil é sair”? Pois é, dados da CPA (Comissão Própria de Autoavaliação) da UnB (Universidade de Brasília) mostram que a instituição perde mais alunos por evasão do que por formatura. Só em 2013 e no ano passado, 6.377 universitários foram desligados, total de 16,9%. Já os que alcançaram o diploma somam apenas 4.022.

É considerado pela universidade como evasão o abandono do curso pelas principais causas: troca de curso, falta de perspectiva na área, falta de condições financeiras para permanecer na UnB e excesso de reprovações. Segundo o decano de Planejamento e Orçamento, César Tibúrcio, os maiores registros de abandono são de estudantes de física e matemática do período noturno. Já os menores, são de medicina e veterinária, com desistência próxima de zero.

De acordo com a CPA, cada aluno custou em média R$15 mil em 2014. “Em alguns casos, o estudante presta um novo vestibular, aproveitando os créditos já cursados. Em outros, há o abandono do ensino superior. A universidade é pública, mas não é gratuita. A vaga do aluno que abandona poderia estar sendo ocupada por outro candidato. Existem políticas para preenchimento destas vagas através de transferência facultativa”, explica César Tibúrcio.

A estudante Rayane Gamazo, 25, foi das umas jovens que decidiu trocar de curso na UnB. Ela cursou até o 5° semestre de pedagogia e desistiu por não sentir afinidade com a profissão e não ver perspectiva na área. “Sempre quis fazer psicologia e não me arrependo nem um pouco da troca. Hoje me sinto mais realizada e satisfeita. Mesmo que eu demore mais para me formar, agora tenho a certeza que faço algo que me trará realização acadêmica, profissional e pessoal”.

Nota baixa é o que mais causa evasão

Se comparado com anos anteriores, o número de evasões cresceu consideravelmente. Em 2012 e 2013, 12% dos estudantes foram desligados, segundo César Tibúrcio. Ele ressalta que cerca 60% da evasão é por baixo rendimento. “Já está sendo feito um grande esforço para reduzir a evasão: programas de assistência estudantil podem reter os alunos carentes (mais de R$ 25 milhões estão sendo gasto este ano), moradia estudantil, política de acolhimento, modificações curriculares e o próprio diagnóstico de cada curso”.

Victor Fernandes, 22, contabilizou 16 reprovações no curso de biologia da UnB - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Victor Fernandes, 22, contabilizou 16 reprovações no curso de biologia da UnB
Imagem: Arquivo Pessoal

Victor Fernandes, 22, contabilizou 16 reprovações no curso de ciências políticas. Ele diz que a falta de interesse veio com a falta de identificação com a área de trabalho, a mentalidade dos colegas e com a realidade política do país. “Estava há quatro semestres na UnB, porém ainda devia matéria do primeiro.

Hoje, estou no terceiro semestre de ciências biológicas e faço de coração e com vontade, obtendo assim não só um bom desempenho acadêmico, mas também realização social e pessoal”.

Já a estudante Karolina Coruja, 27, abandonou o curso de biologia por falta de condições financeiras. Ela se mantinha com a bolsa permanência que na época era de R$ 130 e decidiu trancar a faculdade para trabalhar e juntar dinheiro. “Eu venho de uma família muito pobre, então não tinha ajuda para me manter na UnB. Como também não me via trabalhando na área, saí da universidade e arranjei um serviço. Voltei para a graduação em 2012 e hoje curso direito”.

Somente em agosto do ano que vem a UnB terá os resultados das evasões de 2015. Para César, os estudantes devem pensar com cautela sobre o curso que irão escolher antes de prestar o vestibular. “A escolha do curso é fundamental. Para isto a conversa com alunos que estão fazendo o curso na UnB pode ajudar bastante. Outra possibilidade é descobrir com profissionais da área informações sobre o mercado de trabalho”.