'Quem é essa, papai?': confira outras expressões do 'baianês'
Do UOL, em São Paulo
06/01/2016 12h38
O ano começou e as rede sociais foram invadidas por um vídeo e vários memes do episódio em que a cantora Ivete Sangalo deu uma bronca no marido que conversava com uma mulher durante um show.
“Quem é essa aí, papai? Tá cheio de assunto, hein? Vou passar a mão na cara... Quem é essa daí?”, questionou a cantora. Logo depois, até o MEC (Ministério da Educação) usou a expressão “papai” em uma postagem do Facebook.
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“Aqui é muito comum marido e mulher se tratarem “papai”, “mamãe”, “painho”, “mainha”. Deve ser o jeito que eles se tratam em casa”, disse Nivaldo Lariú, autor do “Dicionário Baianês”, que já teve seis edições e 220 mil exemplares vendidos.
Engenheiro de formação e baiano de coração, Lariú já reuniu mais de 1.500 expressões que, segundo ele, só existem na Bahia. “A linguagem popular baiana tem duas grandes características: o bom humor e a criatividade”, diz o fluminense de Itaperuna.
Além do ambiente doméstico, a palavra “pai”, segundo ele, também é usada em outros contextos. “O ‘pai’ ou ‘papá’ é como se fosse ‘cara’, ‘meo’. Por exemplo: ‘Vem cá, pai!’ ou ‘Me dá um dinheiro aí, pai’”, explica.
No universo do 'baianês'
A paixão de Lariú pela Bahia começou na adolescência, quando leu “Capitães da Areia”, de Jorge Amado. “Fiquei muito impressionado com a descrição que ele fazia de Salvador e da Bahia de maneira geral”, diz. Durante a faculdade de engenharia em Niterói morou em uma pensão e foi contaminado por um colega que “só tocava Dorival Caymmi”. “Eu assisti aos primeiros shows dos Novos Baianos em Niterói. Outra coincidência é que eu lia toda semana a coluna de Vinicius de Moraes no jornal O Pasquim [o poeta morava na Bahia à época]”.
Em 1972 finalmente foi morar na Bahia para trabalhar como engenheiro e começou a conhecer o universo do 'baianês'. “Uma vez um amigo disse: ‘Vamos pegar uma baba’, que é ‘jogar uma pelada’. Achei aquilo muito engraçado”.
Anos depois, decidiu começar a anotar todas as expressões que ele achava que eram de uso comum na Bahia. “Virou paranoia criativa, eu anotava palavras em todo lugar, até talão de cheque, e os amigos passaram a me alimentar com expressões”. “Aqui, por exemplo, as pessoas não se preocupam com a regra do feminino: de ladrão é ladrona”, afirma. “Aqui, 'cacete armado' é uma vendinha; 'cacetinho' é pão”, explica.
Lariú diz que está sempre em busca de atualizações para o seu dicionário e diz que o Carnaval é o melhor momento para ficar atento às novidades. “O Carnaval é um grande gerador de expressões, todo ano sempre tem uma nova. Mas eu sempre espero um tempo para ver se elas serão ou não incorporadas à comunicação popular”.
Confira expressões do Dicionário Baianês
- A migué: À vontade, de forma esculhambada
- Abafa-banca: Sorvete caseiro, feito na geladeira.
- Abestalhado: Bobo, idiota
- Abrir o gás: Se mandar, dar o fora rapidinho
- Arriado dos quatro pneus: Totalmente apaixonado
- Banda-voou: Cuca fresca, pessoa largada
- Boiado: Cansado
- Bolacha quebrada: Moleza, negócio de oportunidade
- Bozenga: Mulher feia, de baixo astral
- Bolinho de estudante: Bolinho de tapioca (também chamado de "punheta")
- Cacete armado: Birosca, pequeno negócio mal arrumado
- Cachação: Tapa
- Canguinha: Pão duro
- Chamar Raul: Vomitar
- Desbussolado: Perdido, desorientado
- Enrolado no xale da doida: Cheio de coisas para fazer e sem tempo
- Lavar a jega: Se dar bem
- Loura-a-pulso: Falsa loura, loura oxigenada
- Meia-Bahia: Todo mundo
- Miseravão: Cara retado, alguém decidido, que resolve tudo
- Na paleta: A pé
- Perder a chave: Ficar sem graça, perder a graça
- Pongar: Pegar carona
- Procurar frete: Tirar onda, provocar
- Queixar: Pedir para namorar, pedir algo na cara de pau
- Quente-frio: Garrafa térmica
- Sair na pipoca: Sair na rabeira do bloco de Carnaval, sem pagar
- Tomar tenência na vida: Tomar jeito na vida