Videoaulas no Youtube fazem sucesso entre alunos e encaram preconceito dos pais
Terra dos memes e das redes sociais, a internet também pode ser uma grande aliada na hora dos estudos para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). As provas, que neste ano acontecem em dois fins de semana, começaram a ser aplicadas no dia 5 e continuam no próximo domingo, 12 de novembro.
A busca por conhecimento online é comum tanto entre alunos que fazem um cursinho presencial como por quem conta só com a internet como ferramenta de estudo. Elier Santana, 17, chega no colégio todos os dias às 7h, volta para casa às 19h e aproveita o pouco tempo que tem para assistir a videoaulas e ler notícias.
“É prático. Tem a mesma função que teria de pegar um livro, por exemplo, só que mais rápido. É mais objetivo, você não tem que ficar procurando, está lá na sua mão”, diz.
Elier explica que tem o costume de ver videoaulas porque, às vezes, “fica difícil entender o professor na sala”. Ele diz que não é raro que os professores de pré-vestibulares presenciais fiquem sem tempo para explicar toda a matéria e acabem passando o conteúdo rápido demais, ou que não tenham tempo para atender todos os alunos.
“Com a internet, dá para pausar e voltar onde e quantas vezes eu quiser”, complementa o jovem, que com a nota do Enem pretende disputar uma vaga em direito.
Tempo e dinheiro
Marcos Vinícius Bintercourt, 23, está no primeiro semestre do curso de medicina na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), mas antes passou por outras duas faculdades, com bolsa do Prouni (Programa Universidade Para Todos), e teve de conciliar o estudo com o trabalho.
“Eu trabalho desde os 16 anos. Sou de família bem humilde. Precisava trabalhar o dia inteiro e, à noite, ia para a aula, no ensino médio”, conta ele, que mesmo cursando engenharia e direito, continuou estudando para fazer medicina.
Tanto o tempo escasso como o preço alto de um cursinho presencial foram fatores determinantes para que ele optasse por estudar com ajuda da internet.
“Vi que era um método eficiente. Eu não precisava cumprir uma carga horária, podia fazer meu próprio horário de estudo”, conta o jovem, que na época optou por assinar um plano da plataforma Me Salva.
Gyuliano Anselmo, 23, também estudou para o Enem esse ano só com ajuda da internet. “Meu objetivo é conseguir uma bolsa de estudos para cursar educação física”, diz.
O jovem trabalha durante o dia e usa o tempo livre para se dedicar aos estudos. Assim como Marcos, ele ressalta a liberdade que traz a internet, “pela praticidade de poder fazer os meus horários”.
Em sua rotina, ele estuda pela plataforma do Descomplica, assiste a videoaulas no Youtube e também lê apostilas que encontra na internet. “O tempo foi o fator principal, mas a diferença de valores para um cursinho presencial também me fez optar por estudar pela internet”, conta.
E como não perder tempo na rede?
Para não se deixar levar pelas distrações da internet enquanto estuda, Gyuliano desenvolveu uma tática. “Eu procuro ficar focado, tento estudar pelo computador e deixar o celular de lado. Mas, quando estudo pelo celular, eu geralmente faço o download dos vídeos e desligo a internet para evitar qualquer distração”, diz.
Já Marcos conta que se “policiava bastante” e dá a dica para quem não tem muito tempo para estudar: o importante não é focar na quantidade de horas do estudo, e sim na qualidade.
“Se eu estudava duas horas por dia, por exemplo, eram duas horas bem estudadas. Precisa ter foco”, explica.
Os web-professores
O maior conforto ao aluno e a ideia de uma educação alternativa foram os dois principais motivos que levaram Paulo Jubilut, fundador do Biologia Total, e Miguel Andorffy, fundador do Me Salva!, a expandirem o ensino tradicional da sala de aula para as telas dos computadores. Atualmente, ambos canais possuem mais de 1 milhão de inscritos no Youtube.
"Eu era professor de ensino médio até que fui mandado embora, por isso eu quase desisti de dar aulas. Então, comecei a fazer os vídeos quando o Youtube ainda era um 'cachorrinho' e não tinha essa projeção. Assim, os vídeos começaram a fazer sucesso, logo o Youtube me convidou para monetizá-los", conta o professor Jubilut.
De forma diferente, o professor Miguel Andorffy diz que chegou à internet por inquietação. "Eu era professor de cálculo para engenharia, mas comecei a pensar 'poxa, tô aqui dando aula o dia todo mas os alunos chegam em casa e não conseguem resolver os exercícios'. Foi aí que comecei a gravar os vídeos, para dar suporte aos meus alunos".
Os dois cursos possuem um canal no Youtube e um site individual para os assinantes. Pequenas no início, hoje as duas plataformas de ensino são compostas por um "time" de professores e são mantidas financeiramente por investimento empresarial, além das matrículas dos alunos. Alguns docentes da equipe, de acordo com os fundadores, não abandonaram as salas de aula.
"O que acontece, também, é que pelo Youtube nós podemos monetizar fazendo campanhas e trabalhos para outras empresas de parceria. Demoramos 4 meses para faturar 100 dólares, mas hoje a plataforma já tem maturidade e temos um belo salário, muitos professores de sala não tiram isso", explica o professor Jubilut.
Os dois professores concordam que o crescimento das plataformas de videoaulas é fruto das vantagens que a mesma oferece ao aluno virtual, entre elas a linguagem dos jovens, o custo-benefício e o controle sobre o conteúdo.
"Tem cursinho que custa R$ 2 mil por mês e a gente consegue oferecer um sistema até melhor a R$ 20,00 por mês. Na aula presencial, o professor tem que controlar a bagunça, apagar o quadro, controlar as interferências e aquilo que ele ensinou em 150 minutos, nós ensinamos em 20 minutos", afirma o professor Jubilut. "Fora que o vídeo permite que a pessoa com dificuldade volte a aula quantas vezes quiser e a pessoa com facilidade acelere o quanto quiser".
O clima da sala de aula e o preconceito da internet
Já que nada no mundo é perfeito, Paulo Jubilut reconhece que a sala de aula convencional contém o 'clima' que o ambiente virtual ainda não consegue oferecer.
"O professor que é bom e está com os alunos pode olhar no semblante deles e saber se os alunos estão tendo facilidade ou se algum está com alguma dúvida. O virtual perde isso, temos que usar outras ferramentas para medir. Às vezes mudamos a videoaula 4 ou 5 vezes para agradar todos os alunos".
Os professores também têm que superar o preconceito, sobretudo dos pais dos estudantes.
"Eles têm pouca confiança nos filhos na questão de enxergar o jovem com o celular na mão porque já acham que ele está nas redes sociais, quando, na verdade, está estudando", afirma Miguel Andorffy. "É algo que a gente acredita que só soluciona pelo diálogo na família".
Paulo Jubilut também crê que essa rejeição às aulas virtuais seja uma herança de gerações anteriores e que leva tempo para que as pessoas confiem em novas oportunidades.
"Quando eu tinha dois anos de idade, eu brincava com um chocalho. Uma criança de dois anos, hoje em dia, está clicando no iPad. O cérebro dos jovens atuais funciona de forma diferente, exige outro jeito de aprender. Estudar online é algo novo, colocar o cara para estudar no computador depois de 13 anos dentro da sala de aula não é fácil, o ecossistema é diferente. Tudo que é novo assusta, a primeira reação é de aversão".
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