"Cringe" e outros temas atuais marcam primeira fase da Unicamp

A Unicamp realizou neste domingo a primeira fase do vestibular. Encerrada às 18h, a prova trouxe questões sobre temas atuais como fake news, comunidade LGBTQIA+ e o sentido do termo "cringe", que viralizou na internet recentemente.

"Nossa prova manteve a tradição de abordar temas contemporâneos que interessam ao debate social pela ótica de diferentes disciplinas", afirmou Marcia Souza, coordenadora acadêmica da Comvest (Comissão Permanente para os Vestibulares).

"Sempre abordamos expressões muito reproduzidas e 'cringe' foi uma dessas. A ideia era ver como seu sentido está registrado no dicionário e como ele tem sido apropriado pelos usuários da língua. Explorar não apenas seu significado, mas mostrar que ele se move". disse ela.

De acordo com a instituição, a divulgação do gabarito oficial acontece na próxima quarta-feira. Em parceria com o Objetivo, o UOL faz a correção comentada do exame.

Diretor-adjunto de Unidades Escolares do Poliedro, Luís Gustavo Megiolaro chama a atenção para a grande presença de textos.

"O aluno precisava ter esta leitura de diversos textos em praticamente todas as disciplinas, inclusive nas de exatas", afirmou.

"O exame manteve as características da Unicamp, com questões sobre temas atuais e que exigiam capacidade de leitura, interpretação e visão crítica dos candidatos", disse Daniel Cecílio, diretor pedagógico do curso pré-Vestibular da Oficina do Estudante, de Campinas (SP).

"Foi uma prova trabalhosa, com nível de dificuldade médio e muito elogiada pelos professores, que a consideraram a melhor da Unicamp nos últimos anos", resumiu Daniel Perry, diretor do Curso Anglo.

Prova durou cinco horas

"Nós tivemos 1 hora a mais para que os alunos pudessem ler adequadamente os textos", disse Marcia, em entrevista coletiva após a realização do exame.

Biologia, física, geografia, história, inglês, língua portuguesa, literatura, matemática e química foram as disciplinas abordadas nas 72 questões de múltipla escolha.

De acordo com José Alves de Freitas Neto, diretor da Comvest, apenas 7,7% dos inscritos não apareceram para fazer a prova.

"Foi o nosso menor índice de abstenção desde 2014", comentou ele.

Humanas

Em geografia, foram explorados temas como importação, exportação, urbanismo e geofísica.

Professor de geografia do Curso e Colégio Objetivo, Eduardo Britto destaca que muitos dos textos jornalísticos abordados nas questões foram publicados nos últimos meses.

"A Unicamp tem elaborado sua prova dentro de um contexto relacionado a questões atuais", afirmou ele, que considerou o nível do exame de médio para difícil.

A situação foi parecida na prova de história, que abordou tópicos como escravidão e povos indígenas.

"Temas da atualidade serviram como gancho para se olhar para história, como aconteceu com o terraplanismo numa questão sobra antiguidade", afirmou Perry.

"A prova exigiu do aluno leitura muito atenta de textos grandes", disse Ricardo Di Carlo, professor de história do Objetivo.

"Provavelmente, a hora extra anunciada favoreceu os alunos neste sentido", afirmou ele.

Exatas

A hora a mais também favoreceu a feitura da prova de matemática, na opinião do professor Marcelo Guará, do Objetivo.

"Notamos que a prova foi trabalhosa, com muitas contas", disse ele.

Para ele, as questões relativas a um círculo inscrito em um quadrilátero e sobre parábolas estavam especialmente difíceis.

Já em física, o conteúdo clássico da disciplina foi associado a assuntos contemporâneos em diversas questões.

"A prova contextualizou conceitos como lei da gravitação universal e movimentos circulares por meio do exemplo da sonda que viajou ao sol este ano", afirmou Thomas Haupf, professor da matéria no Objetivo.

"Os temas abordados eram clássicos, embora não necessariamente óbvios e, em geral, são assuntos bem estudados no ensino médio", disse ele.

"A forma como o conteúdo era cobrado tornava a prova trabalhosa", afirmou Perry.

Linguagens

Para o professor de português do Objetivo Serginho Henrique, a prova de linguagens estava mais fácil que as anteriores.

Uma das questões da prova de linguagens abordava o neologismo "roça-office", aplicado aos trabalhadores que trocaram metrópoles por cidades pequenas durante a pandemia.

"Na prova de literatura, dos dez livros da lista, seis foram cobrados", comentou ele, que considerou as questões bastante claras.

Entre os textos citados no exame, estavam os textos "O Marinheiro", de Fernando Pessoa, e "As Ondas", de Olavo Bilac - além de sonetos de Camões e trechos do romance "O Ateneu" e de obras de Machado de Assis.

Em inglês, o vocabulário difícil de algumas questões combinado à variedade de gêneros textuais proporcionou um exame de nível elevado.

Professor da matéria no Objetivo, Aleksander Brunhara chama atenção para uma questão que trazia um trecho do romance "The Bell Jar", de Sylvia Plath.

"Exigia compreender o texto em inglês e relacioná-lo a imagens", diz ele, que considerou a prova difícil.

Na parte de interpretação de texto, o discurso do ator Joaquim Phoenix, por ocasião da conquista do Oscar de melhor ator pela atuação como Coringa, foi abordado.

Biológicas

Para Filippo Fogaccia, professor de química do Objetivo, a prova da Unicamp deste ano exigiu que os candidatos chegassem a conclusões e as desdobrassem para descobrir a resposta certa.

"Só quatro questões abordavam conteúdos tradicionais da química", disse ele, que também destacou a atualidade na abordagem dos temas.

Já o exame de biologia chamou a atenção pelo grande volume de questões ligadas a coronavírus. Porém, temas clássicos - como fungos, genética e zoologia - não ficaram de fora.

"Foi uma prova mais direta, com textos sucintos e menos cansativa para o aluno", avaliou Adriano Arruda, professor da disciplina no Objetivo.

Próximas datas

• Divulgação aprovados para a segunda fase, locais de prova e notas de corte - 13 de dezembro
• Segunda fase - 9 e 10 de janeiro
• Provas de habilidades específicas - 13 a 15 de fevereiro
• Divulgação da lista de convocados da 1ª chamada - 14 de fevereiro