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'Tenho medo de o aluno me agredir': violência afasta professores da escola

Do UOL, em São Paulo

12/04/2023 04h00

Professores de escolas estaduais de São Paulo ouvidos pelo UOL relataram medo e receio de permanecer nas salas de aula. De acordo com eles, a violência aumentou após o período em que as unidades ficaram fechadas por causa da pandemia.

O que aconteceu

A sensação de insegurança fez com que eles recorressem à ajuda psiquiátrica particular.

Nos casos mais graves, os educadores tiraram licença e se afastaram das atividades escolares. Eles relatam que os alunos passaram a brigar mais entre eles e com os educadores.

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Pesquisa apontou que 75,5% dos professores dizem que deixam as escolas por questões psicológicas. O levantamento foi feito entre novembro e dezembro do ano passado pela rede Conectando Saberes, com 6 mil profissionais.

Maria, que não quis se identificar, afirma ter medo de ser agredida pelos alunos —e não saber o motivo. Ela conta que recebeu ameaças. Hoje, está de licença médica.

A educadora dá aula para turmas do ensino médio e diz tomar três remédios para ansiedade e depressão. No ano passado, já tinha ficado quatro meses afastada da sala de aula.

Eduarda avalia que o aumento da violência e a falta de apoio do Estado a levaram a ficar afastada. Ela também está de licença após se sentir desconfortável com o que chama de desrespeito de parte dos estudantes.

Os professores dizem que não receberam ajuda das escolas e da Secretaria Estadual da Educação. A pasta diz que vem tomando medidas.

Tudo piorou depois da pandemia e o comportamento dos alunos ficou mais difícil. A gente não consegue lidar com tudo isso sozinho e é frustrante."
Eduarda, professora

'Quando saí da sala [após massacre], tive certeza que não voltaria'

A professora Jussara Melo antecipou a aposentadoria após o ataque na escola Raul Brasil, em Suzano (SP). Dez pessoas morreram e a unidade de ensino ficou fechada por 13 dias após o massacre.

Hoje, ela trabalha como revisora e tradutora de livros. Antes, foi professora de espanhol na escola de Suzano durante 18 anos.

Após o massacre, a unidade passou por uma reforma e foi oferecido apoio psicológico. O programa Conviva, que prevê ações de melhoria do ambiente escolar, também foi lançado meses depois do ataque pelo governo estadual.

Quando saí da sala e vi tudo o que tinham feito com minhas colegas e alunos eu tive certeza que não voltaria pra sala de aula."

Me sentia tão segura lá [na Raul Brasil], pude me realizar profissionalmente e jamais imaginei que minha última aula fosse num dia tão triste."

A solução não será rápida, mas precisamos fazer isso agora. É preciso investimento por parte do governo, posicionamento de funcionários e professores e uma participação mais efetiva da família na vida escolar de seus filhos."

18.mar.2019 - Escola Raul Brasil, em Suzano, retomou atividades com apoio de psicólogos Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

O que diz o governo de São Paulo

Os motivos de licença médica são "pessoais e sigilosos", segundo a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. A pasta disse não haver indícios que as causas estejam associadas aos casos de violência e também não respondeu se o número de licenças aumentou depois da pandemia.

Questionada sobre a falta de apoio apontada pelos professores, a secretaria afirmou que o programa de psicólogos será retomado. Desde fevereiro, as escolas estaduais estavam sem os profissionais —a justificativa da pasta era que o projeto "estava em formato virtual".

O que dizem os especialistas

Rodas de conversa são potentes, está comprovado cientificamente, mas é preciso dar o nível de atenção que cada pessoa precisa. É preciso dar letramento sobre saúde mental e bullying para que os professores se sintam empoderados e tenham mais segurança."
Rodrigo Bressan, presidente do instituto Ame Sua Mente

Qual estrutura esses professores têm para lidar com desafios tão complexos? A escola está cada vez mais sendo demandada para lidar com problemas sociais.Tem responsabilidade que precisa ser compartilhada com a Secretaria de Educação, com MEC, porque a escola não tem todas as ferramentas para lidar com isso."
Cristiano Ferraz, coordenador da rede de professores Conectando Saberes

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