Pintor espanhol

Pablo Picasso

25/10/1881, Málaga, Espanha<br>08/04/1973, Mougins, França​





Autor Antônio do Amaral Rocha*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação




  • Divulgação

A começar pelo estranhíssimo nome de registro, Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Martyr Patricio Clito, depois acrescidos de Ruíz y Picasso, derivados do pai e da mãe, ou simplesmente Pablo Picasso foi um dos artistas mais polêmicos e influentes da história da arte do século 20. Filho de Maria Picasso y Lopez e de José Ruiz y Blasco, também pintor naturalista, professor de arte na escola San Telmo de Málaga, especialista em retratar pássaros. Picasso nasceu do seio de uma família de classe média e de sua mãe pouco se sabe, a não ser o que está retratado no terno retrato dela feito por Picasso em 1923. Teve duas irmãs.

Começou a se interessar pela arte aos sete anos de idade, época que desenhava a lápis e recebia orientações de seu pai, que foi seu primeiro professor e o introduziu no uso da pintura a óleo.

Quando tinha 10 anos, sua família mudou-se para La Coruña e seu pai empregou-se como professor de arte em uma escola local, por 4 anos. Conta-se que José Ruiz ficou especialmente impressionado nessa época, quando se deparou com uma pintura inacabada de Picasso sobre o esboço de um pombo que fizera e considerou que este já o superava em talento, com 13 anos de idade.

Em 1895 a família mudou-se novamente, desta vez para Barcelona e Picasso se matriculou na Academia La Lonja. Nessa época foi exposta a primeira tela a óleo de sua autoria, em grandes dimensões (166 x 118 cm, Museu Picasso, Barcelona), denominada, "A Primeira Comunhão", de linhagem acadêmica, onde a modelo é Lola, sua irmã.

Em 1897 seu pai decidiu que deveria investir seriamente na carreira de pintor e o enviou a Madrid. Matriculou-se na Academia São Fernando, mas aí não ficou muito tempo, para desgosto de seu pai. Picasso considerava as orientações da academia muito conservadoras para o que pretendia e a abandona, mas aproveitou o seu tempo para constantes visitas ao Museu do Prado, especialmente para conhecer melhor as obras de El Greco, pintor maneirista, do final do Renascimento.

Inicialmente Picasso assinava as sua obras como "Pablo Ruiz Picasso", depois como "Pablo R. Picasso" e finalmente só "Picasso". Essa última maneira de assinar fez com que psicanalistas analisassem como sendo uma rejeição à figura paterna. Na realidade, ele passou a assinar pelo nome que era mais conhecido e chamado pelos amigos.

Nessa passagem por Madri, adoeceu de escarlatina e tem recomendação médica de ir para um lugar mais calmo a fim de se recuperar. Assim, voltou a Barcelona, e em seguida parte para um lugar chamado Horta de Sant Joan, onde tomou contato com a natureza primitiva e com as raízes espanholas. Mas aí também não ficou muito tempo e retornou a Barcelona, em 1899, e passou a frequentar os cafés onde se reuniam os artistas locais e a ter uma consciência política através da ideologia anarquista e da observação da pobreza reinante nos bairros pobres da cidade. Esse chamado "caldo cultural" começou a fazer parte da sua obra desse período que ainda não tinha se definido como um estilo próprio, que logo iria aparecer após sua visita a Paris.

Em 1900 viajou a Paris com o amigo e pintor Carlos Casagemas que conhecia das noitadas nos cafés de Barcelona. O motivo dessa viagem foi uma visita à Exposição Universal que exibia uma obra sua, chamada "Últimos Momentos".

Em Paris travou contato com o pintor Isidro Noel que conhecia de Barcelona. A obra desse artista somados ao trabalho de Toulouse-Lautrec influenciaram em grande medida a arte de Picasso nesse período e o que estaria por vir. Pode-se notar essa proximidade nas obras "La Espera (Margot)", "Bailarina Enana" y "El Final del Número", ambas de 1901. No fim de 1900 retornou a Barcelona, mas já sabe que não é na Espanha que quer viver. De 1901 a 1904 viaja da Espanha a França diversas até se fixar definitivamente em Paris.

Fases

A partir dessa época a história da arte começa a classificar a obra de Picasso por fases, e estas fases são caracterizadas pelas cores predominantes que marcam a transição de uma fase a outra.

Fase Azul: corresponde ao período de 1901 a 1904. Nesta fase Picasso retratou pessoas tristes e infelizes, com fortes traços de desespero, sempre com o predomínio da cor azul. Corresponde à época do suicídio de seu amigo Casagemas, que é retratado na tela "La Muerte de Casagemas" (1901). Nota-se neste período a influência de Van Gogh pela carga psicológica e emotiva que está impregnada nas telas e também de Paul Gauguin pelo uso reduzido do volume e uso de contornos.

Esta fase corresponde também à época que Picasso enfrentava dificuldades materiais. Estando em Paris sem dinheiro passou a viver na casa do poeta Max Jacob. Conta-se que a casa só possuía uma cama. Picasso dormia durante o dia, enquanto Max trabalhava e à noite Picasso trabalhava. Neste espaço e entre idas e vindas a Barcelona produziu "Autorretrato Azul" (1901) "La Vida", Las Dos Hermanas (1902), Pobres a Orillas del Mar (1903), El Viejo Guitarrista Ciego (1903), El Asceta (1903) e La Celestina (1904), retratando a solidão, a pobreza, os mendigos e os cegos.

Fase Rosa: Quando se apaixonou por Fernand Olivier, um dos muitos de seus amores, o trabalho de Picasso passou a refletir a cor da paixão e mudou para a cor rosa e avermelhado. Também refletem a alegria e otimismo, ausente na fase anterior, pois já estava estabelecido em Paris, distanciando-se da vida difícil do período anterior. Os personagens são acrobatas, dançarinos, arlequins, artistas de circo e o mundo do circo. Destaca-se "Saltimbanquis" . As características de Fernand são fonte de inspiração e aparecem nos rostos de diversas figuras femininas pintadas nesta fase, que vai de 1904 a 1906. Também há bastante ênfase no uso do traço e contorno.

Um momento transição ao cubismo, com aparente marca da arte africana se revelou nesse período com o retrato de Gertrud Stein pintado em 1906, que tem um rosto com aparência de máscara e que ficará mais nítido na famosa "Las Señoritas de Avignon" que é a primeira obra já cubista e que se tornaria com o passar do tempo um ícone representativo da arte moderna.

Picasso começa a ter vida social intensa em Paris e a se relacionar com importantes nomes de outras áreas, além das artes plásticas, como o escritor Guillaume Apollinaire. Nessa época iniciou a sua amizade com Matisse que durará a vida inteira. Mas é em co-autoria com Georges Braque que a fase seguinte, a cubista, ganha relevância.

O cubismo consistia em representar pessoas e figuras em formatos de triângulos, cubos e quadrados e buscava a geometria dos motivos representados. Tudo se reduzia a formas geométricas. Picasso monta a imagem em facetas múltiplas e deforma a realidade tal qual a conhecemos, criando figuras que causam estranhamento, como a representação de um face, por exemplo, uma metade frontal e outra metade de lado. Tenta-se representar no plano uma figura em três dimensões. Tem-se a ideia que o objeto representado pode ser apreciado em todas as sua faces, e todos os ângulos, de frente, de lado, por cima e por baixo, causando uma sensação de volume na superfície plana.

Costuma-se dividir o cubismo em duas fases e pela importância que teve vale a pena descrevê-los:

a) Cubismo analítico - a obra é desestruturada em todos os seus elementos. Em planos sucessivos e superpostos o artista registra as partes e procura mostrar a visão total da figura, que é fixada de todos os ângulos ao mesmo tempo. Predominam as cores em tons de castanho, cinza e bege.

b) Cubismo sintético - é uma reação à fase da excessiva fragmentação das formas. Se na fase anterior os objetos retratados quase se tornavam irreconhecíveis, agora se busca tornar novamente as figuras reconhecíveis. Passa a utilizar - além dos elementos tradicionais da representação pictórica, como a tinta - a colagem de letras, palavras, números, metal, recortes, produzindo uma tela cujos efeitos plásticos ultrapassavam as meras sensações visuais sugerindo ao observador sensações táteis e de volume.

A escola cubista teve muitos seguidores, e parte da crítica da estética da arte diria imitadores como Juan Gris, que realizou um no estilo cubista, "Retrato de Pablo Picasso" (1912), Francis Picabia, Robert Delaunay e Albert Gleizes.

A aventura cubista teve o seu fim durante a Primeira Guerra Mundial. No conflito, o seu grande amigo e parceiro Georges Braque foi gravemente ferido.

Em 1911 Picasso conheceu Marcelle Humbert, que se tornaria outra das marcantes mulheres de sua vida. Separa-se de Fernand e junta-se a Marcelle que ele passou a chamar de Eva, dando a entender que esse era o seu primeiro amor e passa a figurar como inspiração e modelo para suas telas. Essa relação durou até 1917, com a morte de Marcelle.

Picasso inaugurou uma nova fase de seu trabalho denominado "colagem", que se constituiu na utilização de materiais de uso cotidiano, como fotografias, recortes de jornais, madeira, couro, colados na superfície plana, compondo sentidos junto a pintura. Essa técnica apareceu pela primeira vez, em 1912, na tela "Naturaleza Muerta con Silla de Rejilla" e ainda se discute quem foi o inventor da técnica, que também foi praticada por Georges Braque.

Durante um breve período do ano de 1916 Picasso residiu em Roma, e lá através de Jean Cocteau foi apresentado ao grupo Ballets Russos. Cocteau estava escrevendo libretos para uma peça de Eric Satie e Picasso foi convidado a fazer cenários para esse espetáculo. Nesse período conheceu a bailarina Olga Koklova e com ela se casou, em 1918 em Paris, tendo um filho desse casamento - que duraria até 1935 - de nome Paulo. Nesse ano de 1918 participa de uma exposição com o amigo Matisse.

Picasso experimentou, nessa época, fama e reconhecimento popular, mas estava para mudar de rumo novamente, incorporando de forma bastante particular, elementos do Surrealismo em sua telas, pintando figuras disformes. O Surrealismo foi um movimento que abarcou todas as artes, como a literatura, a poesia, o cinema, o teatro e especificamente nas artes plásticas não tinha um código de conduta. Por isso pode parecer estranho comparar pintores tão díspares quanto Max Ernst, René Magritte, Salvador Dalí e Picasso. O que importa é que as visões simbólicas, metafísicas, estranhas, radicais, primitivas e irracionais se fazem presentes em todos eles e essas são as características básicas do Surrealismo.

Picasso começou a se relacionar com Marie Thérèse Walter, no meio da década de 30 que se transformou na sua nova musa. Com ela teve uma filha chamada Maia (1935). Nessa mesma época conheceu Dora Maar, outro de seus relacionamentos também retratados em sua pintura.

Guernica

Em 1936, durante a Guerra Civil Espanhola, aconteceu o bombardeio da cidade de Guernica, fato que horrorizou o mundo. Tocado pela indignação Picasso produziu a sua obra mais conhecida e divulgada até hoje, que simboliza a barbárie, o horror da guerra e a ira sentida por Picasso pela morte de inocentes, vítimas do bombardeio aéreo pela aviação nazista a pedido do ditador espanhol General Franco.

Até então, Picasso não era uma pessoa especialmente interessada em política (apesar do contato com o anarquismo de anos atrás), mas as atrocidades cometidas durante a Guerra Civil Espanhola mudaram a sua maneira de pensar e então passou a ser solidário com os republicanos que lutavam contra a ditadura franquista.

Guernica se transformou num símbolo de protesto e denúncia contra as atrocidades da guerra em qualquer tempo. Esta obra nas dimensões de 350 x 782 cm foi executada para ser exporta no pavilhão da República Espanhola, na Exposição Internacional de Paris de 1937 e encontra-se atualmente no Centro Nacional de Arte Rainha Sofia, em Madrid.

A consciência política adquirida por Picasso durante a vida até então, e o episódio de Guernica o transformou num militante político e durante a Segunda Guerra Mundial filiou-se ao Partido Comunista Francês. Com o final da guerra suas obras voltam a ter uma perspectiva otimista.

Novamente Picasso mudou de amores e em 1943 se relacionou com a artista Françoise Gilote e com ela teve dois filhos - Claude e Paloma. Essa relação terminou em 1953 e em 1961 ele casou-se novamente, desta vez com Jacqueline Roque.

Picasso experimentou a técnica da escultura em madeira e também a cerâmica. Estima-se que tenha produzido mais de 4.000 peças em cerâmica.

Como gravador, dominou as técnicas da água-forte, água-tinta, ponta-seca, litogravura e gravura sobre linóleo colorido, deixando uma obra gráfica respeitável, como a série de 347 gravuras produzidas em 1968, aos 87 anos de idade, com temas do circo, das touradas e das situações eróticas.

Considerado um dos maiores artistas do século 20, criou mais de 20.000 obras de arte utilizando variados meios de expressão, como as telas, cerâmicas, litografias, esculturas, murais, e em todas as técnicas que experimentou, deixou sua marca pessoal. Apesar de já ter enfrentado duas cirurgias - próstata e vesícula - e ter visão deficiente, trabalhou compulsivamente até a sua morte, ocorrida em 8 de abril 1973, em sua residência, em Mougins, na França, aos 91 anos de idade.

Antônio do Amaral Rocha*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
<b>*Antônio do Amaral Rocha</b> é jornalista, com estudos de pós-graduação em Literatura Brasileira e Cinema. Trabalha como editor, artista gráfico e resenhista, colaborador free-lance de diversas publicações em São Paulo

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