Brasileiro aprovado em Stanford aprendeu a programar aos 11 anos
Um programador com interesse em política e transparência de gastos. É assim que Daniel Ferreira, 18, define seus gostos, que renderam a ele até um apelido: “dev [desenvolvedor] de humanas”, como é conhecido pelos amigos.
Aprovado na universidade de Stanford, nos Estados Unidos, considerada uma das melhores do mundo, Daniel desenvolveu, aos 15 anos, um site que permite acessar, pesquisar e comparar gastos públicos do Governo Federal.
Ele estudou em um colégio particular de Valinhos, no interior de São Paulo, e participou do programa Prep Scholars, da Fundação Estudar, que auxilia alunos com bom desempenho acadêmico a se inscreverem em universidades no exterior.
Autodidata, o jovem começou a programar quando tinha 11 anos. Mexendo em um smartphone que havia ganhado do pai, ele descobriu que podia fazer modificações no sistema do aparelho –como trocar as cores dos ícones e adicionar álbuns de música à tela principal.
“Não era nenhum interesse especifico, era um interesse por desafio”, explica Daniel. Não demorou muito para que o jovem passasse a frequentar fóruns de programação na internet, onde foi aprendendo a fazer apps para smartphones. Um deles, que permitia que seus colegas de escola tivessem fácil acesso a suas notas, rendeu a ele uma “ameaça de processo”.
“A escola não entendeu do que se tratava. Me forçaram a tirar o aplicativo do ar. Foi um negócio meio triste, fiquei bem frustrado”, conta. “Foi aí que dei uma parada em programação. Comecei a seguir muito de perto as eleições de 2014, a ir em grupos de debate da escola e em grupos de simulação da ONU [Organização das Nações Unidas]”, explica o jovem.
“Uma coisa que me irritava muito era que as pessoas diziam que o governo gastava além da conta, mas nunca sabiam dizer exatamente quanto gastava ou com o que gastava”, afirma. Foi a partir daí que Daniel teve a ideia de desenvolver seu primeiro site, já que, segundo ele, os dados de despesas orçamentárias do governo disponibilizados pelo Ministério do Planejamento eram “codificados”. “Ninguém conseguia entender aquele formato”, diz.
“Todos deveriam ter a oportunidade de programar”
As experiências de Daniel com a programação integrada à área de humanas renderam bons frutos: mesmo antes de concluir o ensino médio, o jovem passou a participar de um grupo de pesquisa da USP (Universidade de São Paulo) sobre gastos públicos. Ele também foi contratado por uma startup de pagamentos online para desenvolver a integração de máquinas de cartão de crédito no sistema da empresa.
“Eu sempre programei porque gostava, não porque queria fazer alguma coisa específica. Todo mundo deveria ter a oportunidade de aprender a programar”, defende Daniel. No entanto, ele ressalta: “ninguém deveria ser forçado a aprender programação. Tenho medo de que isso vire algo como são hoje as aulas de Física, por exemplo –muita gente não se interessa pela matéria e depois vai simplesmente esquecer”.
Stanford e o futuro
Apesar de ainda não saber exatamente qual área vai seguir no futuro, Daniel diz ter decidido fazer “algo relacionado a ciência da computação e algo relacionado a sociologia e história” nos seus primeiros anos de estudo em Stanford, quando tem uma flexibilidade maior no currículo.
De uma coisa, no entanto, o jovem tem certeza: ele vai seguir defendendo a bandeira da transparência dos dados públicos. “Se abrir alguma janela de tempo, provavelmente vou investir no site dos dados de transparência para analisar doações de campanha, por exemplo. Existem hoje dados abertos sobre isso, mas não muita análise, e é uma coisa de que gosto muito”, conta.
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