Por escola ideal, pais se unem e topam trabalhar na administração
Escolher a escola para os filhos é um dos momentos difíceis da vida dos pais. A melhor nem sempre cabe no bolso, nem sempre fica perto de casa ou se encaixa nos horários da família. Diante desses e outros problemas, alguns optaram por se juntar a outros pais e fundar a sua própria escola.
A saída parece incrível (afinal, quem não quer escolher o ensino, a estrutura, as mensalidades e a localização mais adequados?), mas participar de uma escola como essa exige bem mais do que o pagamento de um boleto bancário. Em geral, essas famílias precisam ter tempo e estar dispostos a participar de forma ativa da rotina da escola.
No recém-criado Quintal Escola da Leste, em Belo Horizonte, os familiares se envolvem nos serviços de manutenção, na compra dos alimentos e na administração da unidade. “Alguns pais participam de um rodízio para apoiar os professores em sala. Quem não tem esse tempo se envolve na gestão dos alimentos ou pode ajudar a consertar um chuveiro ou participar de algumas das comissões”, diz Iuri Lage, educador físico e pai da Malu, de dez meses.
Ele diz que a escola começou a ser planejada em agosto do ano passado, quando um grupo de pais se reuniu porque não encontrava a escola ideal a um preço acessível. “A gente queria que fosse uma casa de vó. Aliás, esse nome ‘escola’ nem agrada tanto os pais, por isso chamamos de Quintal. A ideia é aproximar os pais da escola e que a brincadeira seja a principal linguagem”, afirma Lage, que faz parte da comissão de comunicação.
Ideias alternativas
A busca por uma nova proposta de ensino foi um dos motivadores do grupo da Vivendo e Aprendendo, criada em 1982 em Brasília. “Os pais procuravam uma educação mais integral, que respeitasse as outras linguagens, o desenvolvimento emocional e afetivo, sem super valorizar as outras áreas do conhecimento”, explica o coordenador pedagógico, Pablo Martins Carneiro.
A escola não segue uma pedagogia única, mas utiliza ferramentas e ideias de pensadores que priorizem o brincar. “Todas as atividades planejadas têm que flertar com a dimensão lúdica [da brincadeira]”, diz Carneiro.
Em Ubatuba, a inspiração para a criação, em 2009, da Escola Jardim Primavera foi a pedagogia Waldorf. “Além dos professores, de uma secretária e de uma funcionária da limpeza, toda a gestão é feita pelos pais. Rudolf Steiner, que criou o método, pensou a escola em três grupos (econômico, pedagógico e social), que fazem toda a gestão da escola”, diz Anna Gallafrio, que é doula e tem dois filhos na unidade.
Na escola, há rodízio de pais desde a compra de alimentos e até a lavagem dos panos usados em sala. “Eu gosto dessa gestão participativa, mas é claro que, na medida em que fui me aproximando, percebi o tamanho do trabalho e do compromisso”, afirma. Segundo Gallafrio, cada responsável dedica o tempo que pode à gestão da escola.
Fazendo as contas
Um dos principais motivadores e desafios do modelo associativo é o dinheiro. Isso porque muitos pais procuram essas escolas como uma alternativa às tradicionais, que podem custar mais.
Por isso, o envolvimento dos pais é maior que nas escolas tradicionais. Ao colocar a mão na massa, eles estão reduzindo custos, além de fazer funcionar uma escola com valores em que acreditam.
“Hoje a matrícula é de R$ 900 e a mensalidade é de R$ 650 para os pais do primeiro semestre. A gente não considera uma escola cara, mas gostaria de reduzir esse valor. Existe um grupo de pais que vai tentar produzir eventos, encontros e palestras que tragam renda extra para escola”, afirma Lage, do Quintal.
Na Vivendo e Aprendendo, os pais pagam uma cota associativa de R$ 1.110 por mês
A Escola Jardim Primavera não divulga o valor da mensalidade, mas garante que o modelo associativo faz com que o valor seja bem menor do que outras escolas que adotam a pedagogia Waldorf. Além disso, alguns alunos possuem bolsas. “Se a gente não tivesse a gestão participativa, se não fizesse mutirões de pintura, de jardim, de limpeza, seria o triplo do valor”, diz Gallafrio.
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