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Ataques a escolas têm 100% de autores homens, e maioria de vítimas é mulher

23.out.2023 - Policiais militares em frente à Escola Estadual Sapopemba, onde três alunos foram feridos após ataque com arma de fogo Imagem: Peter Leone/O Fotográfico/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

02/12/2023 04h00

Mulheres são 60% das vítimas em ataques ocorridos dentro de escolas no Brasil e os autores desses episódios violentos são homens — a maioria deles, brancos, segundo estudo de pesquisadores da Unicamp.

O que diz a pesquisa

Dos 36 ataques analisados pelo estudo desde 2001, em apenas 2 os autores não eram brancos — em Realengo (RJ) e em Poços de Caldas (MG). Cerca de 75% deles eram menores de idade e 46% tinham entre 13 e 15 anos.

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Ao todo, foram 40 mortes e 102 pessoas feridas nessa situação. O estudo leva em consideração ataques cometidos por alunos ou ex-alunos das instituições de ensino, com a intenção de causar morte e que tenham sido planejados.

O levantamento considera os episódios de violência cometidos por alunos ou ex-alunos das instituições de ensino, com a intenção de causar morte e que tenham sido planejados. O relatório foi feito pela pesquisadora Telma Vinha, professora da Unicamp, e publicado pelo D³e (Dados para um Debate Democrático na Educação), com apoio da B3 Social e Fundação José Luiz Egydio Setúbal.

O estudo aponta também que mais de 50% dos episódios de violência dos últimos 23 anos ocorreram entre 2022 e este ano. 59,43% das vítimas são mulheres e 40,57% são homens.

Para Telma Vinha, não é possível "cravar que a intenção seja ferir mais meninas", mas ela ressalta que na prática o resultado é esse. No episódio de violência ocorrido na Escola Estadual Sapopemba, em São Paulo, três garotas estavam entre as vítimas — uma morreu e duas ficaram feridas.

Das 37 escolas que registraram ataques, 31 ficam em áreas de nível socioeconômico médio para cima. "O pânico e a expectativa de resposta rápida por parte das autoridades fizeram com que o policiamento fosse reforçado em escolas periféricas com um contexto de violência ao redor, mas essa relação não é válida", diz a pesquisadora.

Outra pesquisa, mesmo perfil

Relatório produzido durante o governo de transição já apontava jovens brancos como principais autores de ataques. "Adolescentes e jovens brancos e heterossexuais são os principais alvos de cooptação pelo discurso extremista e, assim, são também os promotores mais comuns dos ataques às escolas", diz trecho do material.

O levantamento foi feito por 12 pesquisadores e coordenador pelo professor da USP Daniel Cara. Ele afirma que os estudos apontam a "misoginia como elemento estrutural e uma estratégia" das subcomunidades.

O extremismo estimulado nas subcomunidades, onde foram encontrados a maioria dos autores, é uma ideologia pautada na "aniquilação de outras pessoas", afirma o relator do texto. Ele explica que a existência dessas pessoas "tensionam, incomodam e desafiam o supremacismo branco".

'Violência é diferente das outras', diz professora

É uma violência muito ligada ao sentimento de "perda de poder" por parte de meninos brancos para meninas, meninos negros e outros grupos.
Telma Vinha, professora da Unicamp

Estamos falando de crimes contra mulheres. Não é um cara que sofre bullying e mata todo mundo, mas alguém imerso numa realidade de misoginia, acesso a armas e outros problemas. Em Realengo, os principais alvos eram as meninas.
Adriana Silveira, presidente da Associação Anjos de Realengo

A misoginia, o ódio inaceitável às mulheres, mobilizam os ataques. As mulheres são as principais vítimas. Isso é revoltante e assustador. A misoginia e o racismo são elementos estruturais do extremismo brasileiro. E o extremismo estrutura os ataques.
Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da USP

'O país que eu vivo, falhou comigo', diz mãe de vítima

Adriana Silveira perdeu sua filha de 14 anos durante o ataque à escola Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio. Hoje, ela é presidente da associação que discute o assunto.

Para Adriana, houve poucos avanços em relação à prevenção de ataques a escolas de 2011 para cá. A falta de psicólogos nas escolas é um ponto criticado.

Ela também defende que haja um monitoramento na internet para evitar esses episódios. "A investigação em redes sociais é importantíssima e deveria ter mais investimento. Com o que já foi feito, grupos foram identificados e ataques evitados".

O país em que eu vivo falhou comigo, com a minha filha e o pior: continua falhando com outras famílias. Troquei meu luto por luta e só terei justiça quando os ataques pararem de acontecer.
Adriana Silveira

Relatório do MEC propõe 13 ações

O extremismo estimulado nas subcomunidades, onde foram encontrados a maioria dos autores, é uma ideologia pautada na "aniquilação de outras pessoas", afirma Daniel Cara. Ele explica que a existência dessas pessoas "tensionam, incomodam e desafiam o supremacismo branco".

Um relatório do Grupo de Trabalho de Especialistas em Violência nas Escolas, formado pelo MEC (Ministério da Educação), propõe também 13 ações para combater o aumento desses episódios nas instituições de ensino. O texto é fruto do trabalho de 68 especialistas da área e foi divulgado pelo MEC (Ministério da Educação) no início do mês.

Cara afirma que colocar as medidas em prática "depende da vontade governamental". Ele e outros especialistas afirmam que a tendência é que os governos agem apenas quando um episódio desse acontece.

É preciso prevenir e trabalhar sobre como devemos agir. O relatório é um importante insumo e está entregue ao público.
Daniel Cara

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