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Pais e filhos prestam Enem juntos e se ajudam mesmo à distância

Jesus Braga, que vai prestar o Enem ao mesmo tempo que seu filho - Arquivo pessoal
Jesus Braga, que vai prestar o Enem ao mesmo tempo que seu filho Imagem: Arquivo pessoal

Thiago Varella e Ana Carla Bermúdez

Colaboração para o UOL, em São Paulo e em Campinas (SP)

03/11/2016 12h00

Nos próximos dias 5 e 6 de novembro, Jesus Braga, 59, será um dos mais de 8,6 milhões de candidatos que prestará o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). 

Não será o único na família. Seu filho Eduardo, 22, também está se preparando para a prova. O pai sonha em cursar geografia em uma universidade pública, de preferência na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que fica a alguns poucos quilômetros distante de sua casa, em Campinas (a 93 km da capital paulista). Já o filho quer estudar linguística.

Em Natal, Jesus é mais um brasileiro na lista de desempregados causada pela crise econômica que atinge o país. Com apenas o ensino médio, ele se vira como pode vendendo seguros, atividade que até daria uma boa renda, não fosse a queda brusca na procura nos últimos meses. Mas, entre um telefonema e outro, o vendedor se desliga um pouco de seu trabalho para focar nos livros.

Sem contar com dinheiro nem tempo para fazer um cursinho, o vendedor faz o que pode para estudar em casa. Conseguiu resumos, comprou algum material e seu filho ainda repassou um ou outro livro. Mas Jesus reconhece que, infelizmente, sua preparação para a prova está longe do ideal.

"Não estou no ritmo que eu gostaria de estar. Meu foco está voltado para o trabalho. Não está fácil vender. Quem trabalha por conta tem de se virar", afirmou. "Eu pautando meus estudos em um livro que é bem focado para o Enem. É um intensivão. Na verdade, nem posso reclamar de falta de material. Meu problema maior é o tempo mesmo", completou.

Também distantes estão Davi Vitorino de Souza, 17, e seu pai Paulo Roberto de Souza, 49. Mais de 500 quilômetros os separam fisicamente. Mas isso não impede o jovem de ajudar a nortear os estudos do pai para o Enem.

Paulo Roberto - enem - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Paulo Roberto com seu pai e os filhos Davi (à esq.) e Daniel
Imagem: Arquivo pessoal
Paulo Roberto mora em Natal, de onde Davi se mudou quando ganhou uma bolsa de estudos no Colégio Ari de Sá, em Fortaleza. Enquanto o jovem busca conquistar uma vaga em medicina, o pai vai prestar o Enem com a intenção de passar em engenharia da ciência e tecnologia.

"Meus filhos sempre gostaram muito de tecnologia. Por ter estudado com eles sempre, me deu vontade de fazer mais uma graduação", conta Paulo Roberto, que tem formação de piloto, é administrador de empresas e trabalha atualmente na área tributária.

Ele decidiu fazer o Enem pela primeira vez em 2012, quando o filho mais velho, Daniel, também prestou o exame. Os dois foram chamados para o curso de engenharia na UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).

Nesta nova missão de estudos, quem o ajuda agora é Davi, o filho mais novo. "Apesar de estarmos em cidades diferentes, um sempre tenta ajudar o outro", explica Davi.

"Daqui, eu o ajudo na questão de conteúdos, já que ele não tem tempo de fazer um cursinho preparatório. Tento tirar as dúvidas dele sobre algum assunto e passo as estratégias que aprendi nos simulados que fiz para o Enem", complementa.

Paulo Roberto reforça o companheirismo que tem com o filho. "A gente troca informações. Já passamos quase uma hora ao telefone falando sobre estratégias de prova: como responder as questões, qual matéria fazer primeiro, como estruturar a redação. O Davi me dá tranquilidade para fazer a prova."

"Meu pai me ajuda muito, principalmente para a redação. A gente debate os assuntos, os argumentos. Ele acaba me fazendo pensar em algo que eu não tinha percebido antes. E às vezes me dá uns toques nas questões de física", conta Davi. "Ele me ajuda de um jeito e eu o ajudo de outro. A gente vai tentando caminhar juntos."

Saudades com estudo

Aos finais de semana, quando recebe a visita de Eduardo, que, durante a semana, vive com a mãe na cidade vizinha de Valinhos (SP), Jesus aproveita não só para matar a saudade do filho --ele tem mais uma filha de 24 anos-- como para estudar. Ou pelo menos para conversar sobre atualidades, algo que, diz, pode ajudar na prova e na redação.

O trabalho como bancário, que exerceu por 20 anos, deu a Jesus uma facilidade maior com matemática. Nessa disciplina, é ele quem ajuda o filho. Química e biologia, no entanto, são suas maiores dificuldades. "Eu até deveria focar nessas duas matérias, mas a gente tende a estudar mais o que a gente gosta", contou.

Apesar de estar desempregado, Jesus não enxerga a faculdade, necessariamente, como sua tábua de salvação financeira. "Minha vida desandou depois que eu separei. Venho tentando me reerguer. Quando estudo, tiro o foco dos problemas e abro novos horizontes."

"Neste ano, meu filho me incentivou a estudar. Me deu uns puxões de orelha, sabe? E resolvi tentar. O fato de tentar fazer o Enem significa uma retomada de vida", afirmou.

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