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Corpo de Santa Rita de Cássia está 'incorrupto' há 500 anos; o que explica?

18.out.2015 - Relicário com o corpo mumificado de Santa Rita de Cássia Imagem: Carlo Raso/Flickr

Do UOL, em São Paulo

22/05/2024 15h46

Nesta quarta-feira (22), os católicos celebram o dia de Santa Rita de Cássia. A santa italiana morreu em 1457, e seu corpo é tido como incorrupto até hoje - uma característica compartilhada por poucos outros santos.

O corpo de Santa Rita de Cássia

A religiosa possui uma particularidade rara no mundo católico: o chamado "corpo incorrupto". O fenômeno que acontece quando o corpo, inteiro ou de forma parcial, não se decompõe mesmo passado muito tempo da morte.

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Antes de ser beatificado pelo Papa Urbano 8º, em 16 de julho de 1627, o corpo de Rita de Cássia teria passado por um exame minucioso. A santa foi encontrada em perfeito estado, como no dia de sua morte, com a pele ainda mantendo sua cor natural. O que impressiona é que o corpo não havia sido devidamente sepultado por mais de 150 anos.

Há quem diga que, de fato, a carne não apodreceu. Outros vão dizer que uma proteção foi feita no corpo para que a carne não apodrecesse. A linha mais forte é que o corpo estaria, de fato, incorrupto, diz Dayvid da Silva, professor do curso de Teologia da PUC-SP.

De acordo com o historiador Leandro Faria de Souza, o fenômeno poderia ter sido responsável por "atrasar" a canonização — processo em que o status de santo é concedido a alguém. A italiana morreu em 1457 e foi beatificada em 1627. A canonização, ou seja, a "transformação" da beata Rita de Cássia em Santa Rita de Cássia aconteceu apenas em 1900. "Na minha opinião, a igreja sempre toma mais cuidado para canonizar um santo incorrupto. O motivo é para não cair em uma questão central da igreja que é a idolatria", defende Leandro.

Basílica de Santa Rita em Cássia, na Itália Imagem: LigaDue/Wikimedia Commons

Os restos mortais de Santa Rita de Cássia repousam em uma basílica em Cássia, na Itália. Parte do rosto foi levemente reparada com cera.

Além da preservação incomum, há relatos de cheiro de rosas no túmulo. A santa era ligada à flor por meio de um milagre: uma vez, uma rosa branca teria nascido do lugar onde ela costumava fazer suas orações.

O papa Bento 16 dizia que o fenômeno só poderia ser explicado como milagre. Na obra "La beatificazione dei servi di Dio e la canonizzazione dei beati" ("A beatificação dos servos de Deus e a canonização dos bem-aventurados", em português), o pontífice falou sobre a manifestação:

Que o corpo humano possa naturalmente não cheirar mal, é muito possível; mas que cheire bem está acima de suas forças naturais, como ensina a experiência. Por conseguinte, se o corpo humano, corrompido ou incorrupto, em putrefação ou sem ela [...], exala um odor suave, persistente, que não incomoda a ninguém, mas que parece agradável a todos, deve-se atribuí-lo a uma causa superior e deve pensar-se em um milagre.
Papa Bento 16

O que diz a religião sobre os corpos incorruptos?

No catolicismo, se um corpo é considerado incorrupto após a morte, isso é muitas vezes visto como um sinal de que o indivíduo é um santo. O direito canônico permite a inspeção do corpo para que as relíquias possam ser enviadas a Roma. Elas devem ser seladas com cera e o corpo deve ser recolocado após inspeção.

Essas inspeções são realizadas muito raramente. Elas só podem ser feitas por um bispo, de acordo com os requisitos do direito canônico, e uma comissão deve autorizar a inspeção das relíquias, seguida de um relatório.

Após a perícia solene das relíquias, pode-se decidir que o corpo seja apresentado em um relicário aberto e exposto para veneração. A lei católica também permite que os santos sejam enterrados sob o altar, para que a missa possa ser celebrada acima dos restos mortais.

O que diz a ciência

As condições de preservação de um corpo podem ser fatores na incorruptibilidade. Baixas temperaturas e ausência de oxigênio nos caixões são algumas das características que auxiliam na conservação do corpo, mesmo sem embasamento ou outra forma de mumificação.

Criptas, como as encontradas sob o solo de muitas igrejas europeias, são lugares apropriados para a ocorrência de mumificação de corpos. Isso ocorre porque esses locais cumprem vários desses requisitos: temperatura é baixa, em geral há boa ventilação, e as construções por cima as protegem da água.

A umidade "é a inimiga número um das múmias" e dos corpos incorruptos, explica o antropólogo italiano Dario Piombino-Mascali.

Outra explicação pode ser a adipocere. Também chamada de cera cadavérica, ela é uma substância parecida com cera que se forma quando a gordura dos tecidos, como o tecido adiposo de cadáveres, é quebrada por bactérias sem oxigênio. Em vez de apodrecer, o corpo ganha uma camada firme que protege e conserva os órgãos internos e os tecidos da face.

Quais outros santos são considerados incorruptos?

Alguns exemplos de figuras religiosas com corpos incorruptos, além de Santa Rita de Cássia, incluem:

  • São Francisco Xavier
  • São Vicente de Paulo
  • Santa Cecília
  • Carlo Acutis
  • Papa Pio V
  • Papa Pio X

* Com informações de reportagens publicadas em 14/06/2017 e 22/05/2023.

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