São Francisco de Assis: padroeiro dos animais foi soldado e 'batizou' papa
Colaboração para o UOL*
04/10/2023 09h49
Em 13 de março de 2013, no Vaticano, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio foi eleito o novo papa da igreja católica. Pela primeira vez na história, a figura mais importante do catolicismo escolheu o nome papal "Francisco". A inspiração foi São Francisco de Assis —após o pedido de outro cardeal, o brasileiro Cláudio Hummes, para que o novo pontífice "não se esquecesse dos pobres".
A vida de São Francisco de Assis e a pobreza estão diretamente ligadas. O religioso, que nasceu na Itália e que é santo reconhecido pela igreja católica desde o século 13, também ganhou o status de protetor dos animais. A festa litúrgica do santo é em 4 de outubro.
Conheça um pouco mais da história do santo:
São Francisco, de Assis
O futuro São Francisco nasceu e morreu na cidade de Assis, na Itália. O nome de batismo era Giovanni di Pietro di Bernardone. O ano de nascimento é incerto, algo entre 1181 e 1182. Era filho de um próspero comerciante. Ou seja: a pobreza não fazia, exatamente, parte da vida do futuro santo até então.
Crescido, Giovanni chegou a ser soldado. Lutou na guerra que a cidade de Assis travou contra Peruggia, também na Itália, mas não foi bem sucedido: se tornou prisioneiro de guerra e ficou cativo por aproximadamente um ano.
Humildade. Aos poucos, de um jovem que gostava de curtir a vida, o futuro São Francisco foi se tornando mais humilde. Conta a história que, certa vez, ele cobriu um homem leproso com seu manto e o beijou na face.
"É um episódio muito parecido com Jesus, de abraçar um leproso e não ser contaminado", disse Junior Vasconcelos do Amaral, padre e professor na PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Minas Gerais.
Aos poucos, São Francisco começou um processo de afastamento da antiga vida. Chegou a se retirar em uma caverna para orar e meditar. Um dia, foi orar em uma igreja afastada da cidade. "Ele recebeu um pedido de Deus: estava na igreja da Porciúncula e, nessa aparição, diante do crucifixo de São Damião, veio uma voz dizendo: 'Francisco, reforma a minha igreja'", completou Vasconcelos. "E daí ele começa um processo de reforma na igreja, física mesmo, trabalhando como pedreiro. Depois ele vai descobrir que era uma reforma espiritual."
A boa ação não isentou Francisco de problemas. "O pai de Francisco descobriu que ele estava fazendo este movimento todo. E, na praça de Assis, Francisco se despiu e entregou as roupas ao pai. Foi um processo de rompimento com o mundo", contou o padre.
Pobreza radical
Voto de pobreza. A renúncia a qualquer bem material não é exatamente uma criação de Francisco, que, ao longo de sua jornada religiosa, fundaria a ordem dos franciscanos —formalmente conhecida como Ordem dos Frades Menores. Mas é possível dizer que o futuro santo foi responsável por elevar o voto de pobreza a um patamar de importância ímpar.
Denúncia à indiferença. "O que ele faz? Denuncia, na sua época, a crescente indiferença quanto aos pobres. A pobreza como regra de vida, então, é lógico que ele vai ao encontro de um cristianismo puro e um evangelho a partir dos pobres. É opção de Deus, Deus escolhe os pobres. E ele recupera este ideal em um mundo que está perdendo cada vez mais o sentido", disse o padre Felipe Cosme Damião Sobrinho, professor da PUC-SP.
Pobreza como ideal de vida. "Ele viveu em uma época que teve Cruzadas, conflitos internos na igreja e grandes reformas diante da figura do papa Inocêncio 3º. E Francisco de Assis mostra que, para combater aquilo que fere a fé, a vida, é preciso a pobreza. Pobreza como ideal de vida. Como jovem, conseguiu trabalhar as inquietações de sua juventude entre as polaridades guerra e paz. Ele entendeu que a paz era um projeto de vida, ele ressignificou o mundo do seu tempo com a paz. A mensagem dele é atual ainda, mesmo depois de oito séculos", completou.
Padroeiro dos animais e natureza em alta
O olhar de São Francisco de Assis se estendeu além dos pobres. Ele também teve uma relação bem próxima com os animais, a ponto de ser considerado padroeiro, e com a natureza.
Ecologia integral. "Acredito que ele estava muito preocupado com o mundo. Com as pessoas, com os pobres, com as criaturas. Ele, então, compõe o chamado cântico das criaturas, em que chama o sol e a lua de irmãos. Ele tem carinho pela criação de Deus. E o que a gente percebe é que ele vive bem a relação com a natureza. É o que chamamos hoje de ecologia integral. É por isso que ele é considerado padroeiro dos animais", explicou Junior Vasconcelos do Amaral.
Há, inclusive, um episódio em que ele teria se encontrado com um lobo feroz, que se acalma na presença dele. Existe a contemplação da criação e o contato de Francisco com a criação. O olhar profundo dele com a realidade da vida, a realidade de todas as coisas.
Felipe Cosme Damião Sobrinho, padre
Força no Brasil
Francisco viveu pouco, cerca de 44 anos. Ele morreu em 1226. Em 1228, pouco menos de dois anos após a morte, foi canonizado. No Brasil, o santo era forte entre os padres portugueses que vieram catequizar os povos indígenas.
"Os primeiros evangelizadores foram os franciscanos. O primeiro a presidir uma missa no Brasil foi Henrique de Coimbra, um franciscano. E, lógico, que na ocupação sistemática, cada ordem religiosa foi se destacando. Não podemos esquecer do trabalho dos jesuítas com os [povos] indígenas, mas os franciscanos estão desde o início do Brasil colônia", pontuou Cosme Damião Sobrinho.
Em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, uma das igrejas mais conhecidas do país é dedicada a São Francisco de Assis. Trata-se da edificação localizada na Lagoa da Pampulha, projetada por ninguém menos que Oscar Niemeyer.
Confira a oração de São Francisco de Assis:
Senhor,
Fazei de mim um instrumento de vossa Paz.
Onde houver Ódio, que eu leve o Amor,
Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão.
Onde houver Discórdia, que eu leve a União.
Onde houver Dúvida, que eu leve a Fé.
Onde houver Erro, que eu leve a Verdade.
Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança.
Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria.
Onde houver Trevas, que eu leve a Luz!
Ó Mestre,
fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando, que se recebe.
Perdoando, que se é perdoado e
é morrendo, que se vive para a vida eterna!
Amém
*Com reportagem publicada em 04/10/2021