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Oração do Pai-Nosso é sempre igual? Católicos e evangélicos rezam diferente

3.ago.2023 - Imagem do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, com a lua cheia ao fundo Imagem: Pilar Olivares/Reuters

Thiago Varella

Colaboração com UOL

23/04/2024 04h00Atualizada em 23/04/2024 18h29

Seja na igreja, em um vestiário de futebol antes de uma partida ou em casa, o Pai-Nosso é a oração mais conhecida do cristianismo. Católicos, protestantes, ortodoxos e espíritas kardecistas recitam a "oração que Jesus nos ensinou".

Origem judaica

Na Bíblia, o Pai-Nosso aparece duas vezes: no Evangelho de Mateus e no de Lucas. Em ambas, Jesus aparece ensinando seus discípulos a orar. No entanto, essa oração tem uma origem que precede Jesus e o Novo Testamento.

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Jesus não era cristão, mas judeu. E foi justamente dentro da tradição judaica que ele se inspira na criação do Pai-Nosso. Pesquisadores consideram natural que Jesus, sendo judeu, tenha se familiarizado muito com as ideias e as próprias verbalizações da liturgia na sinagoga. Até porque Jesus participava da sinagoga.

Essa origem judaica se comprova, por exemplo, na semelhança que há entre o Pai-Nosso e a Amidá, ou Oração das 18 Preces, central da liturgia judaica.

A expressão Pai-Nosso aparece muitas vezes no Antigo Testamento, porque os judeus consideram Deus como pai e Deus considera os judeus como seus filhos. Isso já era muito comum nas orações judaicas.

Sete petições

Ao analisarmos o Pai-Nosso, são feitos sete pedidos a Deus. Esse número, na Bíblia, significa plenitude daquilo que o homem precisa.

Os três primeiros têm relação com o reino de Deus:

  • "santificado seja o Vosso nome";
  • "venha a nós o Vosso reino";
  • "seja feita a Vossa vontade".

Já os quatro últimos pedidos são relacionados à vida do ser humano:

  • "o pão nosso de cada dia nos dai hoje";
  • "perdoai-nos as nossas ofensas (ou dívidas)";
  • "não nos deixeis cair em tentação";
  • "livrai-nos do mal".

A oração que Jesus ensinou

Na tradição católica, o Pai-Nosso está no centro das Sagradas Escrituras e é a oração do Senhor. Não é à toa que o Pai-Nosso é rezado em todas as missas.

Já para os protestantes, aparece como guia. Nessa tradição, o Pai-Nosso até pode ser rezado na íntegra — e muitas denominações de fato rezam em suas liturgias —, mas está mais para um guia de como orar.

Assim, Jesus não ensina uma fórmula, mas sim como se dirigir a Deus. Ao longo da história, essa oração foi tomada dos evangelhos para fazer parte da liturgia. Por isso que, na missa, reza-se a oração do Pai-Nosso no final.

Perdoai as dívidas ou as ofensas?

Existem diversas versões e traduções do Pai-Nosso. Na Igreja Católica, usa-se a segunda pessoa do plural (vós) e a expressão "perdoai-nos as nossas ofensas". Já no protestantismo, reza-se utilizando a expressão "nossas dívidas".

Tanto o uso de dívidas quanto o de ofensas vêm de diferentes traduções e não podem ser considerados errados. No Brasil, a Igreja Católica usava "dívidas" até o Concílio Vaticano 2º, quando mudou para "ofensas".

Outra diferença se dá no final da oração. Os protestantes, entre eles os evangélicos, terminam com "pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre", frase que não aparece em versões católicas da Bíblia. É provável que tenha sido um acréscimo feito por copistas e não tenha sido escrito por Mateus.

Ainda assim, é necessário ressaltar que, no uso litúrgico do Pai-Nosso dentro da Missa, após o "livrai-nos do mal", o sacerdote reza uma prece em nome da assembleia, que responde, ao fim, "vosso é o Reino, o poder e a glória para sempre".

Outras curiosidades

O Pai-Nosso já foi usado até como medida de tempo. Muito antes dos cronômetros na cozinha, cozinheiros utilizavam a oração para poder saber o tempo que determinado alimento deveria ficar no fogo.

A oração também já virou algumas músicas. Liszt, Tchaikovsky e Verdi são só alguns dos compositores que já musicaram o Pai-Nosso.

Fonte: Donizete Scardelai, pesquisador, doutor pela USP e professor de Teologia na PUC-Campinas

*Com matéria publicada em 23/03/2023

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