Polarização política na universidade preocupa professores
A polarização política no Brasil, intensificada nos últimos meses, tem deixado marcas além das ruas. Recentemente, o racha político entre um aluno e uma professora da UFABC (Universidade Federal do ABC), fomentado por meio de uma rede social, resultou em um boletim de ocorrência e abertura de processo por ameaça, calúnia e difamação (clique aqui para entender o caso).
Para Maria do Socorro Braga, doutora em ciência política pela USP (Universidade de São Paulo) e professora da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), a sensação de invisibilidade que a rede social dá para alguns acaba passando segurança e estimula comportamentos excessivos e polarizados.
“Há certa convicção de que, naqueles espaços das redes, a pessoa não sofre controles de outras agências e acabam extrapolando muitos dos seus impulsos. Agora, o que mais preocupa não é bem a ferramenta usada como meio de atuação, mas sim os sentimentos de ódio e raiva que a polarização política vem fazendo muitas vítimas no país. Às vezes grandes segmentos da população são afetados e de uma forma muito preconceituosa”, alerta a professora.
Na avaliação dela, esses sentimentos não estão de acordo com um ambiente democrático de aceitação e tolerância das diferenças políticas, homoafetivas, raciais, socioeconômicas. “Sem essa convivência pacífica entre os vários grupos que têm que conviver em nossa sociedade vamos voltar à barbárie”, acredita Maria do Socorro.
Mestre em direito pela USP e professor em direito público da escola superior de direito, Luís Felipe Cirino considera a universidade como um ambiente em que a pluralidade de ideais e a discussão crítica devem ser estimulados, mas que é preciso fomentar o respeito e que os reitores “devem se posicionar de maneira árdua, na luta da manutenção de um ambiente” democrático.
“Divergências de opiniões na academia são essenciais na construção de um pensamento científico. O meio universitário deve saber respeitar alguns direitos fundamentais básicos, em especial, o da livre manifestação de pensamento, expressamente garantido na Constituição Federal. O direito de expressar a sua opinião deve estar acompanhado do dever de respeitar as ideias divergentes, contrárias. Esse é, inclusive, o principal fundamento do Estado Democrático”, acredita o advogado.
Entenda o caso
No início do mês, a docente Iseli Nantes recebeu mensagens privadas em uma rede social com xingamentos de um aluno depois de ter publicado – na mesma rede social – uma crítica ao que considerou um “viés político-partidário” da UFABC ao oferecer apoio psicológico e carro para os parentes e para a aluna Deborah Gonçalves Fabri, que perdeu a visão de um dos olhos após ser ferida durante um protesto contra o governo Michel Temer (PMDB) no Centro de São Paulo.
O estudante Raí Neres, autor da mensagem, nega as ameaças à professora e afirma que acabou escrevendo em um momento de grande comoção, após sua amiga ter sido ferida e perdido a visão.
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